Um amigo me viu, recentemente, na cadeira mais próxima da porta de saída do seminário onde eu me encontrava por osso do ofício. “Vamos lá para a frente. Há cadeiras vazias, ali”, ele me propôs. Respondi que pretendia sair à francesa, tão logo começassem os debates de cunho técnico. Os pronunciamentos iniciais com frases de efeito, o anúncio de ações jurídicas ou administrativas já me bastariam para a produção do texto jornalístico. Depois disso, eu escaparia sem acenos e sem ser notado. E assim fiz.
Dessa rivalidade eu já sei há muito tempo. Lembro de uma matéria de revista acerca do encontro às cegas entre as duas equipes de operários e engenheiros ingleses e franceses que escavavam abaixo do fundo do mar quando da construção do Eurotúnel, a conexão do Reino Unido com o continente europeu. Operava-se o milagre tecnológico que possibilitaria às duas enormes brocas escavadoras, saídas de pontos opostos, toparem uma com a outra, com desvio apenas de centímetros, no meio do percurso. Antes dos abraços e do estouro de champanhas, um engenheiro inglês comentou, em tom de deboche, assim que os dois ventos se misturaram: “Que cheiro de alho”.
“Matar cachorro a grito”? Perguntem, agora, ao professor Ari Riboldi, autor do livro “O bode expiatório 2”. É que esse bicho escuta sons inaudíveis pelos humanos, alguns deles agonizantes.
“Elefante branco”, segundo o mesmo Riboldi, advém do Reino do Sião, a Tailândia atual. Um animal assim era uma raridade e, portanto, sempre dado ao rei que podia repassá-lo aos súditos dos quais gostasse. Não servia para nada, dava um trabalho danado, mas ai de quem o recusasse. Hoje em dia, é a obra pública sem serventia, porém custosa aos indefesos contribuintes.
Quer explicação para “bode expiatório”? Abra a Bíblia e vá a Levítico, capítulo 16.Nos anos de 1980, eu acumulava os encargos de correspondente d’O Globo e editor d’O Norte. As duas empresas não concorriam, tinham tamanhos e praças diferentes e, assim, os dois patrões me permitiram o acúmulo. Foi quando vi um corredor polonês na Central de Polícia para a recepção de pequenos larápios, bêbados e desordeiros, em período carnavalesco. A ocorrência dessas prisões alimentaria matéria pautada pelo jornal carioca à guisa de estatística relacionada ao carnaval brasileiro e seus incidentes. Até o ingresso na cela, os infelizes corriam e, na medida do possível, se esquivavam de tapas e chutes desferidos por agentes policiais postados, às gargalhadas, em fila dupla. Quase todos seriam soltos na Quarta-Feira de Cinzas, mas, até lá, a cada ingresso no xadrez animariam a festa dos homens da lei
“Chutar o balde”. Façam suas escolhas. A origem pode estar no chute da vasilha pela vaca leiteira na hora da ordenha. Ou pode remeter aos enforcamentos primitivos, quando os carrascos chutavam baldes sob os pés daqueles com a corda no pescoço.
“As paredes têm ouvidos” desde que Catarina de Medicis, a rainha católica, perseguidora extremada dos protestantes franceses, mandou fazer buracos nas paredes do palácio a fim de ouvir aqueles dos quais suspeitasse. Mas contam que a expressão também é encontrada no alemão e no mandarim.
Diego Almagro, um dos conquistadores da América, perdeu um dos olhos em batalha contra os Incas. Desde então, há coisas que podem “custar os olhos da cara”.
“Voto de Minerva”. Pois bem, Orestes matou a própria mãe e o amante desta para vingar o assassinato do seu pai. Teve o deus Apolo como advogado no julgamento presidido por Atena (Minerva, na versão latina). Com empate na votação dos doze jurados, Apolo pediu o desempate à presidenta do júri. E ela o fez, neste caso, em favor do réu.
“Rodar a baiana” advém de antigos carnavais e dos malandros que beliscavam o bumbum das moças. A fim de protegê-las, alguns capoeiristas vestiam aquelas roupas femininas e metiam os pés na cara dos atrevidos a cada beliscão. Quem estava de fora via a baiana rodar e o estrago disso decorrente. Hoje, é sinônimo de altercação, encrenca, confusão.
“Mudar da água para o vinho” remete, evidentemente, ao primeiro milagre de Jesus. “Puxa-saco”, em sua origem, nominava o soldado raso escalado para carregar os suprimentos dos superiores.
Nada como uma bela gripe, dessas que obrigam o repouso no santo recesso do lar, para a busca de coisas como essas. Por fim, acato reclamações atinentes ao fato de que trato, aqui e agora, de cultura inútil. Eu sei disso, mas, de todo modo, permito-me a diversão.