Ele pensou em dar à família um Natal diferente. Estava cansado de ver todo ano a mesma coisa: a parentada em volta da árvore, comendo e bebendo, depois a entrega dos presentes, e por fim a ceia. Sentia que, a despeito de a festa existir para renovar os espíritos, era preciso mudar um pouco o ritual.
Então lhe ocorreu a ideia: contratar um Papai Noel para vir, em pessoa, entregar os presentes. A família era pequena; dava para acomodar num saco os mimos que compraria para a esposa, os três filhos, os sogros e as duas cunhadas.
⏤ Mãe, é Papai Noel!
⏤ O quê?!
⏤ O quê?!
Bolado o plano, tratou de o pôr em prática. Não foi difícil contratar alguém. Nessa época muitos indivíduos com o chamado “físico do papel” dão seus nomes a agências de emprego,
Comprou os presentes e, na véspera do grande dia, deixou-os com o homem. Era um senhor grisalho, bonachão, conforme convinha à personagem. Até ria parecido com o ícone natalino, sem precisar forçar muito o “Rô Rô”. Chamava-se Leopoldo e tinha um Fiat velho, mas em bom estado, no qual levaria os pacotes.
Enfim, noite de Natal. Para diminuir a perplexidade dos parentes, que não compreendiam a ausência dos presentes em volta da árvore, ele disse que mais tarde haveria uma surpresa. Gerou-se uma tensa mas alegre expectativa, que só foi quebrada quando um carro parou quase em frente à casa.
⏤ Vieram de surpresa! Não pude fazer nada...
Tratou de tranquilizar o pobre homem e o conduziu ao interior da casa.
⏤ Este é Leopoldo – apresentou, explicando em seguida o que planejara.
E com isso em mente riram, deram um abraço no Bom Velhinho e o convidaram para a ceia.