Ojai, Califórnia. Um lugar onde o sol nascente pinta as montanhas de um vermelho hipnótico. O escritor e filósofo Jiddu Krishnamurti viveu e morreu aqui. Ele escreveu, pensou, falou — não sobre respostas, mas sobre perguntas. Não sobre conforto, mas sobre desconstrução. Sempre me intrigou esse tipo de mente, a que se recusa a se enraizar.
Visitamos os jardins, imersos em silêncio e paz, como se as árvores recordassem as palestras que ali aconteceram. Depois fomos à Krishnamurti Foundation. Eles não cobram entrada. Não cobram nada, na verdade. Se quiser, você pode fazer doações ou comprar livros. E só.
Você entra, caminha, observa. Talvez seja isso o que esperam de você: que veja. O quarto onde ele morreu é agora um espaço para meditação, um lugar onde o tempo parece ter se imobilizado. Há algo desarmante em estar ali, parado, no mesmo chão onde alguém querido tomou seu último fôlego. A Fundação mantém as portas abertas — a sala, a biblioteca, os ambientes mais privados. Parece ao mesmo tempo generoso e desconcertante, perpetuando o espírito de Krishnamurti.
Caminhamos entre árvores carregadas de laranjas e romãs, o peso dos frutos vergando os galhos. Flores por toda parte, e um silêncio que parecia menos de ausência e mais de testemunha invisível. Foi nesse lugar, nesse estado de suspensão, que tomei uma decisão. Não algo planejado, mas inevitável. Talvez o silêncio tenha falado mais alto.
No caminho de volta, paramos em Santa Bárbara. O pôr do sol foi extraordinário, como se o universo tivesse decidido encenar sua própria versão de grandiosidade, apenas por capricho. Fiquei pensando nisso, na inclinação que temos de procurar sinais onde talvez só exista luz.
Foi um dia daqueles que você arquiva em algum lugar da memória. Não para reviver, mas para reexaminar, talvez nos momentos em que o resto da vida parece opaco. Não consigo evitar a sensação de que aquele dia, em particular, não foi apenas mais um. Alguma coisa ficou em mim. Algo pacificado e bom.