“Ó copeiro, que a chegada do novo amanhecer traga bênçãos; Traz o vinho, pois a escuridão foi derrotada.” Hafez-e Shirazi Anualmen...

A Noite da Yalda

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“Ó copeiro, que a chegada do novo amanhecer traga bênçãos; Traz o vinho, pois a escuridão foi derrotada.”
Hafez-e Shirazi

Anualmente, na grande área geográfica que abrange a Ásia Ocidental e Central — mormente em países como o Irão, o Afeganistão, o Azerbaijão, o Tajiquistão, o Uzbequistão, o Turquemenistão e Arménia —, durante o período entre o pôr-do-sol do último dia do Outono (30 de Azar do calendário persa ou Jalaali, equivalente ao dia 21 de dezembro gregoriano) e o nascer
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do sol do primeiro dia de Inverno (1 de Dey, correspondente ao gregoriano 22 de dezembro), celebra-se o solstício de Inverno, uma efeméride mundialmente famosa e conhecida como Yalda (“Nascimento”, na língua siríaca ). O período, que coincide com a noite mais longa e mais escura do ano, no Hemisfério Norte, também é homenageado pelos curdos e azeris na Turquia e em algumas partes do Paquistão e da Índia, na região da Caxemira.

A noite da Yalda é o resultado da visão da cultura iraniana e é considerada a sua mais importante celebração a seguir ao Nowruz (celebração do início do Ano Novo Persa).

A tradição da Shab-e Yalda (“Noite de Nascimento”) ou Shab-e Chelleh (“Noite dos Quarenta dias de Inverno”) remonta aos tempos mais antigos. Os zoroastrianos acreditavam que essa era a noite do nascimento de Mitra, a divindade persa da luz, da sabedoria, do bem e da verdade. O poeta persa Ferdowsi, autor do reputado Shah-nameh (“Livro dos Reis”), assegurou que a Yalda
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era já celebrada desde a época de Hushang, o rei da dinastia Pishdadian (Dudman-e Pishdadiyab).

Nos tempos atuais, as famílias continuam a perpetuar a tradição, reunindo-se e desfrutando de um aprimorado jantar, fundamentalmente com muitas variedades de frutas, frutos secos (Adil) — nomeadamente sementes de girassol (Aftab Gardan) — e doces especialmente preparados para a ocasião. As frutas mais típicas são o romã, a melancia e o diospiro. A romã e a melancia representam o Sol. A sua cor vermelha simboliza os tons carmesim do amanhecer e do brilho da vida. Há quem creia que, nessa noite, se deverá comer cenouras, peras, romãs e azeitonas verdes, a fim de se ficar protegido contra a picada de insetos prejudiciais, principalmente escorpiões. Já o comer alho, nessa noite, protegerá eventualmente contra dores nas articulações.

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Os alimentos típicos da celebração da Yalda são normalmente colocados no Korsi, uma peça de mobiliário tradicional semelhante a uma mesa baixa, coberta por uma toalha de mesa, a qual, em algumas áreas, é chamada de Jan-e Shab-e Chelleh.

A seu momento, o membro mais idoso da família conduz as preces, agradecendo a Deus pelas bênçãos do ano que finda e reza pela prosperidade no ano vindouro. Concluído o ritual, corta a melancia em fatias e distribui-a entre todos. Depois do jantar, os mais idosos fumam ghelyoon (espécie de narguilé, um cachimbo de água utilizado para fumar tabaco aromatizado) e contam aos mais jovens histórias de
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tradição oral. Recitam poesia, especialmente do Divan-e Hafez do mais reverenciado poeta persa do século XIV, Shams-ud-Din Muhammad Hafez-e Shirazi, ou o épico Shah-nameh. Um momento recreativo é o de tentar adivinhar o futuro. Cada membro da família formula um desejo, mantendo-o em segredo, lendo aleatoriamente um poema da obra Divan-e Hafez, interpretando o seu sentido.

Outra prática comum na noite de Yalda, entre jovens noivos, é o costume do rapaz enviar uma bandeja contendo sete tipos de frutas embrulhados em tule e uma variedade de presentes para a sua noiva. Em algumas regiões deste propugnáculo de países, a moça e a sua família retribuem o favor endereçando prendas de volta para o rapaz. Uma tradição que, não obstante se começa a perder, consiste em presentear amigos e família com pacotinhos de frutas secas e castanhas.

Cada país comemora a Yalda de maneira distinta, consoante naturalmente as suas peculiaridades culturais. Alguns naturais envergam os trajes típicos e fazem até uma mesa improvisada para relembrar as tradições ancestrais, enquanto outros celebram a festividade apenas fazendo um telefonema ou compartilhando os seus votos nas redes sociais, a desejar Shabe Yalda Mobarak.


A noite de Yalda é expressivamente representada na arte e na literatura persa, com poetas e escritores desde os tempos mais antigos, como Abul Qasim Hasan Unsuri, Jalaluddin Rumi, Hafez,  Saadi-e Shirazi, Farid ud-Din Attar, Nasir Khusraw Balkhi, Saʾeb Tabrizi e Massoud Saad Salman, a usarem o termo Yalda no sentido figurativo para “longo e escuro”. Alguns poetas, inclusivamente, compararam os cabelos longos e pretos das mulheres com a noite de Yalda.

Seja no sofá, petiscando frutas e castanhas, ao ar livre, perto das labaredas de uma fogueira, em torno de uma mesa junto da família toda, estar na companhia de pessoas queridas na Noite de Yalda é essencial para enfrentar a noite mais longa do ano, em que a escuridão predomina.
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