Dr. Valério Vasconcelos, competentíssimo cardiologista, afirma com conhecimento de causa que a segunda guerra mundial começou em consequência de uma fofoca que uma velhinha espalhou na cidade de Monteiro, interior da Paraíba. Dá inclusive detalhes que não cabem aqui porque o espaço é curto.
Fofocas sempre existiram; há quem afirme inclusive que elas antecederam a presença do ser humano na terra. Não é sem propósito que cientistas da Lies University estão pesquisando uma teoria revolucionária; o meteorito que mudou o clima do planeta só caiu na terra depois da extinção dos dinossauros e que isso ocorreu porque um grupo de brontossauros espalhou uma fofoca sobre o comportamento sexual dos velociraptors. A base da pesquisa partiu de um estudo efetuado com os macacos bonobos, que segundo os tais cientistas são descendentes diretos dos T. Rex. Não vou por aí, o que me motiva é descobrir o que move um fofoqueiro a gostar de contar os tais mexericos, ressaltando desde logo que jamais se deve confundir uma fofoca espalhada com uma mentira contada. A fofoca tem como base um fato verdadeiro que em princípio não é elogioso ao personagem objeto daquele comentário. Em escrito anterior já me referi a fofocas históricas, como os terremotos de Londres ou o hábito do rei Luiz XV de tomar banho com o sangue de crianças.
Às vezes, na ânsia de divulgar uma fofoca, o fofoqueiro é capaz até de se prejudicar, mas a vontade de fofocar supera tudo. Vou dar um exemplo simples e que tenho como verdadeiro porque quem me contou merecia todo o crédito possível.
Deu-se (adoro começar assim uma história) que depois do movimento militar de 1964 chegou ao conhecimento das altas patentes que um cidadão andava por todo canto sentando o pau na dita revolução. Um belo dia decidiram dar um susto no sacripanta. Mandaram uma guarnição prendê-lo e levaram-no até o quartel onde foi posto numa cela. Os militares combinaram que simulariam um fuzilamento do fofoqueiro e assim fizeram. Encostado numa parede do quartel ele viu uns 10 soldados armados com rifles apontarem as armas para ele e seguindo as ordens de comando dispararem (balas de festim, obviamente) em sua direção. Desmaiou de susto e ao acordar viu o comandante em sua frente. “— Olha aqui, seu safado, isso foi só um aviso pra você parar de fofocar. Pode ir embora”.
O fofoqueiro saiu do quartel e na esquina encontrou um amigo que perguntou pelas novidades. Ele olhou para os lados e segredou: “- Rapaz, o exército faliu; nem bala que funcione eles têm mais”.