João Pessoa era uma cidade calma. Sempre teve muitos carros, mas o trânsito era relativamente tranquilo. Os engarrafamentos ocorriam em alguns trechos próximos à BR, nos acessos aos bairros mais distantes e às praias de Cabedelo, durante o verão. Trânsito parado só em dias de festas no final de ano, show na orla ou algum acidente. Aqui, os congestionamentos viraram rotina e acontecem a qualquer hora do dia e parte da noite.
Enfrentamos perigos e aborrecimentos constantes. Os motoboys passam quase voando, saindo de qualquer lugar, seja de ruas na contramão, seja de faixa de ciclistas ou de calçadas, com ultrapassagens arriscadas. Imagino que, a qualquer hora, podem até sair de um bueiro aberto, para cortar caminho e chegar mais rápido ao destino, como nos filmes de super-heróis. As entregas exigem pressa, mas estão constantemente arriscando suas vidas e as nossas com esse modo de conduzir motos, parecendo um campo sem lei.
Os motoristas de aplicativos (serviço de muita valia numa cidade onde quase não existe estacionamento nem transporte público seguro) dirigem como se somente eles existissem e param no meio da pista para o desembarque dos passageiros, sem se incomodar que estão em locais proibidos. Ainda há aqueles que dirigem bem devagar para consultar o aparelho celular. E assim o trânsito vai ficando mais perigoso e complicado.
Cada dia esse jeito desordenado e infrator de dirigir torna-se mais banalizado, parecendo que é tudo "normal", até mesmo para o Detran, que não coíbe as atitudes transgressores.
Outro atropelo que enfrentamos diariamente são os carros imensos que transitam pelas ruas, parecendo “banheiras gigantes com rodinhas”. Os motoristas não conseguem fazer curvas nem sair do estacionamento na diagonal (e olhe que são todos carros automático com manobras e ré guiados por telas).
A cidade cresceu, mas não se preparou para esses avanços populacionais. As ruas ficaram pequenas para tantos carros. Os semáforos não são sincronizados, causando congestionamentos entre um trecho e outro. Percursos que fazíamos em 10 minutos hoje levam 20 minutos ou mais. Conheço pessoas que moram em ruas que antes eram tranquilas e, atualmente, em determinados horários, não conseguem sair de casa com a rua engarrafada.
Há também os que andam muito abaixo da velocidade permitida. Se a via é 50 km, andam a 39 km, atrapalhando a fluidez do trânsito. São os que ainda estão no tempo que paravam o carro no meio da rua para conversar com um conhecido ou para procurar uma vaga.
João Pessoa está na sua fase de expansão imobiliária e populacional. Transformou-se na queridinha do Nordeste. Mas é preciso ordem nesse crescimento veloz. Todos os dias uma casa é demolida em Manaíra, no Bessa e no Jardim Oceania. Isso significa que onde havia uma família com até três carros, agora teremos de 50 a 100 novos carros e pessoas. Árvores estão sendo cortadas sem o menor pudor. Há esgotos estourando nas ruas e o mar está cada vez mais cheio de plástico e poluição. As belas propagandas com as maravilhas da cidade não retratam que ela pede socorro... e nós moradores nativos também!