Eu a conheci, pessoalmente, anos atrás, quando até ela fui conduzido pelo ex-presidente do Tribunal de Contas da Paraíba André Carlo...

A leveza nua das horas

dalva torres
Eu a conheci, pessoalmente, anos atrás, quando até ela fui conduzido pelo ex-presidente do Tribunal de Contas da Paraíba André Carlo Torres. Já sabia da voz calma e doce e do enorme talento musical daquela a quem então era apresentado. Simpática, afável, sem afetação, encantava-me, ainda, em razão de um brinde de André, o filho: o álbum no qual a mãe entoa peças belíssimas contendo poemas do icônico Antonio Maria.
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O show compunha a grade de Grandes Espetáculos do Teatro Santa Isabel, tão pernambucano quanto o autor e uma das suas melhores intérpretes.

Falo, evidentemente, do cronista, do compositor, do homem de rádio e televisão (do multimídia, nos termos de hoje), do rei do samba canção em sua era de ouro com passagens deliciosas por valsas, frevos e marchinhas de carnaval. Falo, ainda, da figura emblemática das noites cariocas. E digo, não menos, do talento e dos muitos encantos de Dalva Torres.

Você gosta de “Manhã de Carnaval”, de “Onde anda você” que Nora Nei popularizou, de “O amor e a rosa”, da “Valsa de uma cidade”, do “Frevo Nº 2 do Recife”, de “Suas mãos” no timbre doído de Maysa, enfim, de peças cantadas por vozes memoráveis do cancioneiro nacional? Pois bem, gostará disso tudo, mais ainda, na voz segura, branda, terna, confortante, de Dalva Torres.


Eis que esta bela cantora, compositora, pianista, arranjadora, agora também me chega numa leitura atrasada. Não aquela da “Dama do Chorinho” assim tratada pelos jornais pernambucanos, mas a da nota alentada com a qual o “Estado de Minas”, o segundo maior jornal da rede dos Diários e Emissoras Associados, criação do velho Chateaubriand, dá conta do seu mais recente álbum, “A leveza nua das horas”. Trata-se de belíssima produção com treze faixas, nas quais se reúnem peças de gerações sucessivas.

O repertório vai de Batatinha a Zélia Duncan. “Setembro em mim” tem, ali, a autoria da própria Dalva. “Vozes d’alma”, outra beleza de canção, leva a assinatura de Francisco Torres, pai da moça e
por ele composta, ainda na fase do noivado, para aquela de cujo ventre a filha sairia. Há, também ali, peças centenárias. Citemos a canção mexicana “La llorona” e a argentina “Pregúntale a las estrellas”, ambas de domínio público.

Gonzaga Leal, cantor e produtor, assina o projeto em cuja ficha técnica aparecem Júlio César (acordeon), Cacá Barreto (baixo), Rafael Marques (bandolin), Silva Barros (bateria), Ângelo Lima (clarinete), George Rocha (percussão), Kelsen Gomes (piano), Renato Bandeira (violão e guitarra) e Fabiano Menezes (violoncelo). Ah, sim, Cacá Barreto tem a direção musical, Zélia Duncan põe letra num choro de Guerra Peixe e ocorre, ainda, nesse mesmo show, a participação especial de Débora Pimentel.

Na entrevista ao jornal mineiro, Dalva refere-se ao título do álbum (um poema por si só) e ao espetáculo apresentado no mesmo Santa Isabel, no início do ano, como “experiência acumulada das atribulações e maravilhas da vida”.
Div.
Descrevia a coisa, portanto, com a autoridade conferida por seus 82 anos de idade. Sim, temos uma octogenária dona de uma voz que o tempo, espantosamente, não maculou.

Vamos à sinopse daquilo que o Santa Isabel levou a seu palco, em janeiro: “Neste Show-Espetáculo, Dalva Torres cria personagens como um tênue disfarce sobre si mesma e suas percepções espontaneamente transcendentes”.

E mais: “Tudo não passa de uma confissão sobre si. Raras vezes, a arte atinge essa capacidade de mergulho, análoga a certos êxtases dos santos e capaz de provocar a chamada suspensão da descrença. Ao capturar o registro essencial de uma nudez da alma, neste show, Dalva Torres ultrapassa os parâmetros da cultura e da estética para estabelecer uma revelação”.


Lido esse texto, procurei o mesmo André na esperança de um novo brinde, a exemplo daquele a mim oferecido quando do lançamento do CD-Rom de Dalva com as músicas de Antonio Maria. “Tome aqui, a voz da mãe”, brincava ele, na ocasião.

Desta vez, recebi algo melhor do que a encomenda: a indicação para todo o show do Santa Isabel postado nas redes sociais, do Spotify ao YouTube. Basta a cada um de nós um clique no link para “A leveza nua das horas”. Que belo título, não canso de repetir.

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  1. sinto-me imensamente grata ao Sr Frutuoso Chaves, pelo carinhoso depoimento que fez ao meu trabalho fonográfico. Estou emocionada! Um grande abraço!

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    1. Não sou anônima . Sou Dalva Torres, antes de qualquer outra coisa, mãe de André.

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    2. Sou eu quem deve agradecer por seu talento, pela expressão artística que nos envolve e encanta e, enfim, pela oportunidade de ouvi-la. Um forte abraço.

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  2. Obrigada Frutuoso por trazer essa talentosa cantora. As músicas me encantam!. Amo todas! <3

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    1. Sou eu quem agradece a você pela atenção e pela leitura.

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  3. Generosidade do cronista em compartilhar com os leitores seus tesouros. Parabéns, Frutuoso. Francisco Gil Messias.

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