Outro dia descobri que há na cidade um hospital veterinário para atender nossa bicharada. E não era nenhum puxadinho dessas clínicas ...

Os pets e nós, os velhinhos

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Outro dia descobri que há na cidade um hospital veterinário para atender nossa bicharada. E não era nenhum puxadinho dessas clínicas veterinárias que cobram o olho da cara para tirar um carrapato de algum totó de madame que apareça por lá. É sim, um hospital público com todas as modernidades para proporcionar bom atendimento aos pacientes e seus tutores. Aliás, bicho não tem mais dono, agora tem tutor. Não é chic? Tutor, vejam só!

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Hospital Veterinário Público de JP, Av. Santa Catarina, 661 - Bairro dos Estados ▪ Imagens: PMJP / Div.
Apreciei a iniciativa. A decisão deve ter partido de algum político que tem São Francisco de Assis em sua alma e resolveu assistir nossos bichinhos de estimação. Outro detalhe que venho observando é que bicho de estimação agora virou “pet”. Periquito é pet. Gato também é, assim como um porquinho-da-índia, um hamster ou até um peixinho. Ratinho branco de laboratório também está enquadrado nessa nova denominação. Imaginem os gatos, os cães. Esses dois últimos estão com a bola toda. Já cabrito...

Se você resolver criar um cabrito, um carneirinho, é bom já ir sabendo que aquilo que você está cuidando com todo amor e carinho não é pet. Segundo o senso comum (o que predomina hoje), você tem em casa um legítimo representante de nosso rebanho caprino, nada mais que isso.

Uma amiga minha, tem a filha estudando veterinária no Recife. Fim do ano passado, a moçoila trouxe de lá um porquinho, na verdade um mini porco. A garota havia encontrado um belo resultado de algum experimento genético a acreditou que poderia criar o animalzinho num apartamento lá no Bessa. Coitadinha, teve que levar correndo o bichinho de volta porque o pai ameaçou servir o Bastião (nome que o porquinho ganhou) à pururuca na ceia de Natal. Então, já viram que porco não é pet, nem o mini porco é.

Lembremos dos cães. Estão vivendo época de glória. Ninguém traz hoje no quintal um cachorro preso à corrente. O certo é que nós, os humanos, fomos percebendo a incrível capacidade que o cães têm de interagir conosco. Assim, da casinha no quintal, foram para dentro das nossas e acabaram se adaptando muito bem à essa nova moradia.


Lá em casa, passando pela “síndrome do ninho vazio”, quando nossas avezinhas ganharam o mundo e foram cuidar de suas vidas, só temos conosco o Fred, que tem nome de gente, mas não é gente. Na verdade é quase gente, sabido que só. Já adivinharam que Fred é um cão. O danado se acha. Tento mantê-lo nos seus limites. Tento, pois ele acha que o sofá da sala é dele e não meu. E vamos levando a vida.

Deixando um pouco os pets de lado, vamos aos idosos, aos velhinhos, turma na qual me enquadro meio que a contragosto. Coloquei os tiozinhos (horrível ser chamado de tiozinho!)
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A. Piacquadio
e os pets na mesma crônica porque numa escala de valores os pets são mais valorizados do que nós da confraria da bengala. E não é assim?. Já viram algum hospital exclusivo aos idosos?

Estamos, como dizem, mal na fita. Somos a sobra, o que é descartável. A única vantagem que vejo é no “cartão de idoso”, valioso instrumento para se ocupar aquela cobiçada vaga quando se pretende estacionar. Fora isso... Fila para idoso é vantagem? De jeito nenhum. Num banco deveria haver “filas para idosos”, isso mesmo, no plural, porque fila de idoso não anda. Já viram velho pagando conta? Tira um boleto da pasta e paga aquela conta. Guarda o recibo na mesma pasta e procura outro boleto. Demora, mas acha. Paga, Guarda o recibo e vai procurar o próximo... Então, para cada fila convencional, pelo menos três para nós velhinhos que gostamos de manter nossas contas em dia.

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A. Piacquadio
Agora o mais difícil mesmo é o que ouvi de um amigo, mais velho do que eu. O danado foi classificando a velhice em forma decrescente no aspecto cronológico. Explico. Segundo ele, velho dos cinquenta aos sessenta é um “velho-jovem”, pleno de vigor e saúde mental, cheio de planos e todo feliz da vida. Dos sessenta aos setenta, é um “velho-adolescente”, abusado, acha que sabe tudo e o que é pior, pensa que está assim de mulher querendo ficar com ele. Dos setenta aos oitenta é um “velho-pré-adolescente”, desobediente, lê revista de mulher pelada escondido no banheiro, come escondido doces antes das refeições e finge que não ouve quando falam com ele (algumas vezes, não ouve mesmo). O velho acima dos oitenta é o “velho-criancinha”, já acho melhor aqui não entrar nos detalhes.

Tudo isso, meus amigos e amigas, só para uma breve reflexão para entendermos no mundo de hoje, onde estão os velhos e onde estão os pets. Dá uma tristeza...

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  1. Excelente crônica compadre e muita verdade na escrita .
    Parabéns

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