O extravio da vida de Osmundo era de fazer chorar. Comprava artigos de primeiríssima em lojas chiques. A mulher reclamava, afinal de contas não ganhavam bem. Funcionários de baixo pódio. Enquanto a santa esposa economizava, cortando daqui e dali Osmundo convidava velhos comparsas de chope. Vinham as paredes de praxe. Soltava o disco de jovem guarda, e,
ao som de guitarras e emoções readquiridas, ficava o grupo até o embriagar do dia, a tropeçar na noite.
Desde a juventude viciado no bozó, perdia e ganhava, mas se mantinha no luxo de finos tratos, unhas cuidadas, sapato da moda. Usava um anel de brilhante vermelho, se dizia formado em Direito, enganava donzelas, vivia seu carnaval privado. Na hora de arranjar uma esposa definitiva, deparou-se com Ritinha bonita de rosto, pobre de roupas. Foi sincera para com o futuro marido: não gosto de parecer o que não sou. Ele ficara fascinado pela sincera confissão da moça, logo informada como zeladora de bons costumes, católica firme, mulher que não lhe traria embaraço. Calado até passadas as núpcias: contou tudo a nu sobre suas fantasias traduzidas em consumo impulsivo.
Assim conviviam até que surgiram os filhotes. O gasto foi estreitando o espaço para a farra de Osmundo. Já iam no terceiro rebento quanto rebentou a ira do marido preterido em dar vazão à sua inclinação patológica. Levou roupas para remontagem, adquiriu sapatos novos no crediário (não usava cartão de crédito). Ritinha chorava de tristeza pela falta de compreensão do marido. Primeiro a família. Ele se enfatiotava como nos velhos tempos, saía em notívagas aventuras, rumo à jogatina incurável. Na Amaro Coutinho deixava rodos de dinheiro, tomava empréstimo, empenhava, se possível, até a roupa. Reinaugurou as sessões de bebedeira.
Enquanto berravam as crianças, Osmundo tocava e cantava no bar da esquina. Ritinha só fazia rezar. As contas do terço estragadas. Outras contas penduradas. A vida correndo aos sopapos.