POEMAS DO LIVRO “A arte do Zero”
(Editora Arribaçã – 2021)
(Editora Arribaçã – 2021)
Cacos do Zero
Meus cacos ― grãos no deserto do sonho desfeito.
Meus cacos ― grãos no deserto do sonho desfeito.
Zero hora
Sou o princípio, não passagem. momento-prece dos ponteiros rendidos ao capricho do tempo.
Sou o princípio, não passagem. momento-prece dos ponteiros rendidos ao capricho do tempo.
O Zero como véu
Escolher entre a Língua ou o fogo do Apocalipse, o macio das coxas do outro, da gueixa, o sopro da Musa selvagem ─ essa devassa na encruzilhada da inocência ─ dizendo: (de)leite-se O assombro no manancial ─ morada da deusa parda, e sua vulva ─, açoite da Besta ― ruína do Pai Eterno Sinal da Cruz, saliva lúbrica, caninos, hóstia, e a doce culpa de quebrar as Tábuas do Profeta na remora das mãos, guardar o sêmen, remover o véu de cada aceta e ofertá-lo aos lábios dos famintos.
Escolher entre a Língua ou o fogo do Apocalipse, o macio das coxas do outro, da gueixa, o sopro da Musa selvagem ─ essa devassa na encruzilhada da inocência ─ dizendo: (de)leite-se O assombro no manancial ─ morada da deusa parda, e sua vulva ─, açoite da Besta ― ruína do Pai Eterno Sinal da Cruz, saliva lúbrica, caninos, hóstia, e a doce culpa de quebrar as Tábuas do Profeta na remora das mãos, guardar o sêmen, remover o véu de cada aceta e ofertá-lo aos lábios dos famintos.
Zero ovo
(Não se leva ao fogo O que se mostra extinto.) Zero é um recorte do ovo gorado. Impotência boiando sobre a lâmina d´agua. Ovo choco não conspira não é fruto é somente tara. Restos de um todo retido em marmórea casca. Rompido o maciço da cela o que desperta ̶ olfato – é a essência do nada.
(Não se leva ao fogo O que se mostra extinto.) Zero é um recorte do ovo gorado. Impotência boiando sobre a lâmina d´agua. Ovo choco não conspira não é fruto é somente tara. Restos de um todo retido em marmórea casca. Rompido o maciço da cela o que desperta ̶ olfato – é a essência do nada.
A distopia do Zero
O poema ̶ código binário ̶ no diagrama deixado preso ao tubo de ensaio do embrião congelado. Combinação espartana ̶ ZERO empalado pelo UM fálico.
O poema ̶ código binário ̶ no diagrama deixado preso ao tubo de ensaio do embrião congelado. Combinação espartana ̶ ZERO empalado pelo UM fálico.
A necessidade do Zero
As gotas se repartiam, e eram tantas as bocas, era tanta a espera. A concha das mãos guardava o vazio ̶ e éramos egoístas com nosso vazio. Só a língua cabia no reduto úmido tateando a escuridão na quiromancia da sobrevivência. (A máxima lucidez são estes tentáculos que te assombram.) Mediamos nosso triunfo por esse filete, dissipado em prisma de azuis, nos lábios deixados ao Pai Eterno.
As gotas se repartiam, e eram tantas as bocas, era tanta a espera. A concha das mãos guardava o vazio ̶ e éramos egoístas com nosso vazio. Só a língua cabia no reduto úmido tateando a escuridão na quiromancia da sobrevivência. (A máxima lucidez são estes tentáculos que te assombram.) Mediamos nosso triunfo por esse filete, dissipado em prisma de azuis, nos lábios deixados ao Pai Eterno.
Marco Zero
Avançamos desgarrados neste Tempo tardio. A partir daqui, se inicia o reino das ostras e dos desencantados. Recolhamos a vela — sudário santo — que há de ser lenço e manto aos que choram e perecem sobre as rochas. Somos a sobra do que tentamos ser, escambo entre a imensa ousadia e a boca dos Oceanos. Mares singramos, cerzindo rotas, fomentando esperança, e, no entanto, permaneceu o segredo das tempestades. As palavras náufragas, a insônia nas gáveas, a ironia da língua pátria a chamar de quilha o que sustenta a nau e a placidez das asas das gaivotas forjaram nossa humanidade. Desanoitece, Resta o sereno ? ̶ saudade da noite. Sobrevivemos aos infortúnios da consciência, a gema celeste descarrega em cada dorso o calor célere da descrença. Aprendemos que a maçã roubada foi a máxima fuga e que nos resta a paz da tormentosa arrelia.
Avançamos desgarrados neste Tempo tardio. A partir daqui, se inicia o reino das ostras e dos desencantados. Recolhamos a vela — sudário santo — que há de ser lenço e manto aos que choram e perecem sobre as rochas. Somos a sobra do que tentamos ser, escambo entre a imensa ousadia e a boca dos Oceanos. Mares singramos, cerzindo rotas, fomentando esperança, e, no entanto, permaneceu o segredo das tempestades. As palavras náufragas, a insônia nas gáveas, a ironia da língua pátria a chamar de quilha o que sustenta a nau e a placidez das asas das gaivotas forjaram nossa humanidade. Desanoitece, Resta o sereno ? ̶ saudade da noite. Sobrevivemos aos infortúnios da consciência, a gema celeste descarrega em cada dorso o calor célere da descrença. Aprendemos que a maçã roubada foi a máxima fuga e que nos resta a paz da tormentosa arrelia.
A medida do Zero
O Zero, esse milagre de pertencer ao nada, caminho de retorno à casamata paterna, Um havia, como se houvesse um já ter sido, um repetir o jamais lido, pois já são outros pés sobre as pegadas, e é um outro tesouro que se busca em cada volta e uma porta não cabe no desmedido.
O Zero, esse milagre de pertencer ao nada, caminho de retorno à casamata paterna, Um havia, como se houvesse um já ter sido, um repetir o jamais lido, pois já são outros pés sobre as pegadas, e é um outro tesouro que se busca em cada volta e uma porta não cabe no desmedido.