O salário do escritor é o reconhecimento do leitor ou, na íntima relação com sua arte, sentir o alimento que nutre com alegria os momentos supremos na hora da criação, ver a obra ganhar corpo, e estar nas mãos das pessoas e nas bibliotecas. Outro gesto não há para superar a alegria que nos dá o ato de escrever.
Gonzaga Rodrigues, isento de apresentação, foi brotado no barro vermelho de Alagoa Nova, que produz boa cana, certamente muitas louvações à terra e ao homem ele registrou em setenta anos produzindo crônicas, conquistou leitores anônimos ou revelados na amizade.
Gonzaga Rodrigues Antônio David Diniz
O leitor Jeová, de Sergipe, possibilitou a Gonzaga reviver com intensa alegria esse contentamento quando, depois de encontrar nas redes sociais o cronista paraibano, de forma elegante, agradeceu pela referência deste ao sergipano Genolino Amado, em crônica publicada em abril.
“Não aderi a sua terra apenas com a leitura benfazeja de Genolino. Ele foi aperitivo para toda a vida”.
De forma confessional, acrescenta:
“Depois tornei-me sergipano dos pardos não só com Gilberto Amado como sobretudo com Manuel Bonfim, com quem Silvio Romero discordava, fisgado pelo germanismo que dominou a Historiografia na sua época”.
Gonzaga Rodrigues Antônio David Diniz
Gonzaga – Luiz Gonzaga Rodrigues – foi modelado na mistura de boas maneiras e na bondade reveladas à sombra do que restou de Padre Ibiapina na Casa de Caridade, em Alagoa Nova, onde sua mãe Antonina recolheu boas maneiras de acolher as pessoas, com oração e caridade.
Ao peso das nove décadas de vida, vejo Gonzaga andando igual a um pastor com os olhos no chão, como sempre caminhou, seja ao tempo quando morou na terra onde nasceu, na rápida passagem por Campina Grande e, a partir de 1951, em João Pessoa, cidade que carrega na palma da mão, conhece suas ruas e seu passado. Ele conhece o sentimento de sua gente e o imperceptível chuvisco das chuvas, sobre os quais escreve com elegância e paixão, então, o reconhecimento do leitor, sobretudo desconhecido, vivendo distante, chega como salário que a inflação não desgasta.
Gonzaga Rodrigues Antônio David Diniz
Quem age dessa maneira, com elevada afeição à terra e às artes, conquista a admiração de seus patrícios e de dos que, atingidos pela expansão da voz pelas redes de comunicação, sobretudo pelo livro, tem o reconhecimento de além fronteiras. Ganhar um leitor, é o maior salário do escritor.