Na Teoria da História a narrativa de Aristóteles e sua “Poética”, está pronta para o embate ao lado dos poetas. O filósofo grego afirmava: “a poesia é mais filosófica e profunda que a história, pois, enquanto a história trata do que aconteceu, a poesia trata do que pode acontecer”.
O grande poeta Antônio Cícero, membro da academia brasileira de letras, escolheu viver poeticamente, e tanto escreveu que decidiu não mais viver se não o pudesse ser com dignidade, e também morrer assim.
Vários poemas seus fazem parte de importantes antologias, tanto no Brasil quanto em Portugal, na Espanha e no México, entre as quais os cem melhores poemas brasileiros do século XX (Rio de Janeiro: Objetiva, 2001), organizada por Ítalo Moriconi. O famoso poema chamado "guardar", descreve que esse ato é de fato real, mas se for vivido, e não lacrado em cofre.
Foi escrito assim:
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
Antônio foi um poeta da MPB, e compôs para sua irmã Marina Lima, para Maria Bethânia, Zizi Possi, entre outros.
Ele ajudou a erguer a canção popular como uma representação da arte brasileira no século XX. Seus ensaios e poemas tinham um equilíbrio eficiente entre a filosofia e o lirismo, que o acompanhou até pouco tempo antes de partir dessa para uma melhor. Sua vida se tornou insuportável, pois, não conseguia mais escrever e se concentrar para leitura.
Ele nos lembrou que "As coisas não precisam de voce", e que "O Hotel Marina quando acende/não é por nós dois", "Viva o prazer,/ o som/ o estrondo de uma onda na rebentação".
Cícero disse que a convivência com ele era um permanente aprendizado.