Antes de começar este texto, li vários outros, cada um trazendo um olhar diverso para o tema Natal. E, claro, para quem escreve, o momento pede que nos posicionemos. No entanto, diante de tudo o que li, sem querer ser lugar-comum, fiquei na dúvida se deveria ou não dizer o que se passa dentro de mim, nesse período de confraternização e de encontros festivos.
Pela tradição cristã, Natal é um tempo de nascimento, de um novo que nos chega pela mão do Menino Jesus e dos seus ensinamentos. Mas é, também, um tempo que foi, aos poucos, sendo desvirtuado e maculado pelo consumismo e pelos apelos econômicos.
Confesso que fui contaminada por essa onda de frivolidades e que sinto vontade de dar e de ganhar presentes, mesmo sendo, muitas vezes, produtos que não servirão para nada. Desde outubro que assisto, na televisão, aos velhos filmes temáticos, cujo enredo é quase o mesmo: uma desilusão amorosa leva a mocinha a uma pequena cidade do interior, linda, aconchegante e toda iluminada, na qual reencontra um amor de infância. E, com certeza, veremos as cenas da compra e da montagem da árvore, da fabricação dos biscoitos de gengibre, das cantatas de músicas natalinas, de porta em porta, e da glamurosa ceia de Natal. O final desses filmes é, geralmente, feliz, o que nos traz alívio e a utópica sensação de que o amor e a felicidade eterna existem.
Independentemente de qualquer coisa, eu gosto muito do clima dessa época do ano, por possibilitar instantes de reflexão, de esperança e de renovação. No limiar de uma etapa que se acaba e de outra que começa, brota em nós uma vontade de recalcular rotas, a partir do levantamento que fazemos sobre o que fomos até então, e o que pretendemos ser.
Em meio às convicções religiosas e aos proclamas comerciais, renasce, na maioria das pessoas, um sentimento bom, indescritível, uma mistura de solidariedade, de amizade e de compaixão. Fico pensando o que seria de nós se não houvesse essa parada estratégica com o intuito de se olhar para trás, rever os feitos, os não-feitos e até os malfeitos.
Vivemos tempos difíceis, de desajustes internos, de inseguranças, de catástrofes ambientais, de violências extremas, de batalhas insanas e tudo o mais. E, nesse contexto, ter a oportunidade de repensar tudo isso, sobre o lugar que ocupamos e sobre que sentido dar à vida, é fundamental.
Os supérfluos, os excessos e até o carro enfeitado que passa levando um Papai Noel que toma refrigerante e usa em vão o nome do Natal são o mínimo diante das possibilidades de renascimento que temos a cada final do ano.
Hoje é véspera de Natal. Minha árvore, a mesma de vários anos, com bolas e enfeites desgastados, já está montada. À noite, vou acender todas as luzes da casa, juntamente com as artificiais que instalei, por entre os vasos das plantas, darei alguns poucos presentes, ouvirei as músicas de Simone e acreditarei que isso me traz alívio e esperança de dias melhores.
Vou, ainda, procurar, no céu, aquela estrela maior e, olhando para ela, farei uma prece desajeitada, desejando que as guerras, as tristezas, as maldades, as injustiças, as doenças, a fome, a mediocridade, o egoísmo e a hipocrisia humana possam se dissipar e dar lugar a um mundo melhor. Amém!