Vento no porto O vento canta o mar com um assobio, deixa-se levar no desequilíbrio, segue nas vagas o prumo, balança na entrad...

Poemas do vento e da noite

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Vento no porto
O vento canta o mar com um assobio, deixa-se levar no desequilíbrio, segue nas vagas o prumo, balança na entrada do sitiado porto. Feito vida assopra sem rumo, queima noturno, esfria soturno, agarra o ser, atira-se aos cascos, corrente que afoga, afaga, apoio. Ser de líquido deserto: imenso, tenso, manso e marítimo. Desnorteia e apruma o caminho, oscila à mercê dos contrapesos. O vento intocável e artístico, montador de desafios e cenários. Com terra à vista e sem prazos, navega preciso, ponto necessário. Do improviso, o esperançoso náufrago, acende a vela, feito risco de fogo. É motor que afugenta o medo, lenço de paz ao ar içado. E volta à música saída do lábio, na gigante onda, um furacão alado, montado em dunas do oceano, agita-se, lambe o rígido mastro. O vento de escolhas, multifacetado, da calmaria ao agir impulsivo, testa homem, espuma o solo sem trégua, sorte ou tesouros enterrados. Sopro que insinua perdões e lamentos do ser mitológico e imaginário. Surge em deuses redesenhados no assombro dos marujos calejados. Avança na água quando ancorado, sem afligir o sábio, pois; o feroz oceano será acalmado à beira do cais, no rio do caos. O vento recosta o rosto, ensina rotas e nós, guarda poemas em livros e livres mundos para o sonhador ilhado. Traz sal no ar ruidoso, corta correntes e dobra cabos. Célere, recolhe o marinheiro afogado, ressuscita para um novo passo. E na pós-borrasca de inverno o vento nina as dores da alma e do corpo, em sutil lufada, bálsamo, acolhe o abraço do porto.


Noite embuçada
Pequenos feixes brancos no rosto embuçado teimam na neblina do oculto de silêncio e vazio. Nas pedras do chão, o frio, pegadas, de pés rápidos, buscam indecifrável mistério insistente, o alheio mundo. Nos muros dos templos refletidas rezas, segredos e o repetido medo do manto, o seguir implácavel, embaraço. E o badalo silencioso embala feito invólucro, embaça esquinas, distorce sons, cai o roxo pano.


Vento anterior
Pequeno vento pré a tormenta antecipa a destruidora força com a leveza de uma brisa. Quase silêncio, nem assobia sove o ar e toca as folhas, é carícia, apenas sopra. Antecede e avisa da fúria, cochicha perigosas notícias, deixa recado sem alerta, azar, a muitos não desperta. E retorna em extrema angústia, abocanha lugares, mastiga pessoas, molha, balança, medonha antes de nova calmaria.


Hora na madrugada
Relógio aponta, ponteiro avança, saída noturna, de olho nas contas. Até certa hora, o brilho desponta, na errada, o medo assombra. Melhor garantia, cuidar da volta. Às três da madruga, a mente se solta! E a demora se cobra, o tempo da treva, não importa se ora, desconhece a reza. Pela vazia rua, pela íngreme ladeira, a cabeça liberta, demônios e almas. Melhor garantia, cuidar da volta Às três da madruga, a mente se solta! O corpo estremece, o estòmago embrulha, as pernas inquietas, a mão que sua. Um ruído em silêncio, tudo palpita, tudo assombra, o espírito vacila. Melhor garantia, cuidar da volta Às três da madruga, a mente se solta! À meia-luz a passagem afunila, as pedras sussuram, o martírio da vida. Falam dos já idos, pelo muro espreitam, os passos medrosos, próximo à terceira batida. Melhor garantia, cuidar da volta Às três da madruga, a mente se solta! E próximo à casa, não há garantia, há esquina e o breu, parece armadilha. Pousada, abrigo, hospedaria. O que espera, a alma aflita?

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