É sempre uma grata surpresa quando nos deparamos com certas pessoas que espontaneamente esboçam um sorriso para nos cumprimentar com um “bom dia”, um “boa tarde”, pelos caminhos desta vida em que a indiferença cresce com o tamanho das cidades. Curiosamente, nas pequenas urbes, interioranas, as pessoas ainda se cortejam nos encontros descomprometidos, sobretudo ao acaso, não raro em saudações com semblante irradiado de bom humor.
Uma vez, em Patos, caminhamos por uma manhã ensolarada e dava gosto sentir o calor da cidade se juntar ao calor do afeto entre as pessoas que pareciam todas se conhecerem. A saudação começava no sorriso e se entoava na voz com a mesma alegria. Tão diferente de certas cidades do dito mundo civilizado onde um olhar pode ser ofensivo, invasivo, despertar até repúdio ou mesmo uma reação hostil…
Se as flores sorriem exalando poesia e esperança, sugerindo gratidão pelas bênçãos deste Universo fantástico, regido por leis perfeitas e imutáveis, porque nós também não aprendemos a sorrir para a vida, para as pessoas ao nosso redor? É tão agradável receber de alguém que passa um aceno, um olhar amoroso, ouvir um suave “bom dia”, tão mais comuns virem dos simples e humildes do que dos “chiques” e vaidosos.
Da mesma forma que vislumbramos os encantos da existência na chuva que cai, no amanhecer radioso, na lua que cintila, na brisa que afaga, há nas pessoas o brilho do ser, da intuição amorosa e vibrações de carinho. É só cultivá-las, buscá-las em si e nos outros, desarmando-se, desabrochando-se. Isto! É preciso aprender a desabrochar.
Há tantos que ignoram isto. Que preferem a rudeza, a distância, a redoma do orgulho e do individualismo.
Certa vez, ao entrar na reitoria da UFPB, acompanhado de nosso pai, onde íamos resolver assuntos de cadastro, nos deparamos no lobby com uma voz bem humorada que logo nos recebeu com um “Bom dia, meu bem!” Era uma funcionária da recepção. À qual respondemos no mesmo tom da primavera que brilhava lá fora,. Mais adiante, no corredor, comentei: “Como é bom receber um bom dia assim...”
Ao voltar, depois de resolvidas as burocracias, encontramos a moça que nos cumprimentara, na porta de entrada. Aproveitamos para elogiar a forma bem humorada de seu “bom dia, meu bem”!
Para nossa grande surpresa, ela disse: “Vocês sabiam que tem gente que não gosta de receber um bom dia?” “Como assim, Edna?” (era seu nome). “Pois é, um dia desses, cumprimentei uma senhora que entrou aqui, dizendo “bom dia, querida”, e ela veio a mim, bem perto, e perguntou: “Você me conhece de onde? Eu não gosto desse tipo de intimidade”.
Pois é, Edna, a natureza é assim... Há rosas, orquídeas, petúnias e dálias. Mas também há cactos, urtigas, palmas e muitos espinhos em certas flores, cada um com sua beleza, cada um com sua rudeza. Temos que aprender a lidar com tais diferenças, ter cuidado para não se ferir, principalmente a não ferir, e saber quando sacudir a poeira do chinelo… Sempre entendendo que cabe a cada um perfumar sua manhã com amor, ou manchá-la com a dor. Continue dando seu “bom dia, meu bem”. É lindo de ver e ainda mais de ouvir.