Enrico Fubini, musicólogo italiano nascido em 1935, em seu livro Estética da Música, publicado em 2019, sustenta a tese: “O modo de sentir e fazer música se modifica ao longo da história” (2015, p. 16-17). Para o autor, a atividade do músico exige anos de aperfeiçoamento com o objetivo de adquirir a técnica precisa de interpretação, capaz de impactar o senso crítico e estimular a sensibilidade no comportamento humano.
A partir dessa perspectiva, ele reflete sobre a linguagem musical em determinada situação histórica por meio de sua relação com as Ciências Humanas, como a filosofia, a sociologia e outras disciplinas afins. Fubini defende que articular a funcionalidade da música com outros campos do saber é essencial para desembrutecer o ser humano. Esse argumento está fundamentado em diversas obras do filósofo grego Platão (428 a.C. - 347 a.C.). Entre elas, destacam-se: Fedro (escrito em 416 a.C.), que aborda o conceito de beleza; Hípias Maior (escrito em 380 a.C.), que discute as concepções estéticas sobre a beleza e as artes; e Íon (também de 380 a.C.), que explora a relação entre poesia e conhecimento.
Outro filósofo grego que influenciou Fubini foi Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.). Em sua obra Poética, escrita entre 335 a.C. e 323 a.C., ele argumenta que todas as artes devem buscar a Beleza. Esses dois pensadores da Grécia Antiga trataram a arte como elemento essencial no processo de formação das virtudes éticas dos cidadãos, especialmente no domínio político. Na sociedade medieval, a noção de música estava centrada ao ensino de canções religiosas. Esse processo, vinculado ao desenvolvimento da linguagem escrita, desempenhava uma função determinante para que os documentos musicais daquela época expressassem uma intensa espiritualidade. Diante dessa historicidade, o musicólogo enfatiza que a música, assim como outras formas de arte, é impulsionada pelos conhecimentos, experiências e sentimentos singulares de cada artista, os quais expressam a diversidade e a complexidade da condição humana.
A relação entre a música e os discursos religiosos das sociedades antiga e medieval, de acordo com o pensamento de Fubini (2015, p. 85): "O elemento musical da harmonia era vivenciado pelos eclesiásticos como um gerador do equilíbrio universal." A tese era influenciada pelo pensamento do filósofo e matemático grego Pitágoras de Samos (570 a.C. – 495 a.C.) sobre a música. Em outro argumento: "As leis científicas e matemáticas relacionadas às propriedades do som, nas quais se baseou o desenvolvimento da teoria musical, especialmente em termos de exatidão numérica, deram origem a abordagens que identificavam vínculos entre a estrutura musical e os fenômenos da natureza e do cosmos" (FUBINI, 2015, p. 27).
Assim, desde os tempos antigos, há o aspecto subjetivo na música. Diante disso, essas sustentações são historicamente antagônicas: ou se reconhece um apelo emocional intrínseco à música, ou se defende a existência da obra como algo autônomo, independente de emoções. A articulação entre o musical e as emoções é analisada desde a Antiguidade e pode ser fundamentada na distinção entre as linguagens. Sob essa perspectiva, enquanto as palavras existem independentemente dos sentimentos, os sons os carregam em sua essência.
A ideia dos processos curativos atribuídos à música remonta aos povos mais arcaicos. Aristóteles, por exemplo, considerava essa arte um recurso constituído de muitos benefícios pedagógicos, terapêuticos e outros. O filósofo também estava convencido de que diferentes organizações de melodias, ritmos e harmonias provocam reações distintas no corpo humano. Nesse sentido, Vincenzo Galilei (1520–1591), lutenista, compositor e teórico musical italiano, afirma: “Cada intervalo é responsável por determinadas sensações” (FUBINI, 2015, p. 104).
De forma contrária, Eduard Hanslick (1825–1904), escritor e crítico musical, em seu livro O Belo da Música, publicado em 1854, é citado por Fubini ao defender a ideia de que “a música é uma representação simbólica das emoções humanas. Isso significa que o material musical não contém sentimentos intrínsecos, mas simboliza, por meio de sua dinâmica, os movimentos emotivos do ouvinte” (2015, p. 130). Em oposição a isso, Susanne Langer (1895–1985), filósofa e escritora norte-americana, compara a linguagem discursiva à linguagem musical. Ela considera o elemento figurativo presente na música como uma forma de arte intraduzível. Dessa maneira, os efeitos do fenômeno musical podem ser compreendidos como resultados de expectativas particulares, visto que a interação com a música está associada à busca por sublimação emocional.
A tese principal de Enrico Fubini, em Estética da Música, é defender que a arte dos sons se perpetua na história ao refletir um momento histórico em sua execução, especialmente pela qualidade da transcrição de seu conteúdo. Para os historiadores, a música reflete valores, crenças e tradições de diferentes comunidades desde as origens das civilizações. Os argumentos apresentados pelo musicólogo reforçam a ideia de que a linguagem musical, enquanto atividade de grande impacto pessoal, social e obra artística, ocorre porque a experiência musical está conectada ao instante em que é concretizada. Isso, até hoje, influencia a preservação da música e a historicidade dos povos.