POEMAS DO LIVRO “SONETOS EM CRISE”
(Editora Mondrongo – 2019)
(Editora Mondrongo – 2019)
MASSA DE PÃO
O dote, esta maçã mordida; A voz, esta tinta de estar Nome, fugaz expectativa, Moinho dos ossos, o lar. Resmas, orvalhos e os espectros Restam postos, nomeando dias, Fermento gestando o passado, Massa de pão, refluxo, azia. Reta ou novelo, qual a trilha Que dá ao chão o que escorre da pia E abre o caminho da poesia? Vida é erro, herói de latrina, Cabe o estresse, não apatia belo entala ̶ tinta respinga.
O dote, esta maçã mordida; A voz, esta tinta de estar Nome, fugaz expectativa, Moinho dos ossos, o lar. Resmas, orvalhos e os espectros Restam postos, nomeando dias, Fermento gestando o passado, Massa de pão, refluxo, azia. Reta ou novelo, qual a trilha Que dá ao chão o que escorre da pia E abre o caminho da poesia? Vida é erro, herói de latrina, Cabe o estresse, não apatia belo entala ̶ tinta respinga.
GÁRGULA
Aqui me despeço do que antes foi pórtico do esquecimento. Quisera fosse eu um amante, mas me sei febre e sofrimento. Morre o andante, o que se esforça sob meus pés, em desespero de eu ser quimera - foi sua aposta - mas sou o gargalo, o degredo. Eu nunca durmo; no que tropeça na cruz tombada, no Anticristo, despejo a água e minhas tranças para que siga confiante, hirto, me adentre no átrio, ensaie a reza, engula a hóstia, cuspa no mito.
Aqui me despeço do que antes foi pórtico do esquecimento. Quisera fosse eu um amante, mas me sei febre e sofrimento. Morre o andante, o que se esforça sob meus pés, em desespero de eu ser quimera - foi sua aposta - mas sou o gargalo, o degredo. Eu nunca durmo; no que tropeça na cruz tombada, no Anticristo, despejo a água e minhas tranças para que siga confiante, hirto, me adentre no átrio, ensaie a reza, engula a hóstia, cuspa no mito.
PREFIRO OS LOUCOS
Para Italo Campos Triste o fim dos que se destroem por arcabouços de verdade, e se recusando amizade usam atropelo em sua verve. O tom de um sofista, este açoite, diz de uma procela dos moucos; faz ventar os cabelos poucos da Musa rara... Ah eterna noite! Saber da espera? Só os loucos de versos claros, harmoniosos, que mesmo imberbes, assim, roucos, respigam manhãs luminosas, reviram a lama dos poços, semeiam no nada as rosas.
Para Italo Campos Triste o fim dos que se destroem por arcabouços de verdade, e se recusando amizade usam atropelo em sua verve. O tom de um sofista, este açoite, diz de uma procela dos moucos; faz ventar os cabelos poucos da Musa rara... Ah eterna noite! Saber da espera? Só os loucos de versos claros, harmoniosos, que mesmo imberbes, assim, roucos, respigam manhãs luminosas, reviram a lama dos poços, semeiam no nada as rosas.
CHAGAS SEM CRISTO
Não posso me furtar de ter de Cristo, o olhar silente da cor infinita, mormente a cruz, fulgurante e hirta, a sombrear meus pés de passos ariscos. Me pesa o destemor do desmedido, mesmo sendo vago, digo que pesa entrar no dia, na noite, assim despido do respingo da fé, e partir sem pressa. Mas careço buscar a finitude no horizonte imperfeito de meus dias. E insaciável insista, e nada mude, só revire o cascalho da poesia e na palma das mãos fulgure e brote sangue, o produto final da alquimia.
Não posso me furtar de ter de Cristo, o olhar silente da cor infinita, mormente a cruz, fulgurante e hirta, a sombrear meus pés de passos ariscos. Me pesa o destemor do desmedido, mesmo sendo vago, digo que pesa entrar no dia, na noite, assim despido do respingo da fé, e partir sem pressa. Mas careço buscar a finitude no horizonte imperfeito de meus dias. E insaciável insista, e nada mude, só revire o cascalho da poesia e na palma das mãos fulgure e brote sangue, o produto final da alquimia.
RECORTE
Toda filosofia é blag, comporta aberta no vazio de lençois sem curvas, sem marcas, já despidos de rodopios. Toda filosofia é chiste, é mesa de bar de uma esquina e a vaidade a esperar o ouvinte da palavra a escorrer, ladina. O porvir, o som do estampido, o sem rumo, o fim da vontade, é o sonho, nome interrompido. Corre a buscar serenidade, o absurdo em buraco fundo já corrompeu sua castidade.
Toda filosofia é blag, comporta aberta no vazio de lençois sem curvas, sem marcas, já despidos de rodopios. Toda filosofia é chiste, é mesa de bar de uma esquina e a vaidade a esperar o ouvinte da palavra a escorrer, ladina. O porvir, o som do estampido, o sem rumo, o fim da vontade, é o sonho, nome interrompido. Corre a buscar serenidade, o absurdo em buraco fundo já corrompeu sua castidade.
ORAÇÃO AO PAI DA TERRA
Torres do eterno na terra do medo, entre as pedras, no altar, o homem imenso oferta a carne, os ossos, no degredo certo da morte ao sem âncora do terço. E este silêncio de cores dispersas que remetem ao medo do incontido abraço das horas pálidas, parcas, que restam alheias ao eu constrito é uma certeza que prega, empaca e retine no alforje dos impuros sem credo, crédito por sua empáfia de pelejar a justa do obscuro desejo de preterir uma estaca que lhe deu o nome e o condenou ao escuro.
Torres do eterno na terra do medo, entre as pedras, no altar, o homem imenso oferta a carne, os ossos, no degredo certo da morte ao sem âncora do terço. E este silêncio de cores dispersas que remetem ao medo do incontido abraço das horas pálidas, parcas, que restam alheias ao eu constrito é uma certeza que prega, empaca e retine no alforje dos impuros sem credo, crédito por sua empáfia de pelejar a justa do obscuro desejo de preterir uma estaca que lhe deu o nome e o condenou ao escuro.
Leia abaixo crítica do pesquisador e escritor baiano Krishnamurti Góes Dos Anjos sobre Sonetos em crise