POEMAS DO LIVRO “A arte do Zero”
(Editora Arribaçã – 2021)
(Editora Arribaçã – 2021)
A terra é plana no avesso do Zero.
O início
O Zero já inscrito na imensidão, boca aberta aguardando o verbo ― trocou os dentes.
O Zero já inscrito na imensidão, boca aberta aguardando o verbo ― trocou os dentes.
De onde se parte
Eis o sumo do Zero - o nada - que é tanto desespero. a embriaguez que te escapa ao buscar um deus.
Eis o sumo do Zero - o nada - que é tanto desespero. a embriaguez que te escapa ao buscar um deus.
A parte que te cabe
A palavra paraíso me persegue a cada morte Estou sentado à direita do Deus Pai ― sou o absoluto nada estou sentado à esquerda da fortuna ― sou a múltipla farsa estou no centro, sou o centro da boca profunda que engana e se me recorta o homem em meio círculo, se derrama a dúvida que o consome restando apenas o espasmo na cova rasa ― a casca ― de um símbolo partido.
A palavra paraíso me persegue a cada morte Estou sentado à direita do Deus Pai ― sou o absoluto nada estou sentado à esquerda da fortuna ― sou a múltipla farsa estou no centro, sou o centro da boca profunda que engana e se me recorta o homem em meio círculo, se derrama a dúvida que o consome restando apenas o espasmo na cova rasa ― a casca ― de um símbolo partido.
O Zero caído dos céus
Eu merecia não estar vivo no retalho côncavo de tuas mãos. cair do céu ̶ ser este vazio ̶ me fez infinito elo entre o nada e o desespero ̶ me fez razão. nem todo o mar que me pertence ou este suor em tuas têmporas preenche vácuo de tua vida, é algum lugar-agua ou mesmo alivio para tua sede de existência. fosse eu apenas um dado da matemática mundana seria útil, até palpável, não esta doidivana dizendo: é o Zero teu bruto! seja qual for tua arma ou musa, é o Zero tua cova, inútil a pressa de rubricar instantes com teu nome. eu merecia não estar vivo, não ser estas chagas em tuas mãos.
Eu merecia não estar vivo no retalho côncavo de tuas mãos. cair do céu ̶ ser este vazio ̶ me fez infinito elo entre o nada e o desespero ̶ me fez razão. nem todo o mar que me pertence ou este suor em tuas têmporas preenche vácuo de tua vida, é algum lugar-agua ou mesmo alivio para tua sede de existência. fosse eu apenas um dado da matemática mundana seria útil, até palpável, não esta doidivana dizendo: é o Zero teu bruto! seja qual for tua arma ou musa, é o Zero tua cova, inútil a pressa de rubricar instantes com teu nome. eu merecia não estar vivo, não ser estas chagas em tuas mãos.
O dentro e o fora
Minhas bordas podem ser lâminas ou alívio, convite, retorno ao início, martírio, qualquer coisa de insano aos olhos de Midas, urgência para quem levita, passagem segura de gado em sua descida no crepúsculo, tensão dos músculos. Minha borda ― margem do redemoinho ― o dentro, o fora, um repartir empírico, deixar-se ir em um salto ou agarrar-se ao estio.
Minhas bordas podem ser lâminas ou alívio, convite, retorno ao início, martírio, qualquer coisa de insano aos olhos de Midas, urgência para quem levita, passagem segura de gado em sua descida no crepúsculo, tensão dos músculos. Minha borda ― margem do redemoinho ― o dentro, o fora, um repartir empírico, deixar-se ir em um salto ou agarrar-se ao estio.
O dia Zero
Sangue nas areias da Bretanha, um estado de coisas: revoada de Fernão Capelo, Le monde ― Toujours la même chose ―, os pés no mar e o olhar perdido no Universo possível. A Cruz de Malta, beijo na face do desconhecido a língua do horizonte: ― qual o mote, qual o mote? perseguir a rota das cerejeiras floridas de Cipango. O Peabiru deserto, Martim Afonso e seus 800 arqueiros perdidos com os passos do Curupira. Molho de chaves meias paredes sem porta, Hiroshima, derretidas as sombras e as fechaduras. A Esfinge, a lepra e uma certa primavera desejada no entardecer sob a estrela de David. Tiro-história, líder morto na Guanabara e as ondas do Arpoador com seu uivo de lobos jogando às pedras as garrafas vazias. Uma África acorrentada ao Novo Mundo, o Continente era único quando não havia homens. A luneta de Galileu, ― papado em fúria ― tirando o homem do centro do Universo.
Sangue nas areias da Bretanha, um estado de coisas: revoada de Fernão Capelo, Le monde ― Toujours la même chose ―, os pés no mar e o olhar perdido no Universo possível. A Cruz de Malta, beijo na face do desconhecido a língua do horizonte: ― qual o mote, qual o mote? perseguir a rota das cerejeiras floridas de Cipango. O Peabiru deserto, Martim Afonso e seus 800 arqueiros perdidos com os passos do Curupira. Molho de chaves meias paredes sem porta, Hiroshima, derretidas as sombras e as fechaduras. A Esfinge, a lepra e uma certa primavera desejada no entardecer sob a estrela de David. Tiro-história, líder morto na Guanabara e as ondas do Arpoador com seu uivo de lobos jogando às pedras as garrafas vazias. Uma África acorrentada ao Novo Mundo, o Continente era único quando não havia homens. A luneta de Galileu, ― papado em fúria ― tirando o homem do centro do Universo.
O fantasma do Zero
Os fantasmas heróis são órfãos desperdiçaram o sangue e a consciência no trilho definitivo da cova ao útero.
Os fantasmas heróis são órfãos desperdiçaram o sangue e a consciência no trilho definitivo da cova ao útero.