À noite, jogavam pedras pela janela, que quebravam a vidraça da sala onde aconteciam as reuniões mediúnicas, assustando e perturbando os pioneiros do movimento espírita paraibano.
Era a década de 20, quando José Augusto Romero, recém-saído do Seminário, corajosamente resolveu criar um centro espírita em Alagoa Nova. E sabe por que deixou de ser seminarista? Inventou de perguntar aos superiores: "Se Deus é onipresente, está em todos os lugares, Ele também está no inferno?" Tendo como resposta uma reprimenda que nada respondeu, foi o bastante…
Voltando ao centro espírita do brejo, foram inúmeras as objeções. Da população, da vizinhança e dos religiosos da época. É sempre assim. Há muita religião que é criada para cumprir seu papel, inclusive etimológico, de “religar” o homem a Deus mas termina separando os Seus filhos. A maior barreira continua sendo o preconceito. Uma praga que, segundo Einstein, “é mais difícil de ser desintegrada do que um átomo”, e da qual o Espiritismo até hoje é vítima.
O grande e inexplicável paradoxo no comportamento cristão são, sem sombra de dúvida, a discriminação e o preconceito. Certo dia, vi um comentário em rede social sobre a estapafúrdia incongruência na conduta discriminatória de certos religiosos que se dizem cristãos, sobretudo em relação às restrições à vida alheia, à crença alheia, tão parecidos com os “sepulcros caiados” citados por Jesus. Na postagem, o autor perguntava: “Sabem com quem Jesus foi mais severo em sua sagrada caminhada? Não foi com beberrões, incrédulos, adúlteros, gente do povo, muito menos com gays. Foi justamente com aqueles que usam os templos e a fé alheia para ganhar dinheiro”. Adiante, complementava: “Reflitam sobre qual foi a classe social que promoveu a condenação do Cristo... Ora, foram justamente os sacerdotes da época”.
Mas o Espiritismo seguiu firme, incólume, produzindo estudos, livros e esclarecimentos sem nenhum tipo de enriquecimento. Em grande parte, graças à ação da Federação Espírita Paraibana e dos centros associados à instituição que já vai com 106 anos de existência. Ainda que a sua pedra fundamental tenha se assentado em 1916, há 109 anos, na residência de Manoel Alves de Oliveira onde se realizavam as “Sessões de Caridade” (hoje sessões mediúnicas), para atender pessoas perturbadas por espíritos enfermos e obsessores, vindas de todas as condições sociais, através do passe magnético, água fluidificada e o consolo da Doutrina dos Espíritos. Tudo gratuitamente à luz do Evangelho.
Em 1919, portanto há 105 anos, nascia a primeira sede própria da Federação, na rua Treze de Maio, no centro de João Pessoa. Quarenta anos depois, em um terreno doado pelo respeitável agrônomo e empresário Lins de Vasconcelos, espírita convicto, construía-se a terceira e ampla sede, em um prédio de dois pavimentos, no Parque Sólon de Lucena, logradouro que homenageia outro grande espírita. A memorável doação ocorreu na gestão de José Augusto Romero, pai de Carlos Romero, que dirigiu a instituição por 44 anos consecutivos.
De lá para cá, o Espiritismo federativo só cresceu e amadureceu, tendo à frente de sua gestão nomes como Francisco Rabelo, Diógenes Caldas, Floripes Pessoa, João de Brito Moura, Sizenando Costa, Eugênio Ribas, Francisca Moura, Manuel Rabelo, José Rodrigues Ferreira, José Augusto Romero, Laurindo Cavalcanti, José Raimundo de Lima, Carlos Romero, Gizelda Carneiro Arnaud, Marco Antônio Grangeiro de Lima, todos irretocavelmente dedicados à doutrina e à caridade cristã.
Afinal, o lema fundamental do Espiritismo é “Fora da Caridade não há Salvação”. E realmente não há nada que melhor defina o ensinamento cristão do que a caridade. Não a filantropia comum, a doação do supérfluo, a caridade puramente material. Ainda que ajude no imediatismo a que se propõe, não tem o caráter essencial da solidariedade, da fraternidade, da comunhão afetiva que deve haver indistinta e incondicionalmente entre todos os seres deste abençoado planeta, merecedores de total atenção e respeito, em pé de igualdade, sem qualquer tipo de preconceito, muito menos “religioso”...