Algumas gramáticas ensinam que {–zinho} é alomorfe, isto é, uma forma diferente do sufixo {–inho}, formador de diminutivos. Veremos mais à frente um conceito melhor de alomorfe. Outras gramáticas ensinam que {-zinho} é apenas o sufixo {-inho} com uma consoante de ligação. Chama-se “consoante de ligação” a consoante que se apõe entre a palavra primitiva e o sufixo, para facilitar a pronúncia. Por exemplo: ao lado de “licor” temos “licoreira” (acrescento o sufixo {-eira} a “licor”). Mas, para acrescentar o sufixo {-eira} a “chá”, preciso pôr uma consoante entre ambos: cha-l-eira = chaleira. Esse /l/ é uma consoante de ligação. Mas o /z/ de {–zinho} não é consoante de ligação, porque, ao lado de “devagarzinho”,
“florzinha”, “papelzinho”, “colherzinha” e “anelzinho”, por exemplo, temos “devagarinho”, “florinha”, “papelinho” “colherinha” e “anelinho”, sem o /z/. E não temos “chaeira” ao lado de “chaleira”.
Ao formarmos o plural de “florinha” ou de “papelinho”, basta-nos acrescentar um {-s} ao sufixo: “florinhas”, “papelinhos”. Mas, para formar o plural de “florzinha” ou de “papelzinho”, somos forçados a flexionar também a palavra primitiva: “florezinhas”, “papeizinhos”. Acrescente-se que uma lição unânime entre os linguistas ensina que uma palavra flexionada no plural não pode receber sufixos, o que vai ao encontro da ideia de que {-zinho} não é um sufixo.
Se considerarmos {-zinho} um alomorfe de {-inho} ou o /z/ uma consoante de ligação, teremos de considerar que existe flexão interna de plural. Em português, a flexão interna só ocorre por alternância vocálica, como em: pôde/pode, sogro/sogra, ovo/ovos. O caso de “quaisquer” não é exceção: “quaisquer” é plural normal de “qualquer”, formado de “qual”, pronome, e “quer”, verbo. “Qualquer” parece exceção porque se escreve numa palavra só. Por isso, ou consideramos {–zinho} um adjetivo preso ao substantivo (em “flores-zinhas” e “papeis-zinhos”, o < s > do primeiro elemento, em posição de neutralização, soa também como [ z ], ou consideramos {–zinho} um sufixoide, de acordo com a lição do linguista português Herculano de Carvalho, no seu livro Teoria da linguagem (Coimbra: Atlântida, 1974, vol. II, p. 549-50). Para ele, sufixoides são os elementos que, embora análogos aos sufixos, “por alguma ou algumas das suas propriedades não cabem inteiramente dentro dessa categoria” (p. 554). Essa, aliás, é a lição adotada por Celso Cunha e Lindley Cintra em sua Nova gramática do português contemporâneo (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, p. 91, rodapé). Dessa forma, {-zinho”} que só não pode ser usado com palavras terminadas por < s > ou < z >, como em “lápis-lapisinho”, “país-paisinho”, “luz-luzinha”, “cruz-cruzinha”, em que se usa apenas {–inho}, não é um alomorfe de {–inho}. Chama-se “alomorfe” uma forma que se apresenta em uma palavra diferentemente de como se apresenta em outra palavra, mas com a mesma significação, como {-strel-} em “estrela”, diante de {-stel-} em “constelação”, ou {i-}, em “ilegal”, diante de {in-} em “indizível”. Portanto {-zinho} não é sufixo, mas sufixoide. Na lição de Herculano de Carvalho, as formas {-mente} e {–zito} também são consideradas sufixoides. E formas como {mini-}, {maxi-} ou {micro-} são consideradas prefixoides.
Mário Barreto, no livro Através do dicionário e da gramática (Rio de Janeiro, Livraria Quaresma, 1927, p. 225-6) apresenta exemplos de Manuel Bernardes, coligidos por Antônio Feliciano de Castilho, em que o substantivo no plural aparece com {–s } antes do sufixoide {-zinho} como em “ladrõeszinhos” e “murmuraçõeszinhas”, e acrescenta exemplo de Garcia de Resende: “gibõeszinhos”, o que comprova a lição de que {-zinho”} não é sufixo. Assim, o plural dos nomes em {-zinho} se forma como se {-zinho} fosse um adjetivo preso, suprimindo-se o < s > da palavra à qual se acrescenta {-zinho}: animal – animais – animai(s)zinhos; flor – flores – flore(s)zinhas. Erram, portanto, os falantes que dizem “mulherzinhas” ou “barzinhos” por “mulherezinhas” e “barezinhos”, por exemplo.