Quando se faz uma lista com os principais compositores da música erudita do Brasil, nascidos no século passado, é indispensável...

O Maestro perseguido

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Quando se faz uma lista com os principais compositores da música erudita do Brasil, nascidos no século passado, é indispensável que na relação apareçam os nomes de Camargo Guarnieri, Cláudio Santoro, Edino Krieger, Guerra Peixe, Marlos Nobre, Radamés Gnattali, Osvaldo Lacerda, Gilberto Mendes, Alceo Bocchino, Almeida Prado e o do paraibano José Siqueira que, para o musicólogo Vasco Mariz, “foi um dos nossos melhores compositores orquestrais”.

Imagens: Wikimedia
Autor de uma extensa obra que inclui ópera, balé, cantatas, peças sinfônicas e de câmara, “tudo vazado em uma linguagem nacionalista com teor nordestino”, conforme a afirmação do maestro Julio Medaglia, o paraibano José Siqueira não se limitou apenas à composição. Siqueira foi professor catedrático na Escola Nacional de Música, publicou várias obras teóricas e teve uma intensa atividade como maestro regendo importantes orquestras por todo o mundo.

Mas, se as atuações de José Siqueira como compositor, professor e regente já não bastassem para incluí-lo entre os principais nomes da música do Brasil no século 20, poderia se acrescentar que ele foi o líder que,
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Jornal O Norte, João Pessoa, edição de 5 de agosto de 1952 ▪ Acervo FRB
durante algumas décadas, animou o movimento musical brasileiro. Foi o fundador, em 1940, da Orquestra Sinfônica Brasileira, da União dos Músicos do Brasil e, em 1967, o criador da Orquestra de Câmara do Brasil e por sua iniciativa foi realizado naquele ano, no Rio de Janeiro, o primeiro Congresso Nacional de Música. Além do mais, José Siqueira foi o maior responsável pela organização da atividade dos profissionais da música no país, com a criação da Ordem dos Músicos do Brasil. A ação de José Siqueira também se estendeu pelos Estados. Na Paraíba, em 1952, ele foi encarregado pelo então governador José Américo de Almeida de apresentar um plano de reestruturação musical para instituições da capital do Estado, que previa a contratação de 12 professores de música para atuarem conjuntamente na Orquestra Sinfônica, no Conservatório e na Rádio Tabajara, conforme notícia que foi publicada em destaque no jornal O Norte.

O percurso biográfico de José Siqueira, desde os sertões paraibanos até os primeiros anos da década de 1960, foi descrito pelo escritor Joaquim Ribeiro, amigo íntimo do compositor paraibano, no livro Maestro José Siqueira o artista e o líder (Edição do autor, Rio de Janeiro, 1963). Joaquim Ribeiro, filho do escritor João Ribeiro, era um respeitado folclorista e historiador. É coautor com José Honório Rodrigues de uma obra clássica: Civilização Holandesa no Brasil que obteve, em 1940, o Prêmio de Erudição da Academia Brasileira de Letras.

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Joaquim Ribeiro (1907—1964), autor de "Maestro José Siqueira o artista e o líder" e coator de "Civilização Holandesa no Brasil". ▪ Imagens: Mlivre + Prof. Feijó.
José Siqueira nasceu em 1907, em Conceição, no alto sertão da Paraíba, em uma família numerosa. Seu pai era uma pessoa com certa influência na cidade, onde atuava como político, rábula e também como mestre de uma banda de música local. Desde criança José Siqueira já demonstrava impressionante aptidão para a música e, ainda menino, começou a tocar na banda regida pelo seu pai influenciado pelo seu irmão mais velho João Batista que anos depois, conhecido como Batista Siqueira, se tornaria um dos mais destacados musicólogos do país e um renomado compositor erudito.
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José Siqueira, na década de 1920.
José Siqueira embora tocasse todos os instrumentos na banda de Conceição, destacava-se com o trompete (que na época era chamado de piston).

Quando José Siqueira tinha catorze anos, seu pai faleceu. Os filhos homens tiveram que assumir a responsabilidade pelo sustento da família e, como alguns eram músicos, foram buscar oportunidades de trabalho em outros lugares. Apesar da sua pouca idade, a fama de José Siqueira como instrumentista fez com ele fosse convidado para ser o maestro da banda da vizinha cidade de Bonito de Santa Fé. Passou pouco tempo por lá, depois foi para Cajazeiras e em seguida para Patos (onde João Batista era mestre da banda e outro irmão tocava clarinete). Convidado pelo afamado coronel José Pereira, chefe político de Princesa, foi tocar na banda da cidade. Após três anos de vida itinerante pelo interior, José Siqueira resolveu ir para a capital do Estado, pois como escreveu Joaquim Ribeiro, “o sertão já lhe parecia pequeno demais para as suas aspirações”.

José Siqueira tinha 18 anos quando chegou à então chamada Cidade da Paraíba, resolveu se apresentar como voluntário no 22º Batalhão de Caçadores, e conforme as suas próprias palavras, “ia dar um jeito na vida. Ficaria como músico daquela unidade para prosseguir meus estudos. Mas tudo não passou de uma ilusão. Não me deixaram sossegar”.
Juarez Távora (1898—1975)
Siqueira foi admitido como 1º trompetista da Banda de Música do Batalhão, mas quando só tinha dois meses de farda a tropa da Paraíba foi enviada para o Maranhão para combater a coluna revolucionária comandada pelo capitão Luiz Carlos Prestes. Vinte anos depois do ocorrido, José Siqueira deu uma entrevista ao jornalista e escritor R. de Magalhães Junior que é um dos raríssimos relatos que existem de um simples soldado das forças do governo que combateram a Coluna Prestes. Dentre os fatos narrados pelo compositor está aquele da sua designação para servir de sentinela de Juarez Távora, um dos líderes da Coluna, que havia sido aprisionado pela tropa legalista: “Juarez foi trazido para São Luiz e eu tive a honra de ficar como sentinela à porta da sua prisão”. José Siqueira dá um depoimento bastante esclarecedor sobre a perseguição aos revoltosos que era empreendida pelos soldados governistas:

“Tenho a impressão de que havia uma certa moleza intencional nessas perseguições a Luiz Carlos Prestes e à sua coluna. Ou havia uma certa indústria, nesse serviço à legalidade, ou os que perseguiam a coluna queriam apenas persegui-la em nome sem correr nenhuma espécie de perigo.”
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Coluna Prestes / Líderes revolucionários: (1) Djalma Dutra; (2) Antonio Siqueira Campos; (3) Luiz Carlos Prestes; (4) Miguel Costa; (5) Juarez Távora; (6) João Alberto Barros; (7) Oswaldo Cordeiro de Farias; (8) Ítalo Landucci; (9) Rufino Corrêa; 10. Sady Machado; (11) Manoel de Lyra; (12) Nelson de Souza; (13) Ary Freire; (14) Paulo Kruger da Cunha Cruz; (15) João Pedro; (16) Emigdio Miranda; (17) Athanagildo França e (18) José Pinheiro Machado. ▪ Fonte: Wikimedia
Durante o tempo em que durou a expedição contra a Coluna Prestes, José Siqueira não deixou de estudar: “às vezes mesmo ao pé das fogueiras, sob o céu estrelado. Havia colegas que queriam ridicularizar a minha mania, ao me verem agarrado aos tratados de Harmonia e Teoria”. Ao dar baixa do exército, o soldado tinha direito a uma passagem para o local que quisesse. José Siqueira escolheu o Rio de Janeiro: “Estava disposto a tocar nos cinemas, enquanto fazia o meu curso regular na Escola Nacional de Música”. Mas, ao chegar ao Rio, Siqueira percebeu que a novidade do cinema falado acabaria com o trabalho dos músicos que atuavam nas salas de exibição e, mais uma vez, o trompete resolveu a sua situação: “soube que fora criada uma banda para concertos na Escola Militar e fiz concurso, sendo aceito como músico”.

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Escola Militar do Rio de Janeiro, no inicio do século XX. ▪ Fonte: MLivre
O compositor paraibano reconhecia a importância do Exército para a sua vida: “Devo muito ao Exército, porque foi graças às facilidades que tive, como músico de primeira classe da Banda da Escola Militar, que pude completar os meus estudos”. José Siqueira começou a fazer o curso secundário ao mesmo tempo que ingressava no antigo Instituto Nacional de Música. Em 1934, por ter feito todo o curso com distinção, passou a regente interino da instituição e continuou com a sua ascensão acadêmica, conforme o seu próprio relato: “Em 1935, fiz concurso para livre docente de três cadeiras logrando
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Correio da Manhã, edição de 27 de junho de 1934 ▪ Fonte: Biblioteca Nacional
ser aprovado com distinção em todas. Em 1937, obtive por concurso o cargo de professor catedrático de Harmonia”.

Em 25 de junho de 1934, no salão do Instituto Nacional de Música, José Siqueira estreava como compositor erudito. Conforme matéria publicada no jornal Correio da Manhã, a apresentação contou com a presença de vários conterrâneos do maestro, entre eles José Américo de Almeida, ministro da Viação e Obras Públicas do governo de Getúlio Vargas. Na ocasião, foi lida uma mensagem do maestro Francisco Braga (autor do Hino à Bandeira) na qual o antigo mestre de Siqueira realçava as qualidades do filho de Conceição do Piancó: “Que não se trata de uma esperança e sim de uma affirmação [...] o bello artista, orgulho da classe de composição do nosso Instituto de Musica”.

Ao mesmo tempo que ia se afirmando como compositor, José Siqueira conquistava uma posição de liderança no meio musical do Rio de Janeiro. No início da década de 1930, Siqueira criara a Orquestra Euterpe que, segundo Joaquim Ribeiro, foi a primeira a se apresentar em uma emissora de rádio no Rio de Janeiro
e que na parte vocal contava com a soprano Alice Ribeiro, que se tornaria uma das principais cantoras líricas do país e com quem o compositor paraibano se casaria em 1939. José Siqueira, nas conversas com o seu amigo e biógrafo, sempre manifestava a intenção de fundar no Brasil uma Orquestra Sinfônica que fosse ao encontro do povo, dos estudantes. Dizia: “Ainda hei de fundar uma Sinfônica que não seja apenas para espectadores privilegiados. [...] Você há de ver, Joaquim, como hei de realizar o que desejo [...] O que necessito é apenas uma oportunidade”. E a oportunidade, enfim, surgiu.

Em 1940, o maestro Arturo Toscanini veio ao Rio de Janeiro para dois concertos à frente da orquestra norte-americana da NBC. Fora no Rio que, em 1886, Toscanini então um jovem violoncelista de 19 anos, em razão da demissão do maestro Leopoldo Miguez, empunhara pela primeira vez a batuta para conduzir uma orquestra. Voltava pela segunda vez à cidade, 54 anos depois, como o mais importante regente da época.
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Arturo Toscanini ▪ 1867—1957
Os concertos de Toscanini foram apoteóticos. Para um jornal carioca, as apresentações fizeram na cidade “uma verdadeira revolução, enchendo todo o Theatro Municipal, cujas localidades foram antecipadamente adquiridas, e que viu ainda o espectaculo de milhares de pessoas agarradas ao radio emquanto se realizava uma exhibição onde não houve logar para todos, e a que muitos não puderam assistir pelo custo elevado das entradas”.

Aproveitando o ambiente favorável à música clássica que fora criado no Rio de Janeiro pelos concertos de Toscanini e sabendo que estava morando na cidade o regente húngaro Eugen Szenkar, que havia fugido da guerra na Europa, José Siqueira resolveu por em prática o seu antigo plano de criar uma Sinfônica. Reuniu 104 músicos e constituiu uma sociedade civil sem fins lucrativos na qual as cotas individuais dos músicos totalizavam 51% do capital integralizado, o que garantia o controle da orquestra pelos seus componentes. E assim nasceu a Orquestra Sinfônica Brasileira.

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O maestro José Siqueira à frente da primeira reunião pública para a subscrição de ações da Orquestra Sinfônica Brasileira. ▪ Imagens: OSB História
Em 1944, José Siqueira, já como um dos mais importantes maestros do Brasil, inicia pelos Estados Unidos as suas viagens internacionais. Regeu as Orquestras da Filadélfia, de Detroit e da Juilliard School of Music, de Nova York. Estende a viagem ao Canadá onde se apresentou regendo uma Orquestra Sinfônica em Montreal. Em 1953, José Siqueira decide ir para Paris. Ao mesmo tempo que cursava musicologia na Sorbonne e se aperfeiçoava em composição e regência no Conservatório da cidade, Siqueira regia orquestras sinfônicas em cidades por toda a Europa: Florença, Roma, Lisboa, Porto, Londres, Paris, Varsóvia e Moscou foram algumas delas.

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O maestro em apresentações nas década de 1950 e 1960 ▪ Imagens: facebook Maestro José Siqueira.
Como já mencionado, além da criação da Orquestra Sinfônica Brasileira, outra importantíssima iniciativa que teve a fundamental participação de José Siqueira para torná-la viável foi a da regulamentação da profissão de músico no Brasil. No final de 1960, após uma intensa articulação
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Algumas das obras fonográficas com a participação de José Siqueira. ▪ Fonte: DiscoGS
de Siqueira, o presidente Juscelino Kubitschek assinou a lei que criou a Ordem dos Músicos do Brasil. José Siqueira foi escolhido como o primeiro presidente do Conselho Federal da OMB, órgão máximo da autarquia que objetivava a regulamentação e a fiscalização profissional. Os primeiros tempos da Ordem dos Músicos não foram fáceis. Compositores já famosos se negavam a cumprir as regras para o exercício profissional, como foi o caso de Ary Barroso. As sociedades arrecadadoras de direitos autorais também mostraram resistências para se enquadrarem à nova legislação, mas, ao final, acabaram firmando um acordo com a OMB que contou com a mediação do paraibano Fernando Nóbrega, ministro do Tribunal Superior do Trabalho.

Em 1963, José Siqueira havia alcançado uma posição de tal destaque no ambiente musical brasileiro a merecer as palavras que foram escritas por Eurico Nogueira França, crítico de música erudita do Correio da Manhã, ao comentar um concerto realizado no Rio de Janeiro comemorativo da estreia de Siqueira como compositor:

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Eurico França
“Personalidade que se dedica com idêntico e fecundo entusiasmo à composição, ao ensino, e à organização de atividades da vida musical, presidindo durante anos à nossa então maior entidade do gênero, a Orquestra Sinfônica Brasileira, que ajudou a fundar, o maestro José Siqueira vê passar agora o trigésimo aniversário da sua estreia nas lides da criação da música.

Serão essas lides inseparáveis, na sua figura, daquelas outras em que se multiplica, ensinando, promovendo séries de concertos, ou liderando, como faz agora, a classe musical brasileira – tão difícil de liderar pelos dissolventes fermentos que traz consigo – ao lhe conferir um estatuto social: o da Ordem dos Músicos do Brasil, de quem se tornou o primeiro presidente.”

No ano seguinte, tudo mudaria. O golpe militar que, em abril de 1964, depôs o Presidente João Goulart atingiu de forma violenta o maestro paraibano. Em um dos primeiros atos do novo regime foi decretada a intervenção na Ordem dos Músicos do Brasil. Em outubro do mesmo ano, o nome de José Siqueira se encontrava em uma lista de punições do governo militar (na qual figurava também o antropólogo Darcy Ribeiro), afastando-o definitivamente da direção da Ordem dos Músicos. A partir daí, o nome de Siqueira foi pouco a pouco deixando as páginas dos jornais que traziam matérias sobre música erudita e sendo transferido para os relatórios preparados pelos “arapongas” do mal afamado Serviço Nacional de Informações – SNI. Como no samba de Chico Buarque, José Siqueira passou a ser considerado “subversivo, elemento ativo, feroz e nocivo ao bem-estar comum” pela prática de atos que poderiam até ser risíveis, se não fossem trágicos, como se pode constatar pelos “gravíssimos atos comunistas” praticados por Siqueira que foram colocados em relatórios do SNI e que estão atualmente disponíveis no Arquivo Nacional:

“— Assinou o “Apelo de Estocolmo”, exigindo a proibição da bomba atômica. — Compareceu ao jantar oferecido a Oscar Niemeyer por este haver recebido o prêmio Lenine da Paz. — Compareceu a ‘cocktail’ oferecido por Andrey Fomim, Embaixador soviético. — Enviou condolências à Embaixada da URSS pela morte dos cosmonautas soviéticos. — A Rádio de Moscou, na sua transmissão em português [...] anunciou que a editora soviética ‘Música’ publicou uma coletânea de peças de piano do nominado, além de seus estudos sobre teoria da música, traduzido (sic) para o russo.”

Com a edição do AI-5 no final de 1968, a ditadura deixava de ser “envergonhada” e passava a ser “escancarada”, conforme os títulos que o jornalista Elio Gaspari deu a dois livros que escreveu sobre o período. Em abril de 1969,
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Ato de destituição do maestro José Siqueira do cargo de professor da UFRJ, emitido por autoridades militares.
José Siqueira foi destituído da sua cátedra na UFRJ, incluído em uma lista de 44 professores afastados das universidades, na qual estavam os físicos Jaime Tiommo e José Leite Lopes, os sociólogos Florestan Fernandes e Bolívar Lamounier, a historiadora Maria Yeda Linhares, dentre outros nomes. Mas, a perseguição ao maestro Siqueira não parou por aí. Em setembro de 1969, o ministro do Exército, o general paraibano Lyra Tavares, dava seguimento a um processo que resultaria na suspensão dos direitos políticos de José Siqueira pelo prazo de 10 anos. A perseguição a José Siqueira chegava ao ponto de haver recomendações, pelo menos de forma velada, para proibir a sua presença nas dependências do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o que pode se deduzir por um relatório do SNI no qual está registrado que ele “estava frequentando normalmente” o local.

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Documentos que registram a perseguição política ao maestro José Siqueira no final da década de 1960.
José Siqueira não conseguiu viver os novos tempos da redemocratização no Brasil. Faleceu no Rio de Janeiro, em 22 de abril de 1985, no dia seguinte ao da morte de Tancredo Neves. As perseguições que ele sofreu durante a ditadura militar foram, durante muitos anos, esquecidas. Para que se tenha uma ideia desse “esquecimento”, em 2000 José Siqueira foi incluído na série Nomes do Século publicada pela Editora A União. O autor da obra referente a Siqueira, um opúsculo de 20 páginas de texto, não fez nenhuma menção à situação vivida pelo maestro paraibano durante o governo ditatorial, o máximo que conseguiu escrever relacionado com o assunto foi que José Siqueira tinha “acentuadas posições progressistas”.

Trailer do documentário Toada para José Siqueira.

Só recentemente, surgiram iniciativas para resgatar esse período histórico na biografia do compositor paraibano. Toada para José Siqueira, um documentário de longa duração, dirigido por Eduardo Consonni e Rodrigo Marques, foi lançado em 2022. Está em curso na Fundação Casa de José Américo – FCJA um projeto de pesquisa sobre José Siqueira e, no segundo semestre de 2024, a Rádio Tabajara, em parceria com o Memorial da Democracia da Paraíba e o Comitê Paraibano Memória, Verdade e Justiça, lançou um episódio de podcast sobre José Siqueira. A excelente publicação digital, que está disponível nas plataformas streaming, foi conduzida pelo professor Carmélio Reynaldo e teve a participação da professora da UFPB Josélia Vieira e da pesquisadora da FCJA Fernanda Rocha.

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Fernanda Rocha
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Josélia Vieira
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Carmélio Reynaldo


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  1. Mais um excelente artigo de sua lavra. Aplausos. E vendo a "periculosidade" do abaixo-assinado contra a bomba atômica e a perseguição a José Siqueira, a cada dia descubro que o nível de idiotice da ditadura e dos seus apaniguados aumenta.

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  2. Homens comuns passam pela história sem afetá-la e sem que a história os incomode. Homens extraordinários não só alteram o processo histórico como são caçados e cassados pelos donos do poder e da história. Um exemplo concreto de um cidadão dessa espécie é o que nos revela o seu artigo. José Siqueira alterou a história do seu tempo, como músico e como cidadão, não se contentando com os avanços na partitura e invadindo a práxis da regularização dos direitos dos músicos. Por sua vez, os ditadores de plantão, na sua psicose anticomunista, atropelam o processo histórico, invadem a vida do músico, paralisando não só o grande compositor como também as possibilidades de expansão da própria produção musical do país.
    Você, que vê o processo histórico como um todo, não nos priva do lado negro da história e nos mostra a interferência cega, equivocada e psicopata da ditadura na vida de um grande artista e cidadão de bem. E você, na melhor linha da história, revela tudo isso com documentos, não com suposições ou disse-me-disse.
    Num momento como esse , em que há muito gado e muito jumento defendendo golpes de estado e ditaduras (desde que sejam de direita) é mais do que oportuno um retrato como esse, que resgata um ilustre paraibano esquecido e mostra a violência e a estupidez da nossa ditadura tupiniquim.

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  3. JOSE MARIO ESPINOLA30/12/24 23:45

    O comentarista acima, lamentavelmente anônimo, explicita o clima de imbecilidade que toma conta de uma nação, quando submetida a um regime ditatorial, seja de esquerda, como o chavismo, seja de direita, como o fascismo burro que estão tentando implantar no mundo, em especial no Brasil, como vimos nos anos recentes.
    Peço desculpas prlo pleonsma: todo fascismo é burro!
    Flávio Brito todas as semanas nos enriquece com o resgate da memória, em especial de paraibanos, sempre enriquecido por documentos inimagináveis!
    Vá em frente, Flávio. Somos seus leitores fiés!

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