Há momentos em que desejamos que a vida pudesse ser pausada e o tempo hesitasse um pouco, antes de prosseguir, deixando-nos suspensos entre o antes e o depois de uma partida. Quando alguém que amamos vai embora, algo dentro de nós implode. Não é apenas a despedida de um outro corpo, de uma voz ou de um toque; é o sonho desfeito, a expectativa quebrada e o adeus ao que poderia ter sido.
L. Fotios
O coração, esse teimoso que insiste em cultivar esperanças, demora a aceitar o vazio. Resiste, repassa memórias como se nelas pudesse encontrar chaves e segredos que, se descobertos, reverteriam a marcha inevitável do fim.
S. Hazelwood
Para nosso desespero, o amor não vai embora instantaneamente. Não é algo que se pode guardar em uma valise e pôr no fundo de um armário. Ele gruda nas paredes, esconde-se nas frestas da casa, aparece nos cantos mais inesperados da mente de quem fica. Eis o que torna a perda tão difícil nos primeiros tempos.
Mas é nesse continuar que aprendemos, não sem sofrimento, que sobreviver é decidir não ser consumido pelo abismo que o outro deixou. No silêncio das madrugadas, quem nos encontrará de olhos abertos, ouvindo o silêncio? Nosso lado mais sombrio? Ou o que se recusa a permitir que a dor
E. Korkmaz
Felizmente, o tempo põe bandagens. Numa certa manhã a respiração estará mais leve. Nesse dia, a memória do amor perdido deixará de ser dor. As lembranças de cama e mesa, certas canções, o lugar que agora evitamos — tudo isso será capaz de nos tocar de uma forma diferente, levemente nostálgica talvez, mas sem nos devorar.
Talvez até possamos sorrir, conformados, ao lembrar que amar é risco, é salto no escuro. E nos congratularmos por ter tentado e, embora contabilizando feridas, termos emergido mais sábios.
Partidas nunca são apenas sobre quem se foi. Servem essencialmente para pensar sobre nós mesmos. Sobre quem seremos agora e sobre o desafio de nos reconstruirmos em um espaço momentaneamente desabitado.
▪ Texto originalmente publicado em soniazaghetto.com