Tem se intensificado a realização de eventos literários em que as pessoas se reúnem para dizer poemas, apresentar, debater e ler trechos de obras, acompanhadas de performances e/ou de execução musical, os famosos saraus.
Tal atividade cultural teve início na Europa, por volta do século XVIII, popularizando-se na América Latina, a partir do século XIX. No Brasil, esse tipo de reunião chegou em 1808, com a vinda da família real, que para cá se mudou, no intuito de fugir da invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão Bonaparte, o que não vem ao caso discutir aqui e agora.
Meu primeiro contato com o formato foi ainda na juventude, quando li o livro A Moreninha, escrito por Joaquim Manuel de Macedo, publicado em 1844, auge da produção do Romantismo, uma das correntes da literatura brasileira. Fiquei encantada com a descrição minuciosa daquela festa organizada em um cenário deslumbrante, agregando várias linguagens artísticas em um só lugar.
Depois de licenciada em Letras e já trabalhando como professora em algumas escolas, dos anos dois mil em diante, passei a promover, nas salas de aula sob minha responsabilidade, atividades que conectavam teatro, música, dança, literatura e artes visuais.
A partir de 2004, à época trabalhando no Colégio Marista Pio X, passei a produzir saraus poéticos, com turmas do 3º ano do Ensino Médio. A justificativa que eu dava para poder formalizar o evento em plena preparação dos alunos para concorrerem a uma vaga no ensino superior era escolher um autor que certamente teria sua obra contemplada nos vestibulares (e depois no ENEM).
O sarau era uma maneira de colocar a literatura em prática, não falando sobre ela, mas fazendo leituras imersivas, pesquisas, estudos, recriações, tendo como matéria-prima poemas de autores consagrados.
Foi um tempo muito significativo para mim e para todos os que se dispuseram a participar daquela proposta tão ousada, em termos de estratégia pedagógica para aquele tempo. Nossos encontros para a produção do espetáculo aconteciam a partir do segundo semestre letivo, sempre às sextas-feiras, das 13h às 15h. Todos os alunos eram convidados a participar, mas ia quem quisesse e se sentisse atraído pela arte. Não havia atribuição de notas, porém, após assumir o compromisso de compor o elenco, exigíamos dos participantes a frequência, a pontualidade e o empenho.
Quando, em 2012, após ser aprovada em concurso público, assumi como docente na Universidade Federal da Paraíba, pensei que aquele tempo bom dos saraus poéticos estava com os dias contados. Mero engano! Meu parceiro nessa aventura, o diretor artístico Flavinho Ramos, incentivou-me argumentando que as pessoas que estavam no ensino superior eram as mesmas que foram nossos alunos no ensino médio e que poderíamos convidá-los a continuar desenvolvendo nossas performances.
Para minha surpresa, a ideia foi bem aceita e, em 2014, submeti ao programa de extensão universitária o projeto A poesia como prática social de linguagem, que foi aprovado e que me deu respaldo para prosseguir levando poesia para a comunidade, até hoje.
Neste ano, completamos 10 anos de atividades artísticas, através das quais já levamos aos palcos diversos poetas e poetisas, dando voz a seus poemas, a partir de temáticas previamente escolhidas para cada espetáculo. Foi assim que abordamos, artisticamente, temas como narcisismo, morte, tempo e amor. Agora chegou a vez de falar, em um viés metalinguístico, sobre poesia!
Desse modo, no próximo final de semana (09 e 10 de novembro), às 19h30, no teatro do SESC CENTRO, será a vez de dar a conhecer o Sarau Poético DA FLOR DO OLHAR. O grupo Poética Evocare decidiu que deveríamos usar poemas autorais e me convocaram a escrever o roteiro deste espetáculo com poemas dos meus livros Entre Parênteses (2021), Ponteio (2022) e Da flor do olhar (2023), o que muito me honra, mas, em contrapartida, aumenta a minha responsabilidade na condução do processo. Saliento, também, que, neste sarau, teremos músicas autorais, a exemplo da música Navalha, composta pelo Mestre Fuba, tendo como base a letra do poema de minha autoria.
No mais, convido você a prestigiar nosso fazer artístico, o qual visa a, principalmente, promover criações artísticas, dar acesso a eventos dessa natureza, formando leitores críticos e plateias plurais, além de desenvolver nas pessoas o olhar poético a que todos temos direito. O ingresso tem preço simbólico de R$ 12,00, o que vai nos ajudar a cobrir as despesas básicas da montagem do espetáculo.
Saraus poéticos anteriores e elenco do atual (direita) Acervo da autora
Link para a compra de ingressos no 👉🏼 Sympla