POEMAS DO LIVRO “A arte do Zero” (Editora Arribaçã – 2021)   Quo Vadis Sou um devoto de pernas tortas, um desequilíbrio me p...

O Estalo da Palavra (XXIV)

poesia capixaba espirito-santense jorge elias neto

POEMAS DO LIVRO “A arte do Zero”
(Editora Arribaçã – 2021)


 
Quo Vadis
Sou um devoto de pernas tortas, um desequilíbrio me preenche, uma crença na embriaguez (Um tom de cor que não percebem os olhos claustrofóbicos) Conforme os cartazes, não existo, uma impossibilidade me percorre como um sangue incolor Em meu Mundo de quimeras, o que late e abana o rabo tem nome de homem Desta terra que piso, onde cumpro meu rumo de desassossego, sou pela ressaca dos mortos celebrando as partículas do esquecimento Sei rosnar, e isto me basta Meio copo de saliva e um soluço que parte minhas certezas sob os sóis - é o que resta Dos que ruminam as hóstias, eu guardo as sobras dos ossos para a liturgia da aridez de meu deserto Leio contente o que não entendo, pois é assim, na limitação, que existo e testemunho a aurora, e um certo mormaço que é onde me percebo como uma fera cativa E rogo ao ventre um retorno para o acaso abissal da inconsciência.


 
Ser Zero
Sei que sou do outono, tempo dos raios oblíquos, de um crepúsculo que faz crepitar os olhos dos loucos e germinar a melancolia dos suicidas.


 
O sol distorcido
Se bem me lembro, no jardim dos espelhos refugiava-se ̶ em gozo ̶ a alma. (Cada detentor desconhece o labirinto quando guiado pela soberba.) Se bem me lembro, um contorno de corpos desfeitos consumia ópio no horizonte possível. (O ócio desperta apenas as fendas dos lábios que mentem.) Se bem me lembro, o luar enternecia os errantes. (Não se contam os dias, não se contam as perdas; calou-se a ternura.) Se bem me lembro, ocorreu-nos um sorriso e uma flor roubada. (Essa mecha, esse sexo raspado, tem lábios que pedem monstros.) Se bem me lembro, abençoavam-se as frestas e as esmeraldas. (Sorteiam-se os cristais entre os desconhecidos que constroem fortalezas.) Se bem me lembro, existia um nome, e um conto de fadas. (A imagem roubou do silêncio o direito de estar só.) Bem que me lembro que nos olhávamos. E isso era tudo.


 
Imensidão
Letra miúda, essa, do tempo, caber o risco do vento o uivo, o eco, toda delicadeza dos voos dispersos e restar espaço para tantos sonhos na inocência de uma infância.


 
Diálogo com Milano
Os homens se perderam, eu me perdi, sou um deus da guerra Milano, sou um deus plácido e sua faca o corte e a ferrugem dos séculos.


O Zero, essa displicência dos afogados.


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