Para José Lins do Rego, nosso conterrâneo que deu voz à literatura praticada por autores do Nordeste, o alagoano Graciliano Ramos é o maior romancista do País. Na esteira dos grandes autores, sem dúvida que Graciliano ocupa lugar de destaque. Cada um com seu modo de escrever, a partir de Machado de Assis, passando por Guimarães Rosas, o próprio José Lins no meio-campo, e outros formando uma plêiade de destaque, mas o autor de “São Bernardo” é referência. Cada leitor tem seu gosto e opinião acerca do escritor preferido.
Três meses após conceder entrevista à Revista Manchete, Graciliano Ramos faleceu. As colocações dele à época deram a dimensão de um escritor que sabia conviver com as palavras e com os temas escolhidos para seus romances e contos. “Tenho um ponto de partida e outro de chegada. Na minha terra se diz: ‘Todo caminho dá na venda’. Eu sou assim: sei como começo e onde acabo”, afirmou.
Graciliano relegou o título de maior romancista brasileiro, atribuído pelo amigo paraibano e referendado pela crítica. Aos 60 anos, consagrado como autor de obras aprovadas e paparicado pelos leitores, achava-se um dos menores escritores. “Não tenho imaginação”. Apesar de não ter essa “tal imaginação”, ele produziu livros do quilate de “Vidas Secas” e “São Bernardo”. Seu reconhecimento a Tolstói superou o gosto por Dostoievski, Zola e Balzac. “Tolstói eu não considero apenas o maior dos russos: é o maior da humanidade”.
O autor de “Memórias de Cárcere” afirmou que a literatura estava atrelada à burguesia. Se o país está decadente, igualmente sua produção literária segue o mesmo rumo. Por isso os escritores brasileiros procuram fazer a chamada “literatura de fuga”, dizia ele.
Em nosso País poucas pessoas sobrevivem exclusivamente para escrever, mas exercem outras atividades profissionais – Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade, somente para citar estes, tinham atividades paralelas. Três mais próximos a nós, Gonzaga Rodrigues e Luís Augusto Crispim estiveram no serviço público desde cedo e Nathanael Alves trabalhava no Tribunal Regional Eleitoral, todos sempre atuando em jornais e produzindo crônicas de alto nível. Na resposta ao repórter da Manchete, Graciliano achava que o ideal seria o “escritor viver dedicando-se apenas a sua arte, estudar e aperfeiçoar-se”.
Se tarde publicou “Caetés”, livro que renegava, Graciliano disse que “o romance é tudo nesta vida”. Realmente, seus romances são o ponto alto da criação literária em nosso País. “O romance é uma forma superior de vida, assim como a arte, em geral, representa uma estratificação da vida humana”.
Para criar a literatura dos sonhos, o autor deve se voltar para a realidade de sua terra. Todos os livros de Graciliano estão centralizados no Nordeste, porque nesta região viveu sua mocidade, lugar onde conheceu as entranhas das realidades sociais e econômicas, e sentiu as dores do povo.
Ele ressaltou na entrevista que o escritor precisa ser revolucionário. Matutei para entender essa assertiva sobre o escritor ser revolucionário para produzir seus livros. Nas minhas dúvidas, como sempre procedo, recorro aos mestres Milton Marques Júnior e Hildeberto Barbosa Filho, entendidos no assunto de criação literária, certamente darão a resposta sobre o que é “o que é ser o escritor revolucionário? É aquele que revoluciona a forma de escrever ou se revela defensor das causas sociais?”. Tipo Machado de Assis, Guimarães Rosa, José Américo de Almeida, Augusto dos Anjos, para ficar com os da nossa terra.
Por reconhecer Tolstói como ícone do romance mundial, Graciliano afirmou que “romance é tudo nesta vida”. Essa paixão nele é revelada na incessante busca pela perfeição do romance, o modo como produziu literatura de alto nível. Escrevia com ardor, minucioso nos detalhes e feroz nos cortes do texto. Ele comparou a elaboração do texto ao que as lavadeiras de roupa de nosso interior costumam fazer. Tudo realizado com paciência. Primeiro retira a sujeira, bota no quarador, enxágua e bota novamente para sacar. No final, olha se ficou alguma sujeira. Estando alva, se dá por satisfeita.