A mitologia grega é um conjunto de mitos, crenças, lendas e histórias que os gregos antigos utilizavam para explicar os fenômenos da natureza e do Universo. Os mitos gregos estão divididos em três períodos principais. O primeiro é a teogonia, que aborda a origem dos deuses, do planeta e do ser humano. O segundo período refere-se à era em que deuses, semideuses e mortais interagiam diretamente. Por fim, o terceiro é conhecido como a fase dos heróis, em que a atividade divina tornou-se mais limitada, e as maiores lendas heroicas, como as relacionadas à Guerra de Troia, influenciaram a origem de nação e Estado.
Os deuses e heróis determinavam a forma como os gregos antigos entendiam o mundo. Por exemplo, Fobos, o deus do medo, era a personificação do terror causado pela guerra. Filho de Ares e Afrodite e irmão gêmeo de Deimos, Fobos simbolizava o pavor e acompanhava Ares nos campos de batalha, onde instigava a covardia e o pânico nos corações dos inimigos, forçando-os a fugir. Nesse contexto, Fobos era considerado um protetor para aqueles que buscavam refúgio nele, enquanto espalhava terror entre os que dele se aproximavam. Daí surge o termo "fobia", que se refere ao medo de um objeto específico. Assim, nos campos de batalha mitológicos, Fobos representava o "objeto fobígeno", associado aos medos gerados pela guerra. No entanto, esse objeto diferia daquele que correspondia às angústias reais dos guerreiros, de forma semelhante ao que ocorre nos casos de pânico, horror, medo, repugnância, terror e fobia.
As experiências traumáticas vividas pelas pessoas, seus sintomas, medos e angústias são determinantes na forma como elas se inserem em determinada realidade cultural e social, as quais influenciam decisivamente seus sentidos de existência e projetos de vida. Nesse fenômeno psíquico, o sofrimento ameaça o ser humano em três tensões: o próprio corpo, que apresenta dificuldade em suportar a dor e o medo como sinais de advertência; o mundo externo, que pode agir de forma destrutiva; e as relações interpessoais. Dentro dessa tríade, as pessoas moderam suas expectativas relacionadas à felicidade, considerando-se felizes apenas por sustentarem a falsa ilusão de resistirem aos sofrimentos. Assim, evitar a angústia torna-se uma prioridade.
Consequentemente, a ideologia do medo desperta nelas a necessidade de superproteção contra qualquer perda ou destruição. Nesse contexto, a linguagem do medo transforma-se em um processo de dominação política e controle social, a qual gera conflitos com o ‘Outro’, a quem se atribui a culpa por frustrações ou pelo sentimento de inferioridade e vulnerabilidade.
A ideologia do medo, frequentemente disfarçada como uma forma de proteção contra o sofrimento humano, é aumentada, na maioria das vezes, pela alienação resultante da distorção da realidade. Essa distorção é impulsionada pela rivalidade e agressividade propagadas na internet e na televisão. Como consequência, o medo do "Outro" torna-se cada vez mais intenso. Isso gera sentimentos tóxicos, paranoicos e até obsessivos na pessoa que se torna vítima dessa ideologia fóbica. É nesse cenário de terror emocional que surgem as ameaças culturais de indivíduos que se veem como possíveis intrusos no modo de ser feliz dos "Outros". Assim, as estratégias ideológicas para erradicar o "Outro Usurpador" incluem uma contínua luta contra a ameaçadora sensação de morte, alimentada por discursos de medo e iniciativas discriminatórias nos espaços da política, religião ou moral.
A teoria da violência do filósofo e psicanalista esloveno Slavoj Žižek, nascido em 1947, é apresentada em seu livro Violência: seis reflexões laterais, publicado em 2007. Nesse trabalho, Žižek versa como uma pessoa pode ser influenciada por meio de um sistema de fatos e informações dissociativas. Este indivíduo submisso e obediente, "territorializado" em suas crenças, procura identificar os responsáveis pela violência subjetiva. Embora imagine que a verdade esteja sustentada por um agente subjetivo final, na realidade ilusória em que vive, a veracidade é disseminada em um campo invisível de informações que escapa ao seu próprio senso crítico. O sujeito dominado pelo medo tende a evitar aquilo que considera ameaçador. Em resposta a esse sentimento, busca criar a maior distância possível do objeto temido, mantendo-se, na maioria das vezes, fora do alcance da ameaça.
O sujeito domado - que teme algo - normalmente tenta evitar aquilo que acredita ser ameaçador. Ou seja, a resposta ao medo é criar a maior distância possível do objeto temido, geralmente, ele permanece fora da faixa de uma meaça. Assim, forma-se uma barreira entre si e o "Outro", como um mecanismo de proteção e sobrevivência. Esse processo é evidente, por exemplo, no medo de si mesmo, nos afetos presentes no ambiente familiar e em tudo o que é percebido como invasivo, como crenças políticas, religiosas ou comportamentos morais. Žižek exemplifica:
"Uma vez que o próximo é originariamente uma coisa, um intruso traumático, alguém cujo modo de vida diferente (materializado em suas práticas e ritos sociais) nos perturba, abala o equilíbrio dos trilhos sobre os quais nossa vida corre, quando chega perto demais, esse fato também pode dar origem a uma reação agressiva, visando afastar o intruso incômodo.” (2014, p. 58).
Nos dias atuais, a maioria das pessoas acredita que é livre, mas não percebe que está revestida de máscaras de medo, impostas de forma perversa por falsas ideologias que violam a liberdade e a dignidade humanas. Elas escolhem os próprios objetos fobígenos e incorporam em suas vidas o deus Fobos, cuja função é se posicionar com agressividade diante do "Outro". Este é percebido como o causador de suas angústias, ou seja, um invasor que ameaça o próprio modo de vida feliz. Ao acolherem Fobos, essas pessoas encontram uma proteção inconsciente para evitar confrontar suas próprias ansiedades, tensões e sofrimentos, que não estão no "Outro", mas sim em sua condição de sujeitos dominados pelo medo. Desse modo, eles permanecem imersas nos ódios disseminados pela ideologia do medo.