Se eu tivesse a percepção da poeta Adélia Prado, talvez dissesse que este tipo de dia é como um suspiro de Deus, uma pequena pausa na maquinaria da existência para nos lembrar do que é essencial. Ou talvez, seja a impermanência desse sentimento que realça a simplicidade de vivê-lo, tornando-o tão especial.
Dias felizes não necessitam de esforço, apenas olhares atentos e uma alma disposta a os receber. São breves, sim, mas ao vivê-los nos dão conforto por uma eternidade e ninguém pode nos tirar esta sensação.
Alguns dias não nos trazem expectativas, nem promessas, tampouco são alardeados. Mas, por alguma razão, que escapa às palavras, deixa em nós a sensação de plenitude, como se o mundo, ainda que por algumas horas ou minutos, tivesse encontrado o tom certo para existir.
Felicidade é algo que para ser vivido em sua integridade, não necessita de pressa, grandes arrumações de roupas, sapatos. Às vezes, apenas um brinco bonito, uma blusa bem branca ou algum adereço que veio do passado, entendemos estar vivendo um bom momento. É na simplicidade que percebemos o sol avançando e desenhando sombras no chão. É no despojamento, que experimentamos o prazer em andar na areia, é na troca de afeto que nos descobrimos vivos.
Dias felizes são feitos de encontros não planejados, sem expectativas, mas que acontecem por acaso, como se o mundo, por um momento, se organizasse a nosso favor. Talvez seja aquele amigo que você não via há anos e que surge com o mesmo sorriso de antes, como se o tempo nunca tivesse tido a ousadia de separá-los. Há um abraço longo, recheado de histórias não contadas e saudades disfarçadas. O mundo para por um instante, para assistir a essa reconexão que devolve pedaços daqueles que estavam perdidos.
E, não podemos esquecer das risadas, aquelas tão espontâneas que escapam antes mesmo que você perceba. Elas vêm de uma piada boba, de um tropeço engraçado ou de uma lembrança compartilhada, mas que desperta o riso fácil. Risadas vem de dentro, sacodem o corpo, refrigeram a alma.
Talvez, o segredo dos dias felizes esteja em saber reconhecê-los no momento em que acontecem, ao invés de buscá-los incessantemente. Dias assim, não são procurados, são eles que nos encontram, basta que estejamos atentos o suficiente para os perceber e viver.
Dias felizes não são grandiosos, não provocam reviravoltas ou conquistas heroicas. Ainda assim, nos deixam leves, embalados na certeza de que alguma mão invisível nos conduz. Felicidade não precisa de esclarecimento, apenas de leveza para o viver.
Para resumir, felicidade mora mesmo é em corações leves, sinceros, verdadeiros e estão logo ali, nas frestas, nos intervalos, ou nos segundos que ousam ser intensos.