Certa vez plantei uma castanha em uma lata velha de tinta que restou da pintura da minha casa e fiquei emocionado ao ver, após seis meses, um caju vermelho brotar de um ambiente tão hostil. De cara, eu o apelidei de “Meu Pé de Caju Vermelho” em alusão ao enigmático livro nacional “Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro de Vasconcelos. A presença de Deus estava ali, na complexidade de um elemento perfeito sair de forma poderosa de uma terra pequena regada por raros goles d’água.
Já Zezé, personagem central da obra, encontra conforto nos braços da árvore, destilando uma paz que o mundo exterior não lhe proporciona.
Zezé genuinamente encontrou consolo na busca espiritual. A fé em um ser superior é um refúgio para o menino Zezé, que vive em um ambiente sombrio, ríspido e carente de afeto. A ligação com o divino é importante porque proporciona um sentido de propósito e pertencimento.
Quando a criança se sente conectada a algo maior, ela pode encontrar colo em momentos difíceis. Essa busca por um sentido para a existência é uma característica comum da infância e vive a nos perturbar por anos e anos.
Será que Deus existe no cérebro como afirma Jordan Grafman? Danah Zohar e Ian Marshall dizem que sim, se dedicam ao Ponto de Deus no cérebro humano.
Zezé possui, então, um elevado quociente espiritual em que a crença no seu Deus particular lhe proporciona esperança e o ajuda a superar as dificuldades nos primeiros anos da vida.
Se o Deus de Einstein é o Deus de Espinoza que se manifesta nas formas da natureza e na complexidade da vida, então nós, os inebriados, estamos indo bem. Eu, acendendo a esperança em meu cajueiro. Zezé, ascendendo ao divino via seu pé de laranja lima.
Tudo é Deus e Deus é tudo!