A desigualdade se manifesta nas desumanas relações de sistemas econômicos que estruturam a vida em sociedade e são sustentadas tanto...

Desigualdade e equidade

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A desigualdade se manifesta nas desumanas relações de sistemas econômicos que estruturam a vida em sociedade e são sustentadas tanto por mecanismos materiais quanto por ideias e valores culturais para intensificar o acúmulo de mais privilégios para algumas pessoas. Consequentemente, a cruel distribuição de recursos e as faltas de oportunidades de desenvolvimento pessoal geram a violência entre todos.

A desigualdade gera violência, ódio e miséria humana para a sociedade. Ela gera sentimentos de injustiça e de revolta entre aqueles que são marginalizados ou impedidos de ter uma vida digna. Em termos de coesão social, a falta de dignidade e de prosperidade na sociedade aumenta a divisão social e dificulta a construção de sociedades justas e pacíficas. Do ponto de vista individual, ela destrói o bem-estar físico e mental dos cidadãos, e limita o potencial de desenvolvimento humano de todos.

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As desigualdades humanas podem ser divididas em econômica, social, cultural, educacional, política entre tantas outras. A econômica se caracteriza pela distribuição desigual de recursos financeiros e materiais. Por exemplo, a concentração de riqueza nas mãos de uma minoria contrasta com a pobreza e a miserabilidade vividas pela maioria. Esta disparidade afeta o acesso a bens vitais, como alimentação e saúde, que gera a pobreza e impede a dignidade social de muitos indivíduos. O contraste social diz respeito ao acesso desigual a redes de apoio e a serviços essenciais, como segurança, moradia e educação, pois envolve também o modo como a sociedade estrutura seus valores e preconceitos, muitas vezes cria obstáculos para grupos marginalizados. O desequilíbrio cultural e educacional afeta o desenvolvimento intelectual e as oportunidades de trabalho. O processo educacional é um dos principais meios para evitar a desigualdade, mas o acesso à educação de qualidade é muitas vezes limitado e seletivo. Além disso, as desigualdades culturais – que trata da raça, gênero, religião, entre outras – perpetuam discriminações que reforçam a exclusão e limitam o reconhecimento e a valorização de certos grupos. A tensão do ódio na política ocorre quando uma parte da população possui mais poder de influência nas decisões coletivas do que outra. Essa concentração de poder muitas vezes reflete os interesses dos mais ricos. Isso deixa as necessidades dos desfavorecidos marginalizadas. Assim, as políticas públicas nem sempre refletem o interesse da maioria, mas sim o de uma minoria com capacidade de manipular o sistema em favor próprio.

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FGV
Algumas teorias sociológicas e econômicas argumentam que a desigualdade é uma característica inevitável em qualquer sistema social. Por exemplo, em seu livro O Capital, publicada no ano de 1867, Karl Marx (1818 - 1883) - filósofo, economista, historiador, sociólogo, teórico político, jornalista, e socialista alemão - analisa como a estrutura de classes é uma base para a desigualdade, a qual as relações de produção determinam as posições sociais. Maximilian Karl Emil Weber (1864 – 1920) - jurista e economista alemão - em seu livro Economia e Sociedade, publicado em 1921, afirma que o poder e o prestígio também têm papéis fundamentais na hierarquia social, de forma a mostrar que a desigualdade é reforçada não apenas pela economia, mas por valores e símbolos culturais que hierarquizam os indivíduos.

John Borden Rawls (1921 – 2002), filósofo norte-americano, em sua Teoria da Justiça, publicado em 1971, afirma que a sociedade deve promover a distribuição igual da riqueza, mas que desigualdades podem ser justificadas se gerarem maior benefício para os menos
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John Borden Rawls Gamma-Rapho
favorecidos. Para isso, Rawls apresenta a tese da ‘justiça como equidade’, ou seja, é o princípio de reconhecer que as pessoas são únicas e, por isso, precisam ser tratadas de forma diferente para que possam ter as mesmas oportunidades, sendo a prioridade das instituições sociais. Ele defende a distribuição de recursos em duas partes: a distribuição igual de direitos e deveres básicos; a compensação das desigualdades injustas, deve garantir a todos iguais oportunidades. Ele argumenta a ideia de que a liberdade e a equidade devem ser compatibilizadas, de forma a minimizar as disparidades entre elas. As contribuições do pensamento de Rawls impulsionam políticas públicas em vários países. Entretanto, a realidade é que a maioria das desigualdades não se baseia em meritocracia ou em benefícios mútuos, mas em barreiras sociais e estruturais que impedem que todos tenham as mesmas oportunidades. A superação da desigualdade exige a ampliação de oportunidades educacionais e a promoção de uma cultura de equidade de direitos e respeito à diversidade, que é essencial para uma vida digna e justa para todos.

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