Durante muitos anos participei de um grupo de leitura no Jardim Botânico, cujo objetivo inicial foi o de lermos obras de compreensão mais complexa como O som e a fúria de Faulkner, Ulisses de Joyce, A metamorfose de Kafka. Depois passamos aos clássicos: Dom Quixote, Fausto, Moby Dick, Madame Bovary, O retrato de Dorian Gray, Mrs. Dalloway, A montanha mágica, entre outros. Nós nos reuníamos uma vez por semana na casa do coordenador do grupo para a troca de leitura e as observações de cada um. O ritmo da leitura era irregular, uns liam mais rápido tínhamos que prestar atenção para não dar spoiler,
mas o sabor vinha das visões diferenciadas, os pontos de vista estimulavam discussões. Com o passar dos anos, líamos obras que ganhavam o Nobel, ou as indicações que um ou outro nos trazia. Era um grupo coeso com muitas afinidades, amantes da leitura, de viagens, que gostava de falar sobre impressões de autores, de cidades, de países e suas diferenças culturais. Um dia nos foi colocada a questão: como começara a paixão pela leitura. Por que nos tornamos tão aficionadas por livros, feito uma exigência do desejo?
Possuo o gosto de falar de livros. Adquiri esse hábito. Porém, dou-me conta de que falar sobre como tudo começou significa contar a própria história e temo incorrer na indiscrição, ou me distanciar do que interessa. Pois ler é esquecer de si mesmo, é uma abertura para o outro, é um estado do ser. Faz anos que o tema me habita, por isso faço uso de colagens que retiro de outras incursões minhas. Falo de lugares desaparecidos, como livrarias que permanecem na minha memória e de como países e lugares acabaram por me imprimir um jeito de ser e de ver o mundo. A colagem se estampa também com algumas citações de autores que gostam de falar de suas leituras e de compartilhá-las, assim recorro às suas impressões para compor a minha narrativa.
A biblioteca de meu pai
“Se me perguntassem o que mais contou em minha vida, responderia: a biblioteca de meu pai.”
“Se me perguntassem o que mais contou em minha vida, responderia: a biblioteca de meu pai.”
Borges
Quando criança eu morava numa pequena cidade sem livrarias, Catolé do Rocha no Sertão da Paraíba. O meu pai se formara em medicina no Recife, de tempos em tempos ele ia por lá e voltava sempre com uma provisão de livros. Além disso, era pelo reembolso postal que ele encomendava seus livros, periodicamente chegavam livros lá em casa.
Naquela época, era a José Olympio a grande editora do Brasil. Ela possuía um catálogo variado e rico em muitas áreas do conhecimento. Papai gostava em particular de história, de literatura e de filosofia. Além dos livros de medicina e muitos dicionários era a literatura que reinava na sua biblioteca. Em suas prateleiras eles se ordenavam por autores, pois possuía vários livros do mesmo autor. Ele lia também em espanhol, francês e latim. Foi na sua biblioteca que descobri pela primeira vez os poemas de Manuel Bandeira, Drummond e autores como Garcia Lorca, Goethe, Nietzsche, Hermann Hesse, Erich Maria Remarque, Victor Hugo, Saint-Exupéry, Zola, Voltaire, Molière, Balzac, Flaubert, Somerset Maugham, Hemingway, Daphne du Maurier, José de Alencar, Jorge Amado, Machado, José Lins do Rego, Axel Munthe, C. Virgil Gheorgorhiu, John Steinbeck. Hoje muitos títulos me escapam.
Havia nessa casa um gabinete de leitura, suas paredes eram forradas de livros, com estantes de mogno e portas de vidro, e um grande bureau apinhado de livros, que eu o achava sempre desarrumado. Percebi mais tarde que era a sua organização da leitura. O cômodo era amplo e iluminado por uma parede de vidro que dava para o jardim e deixava entrar a luz natural. Jardim, modo de dizer, já que não passava de uma terra árida de um vermelho ocre. Apenas uma acácia solitária e nenhum verde. Um grande janelão se abria para a varanda da frente da casa cercada de jardineiras de onde pendiam ramagens de pequenas flores silvestres. Havia aí um balanço de ferro forjado e almofadas listradas de amarelo e branco, era ali o meu canto para ler. Essa casa foi construída por meu pai na parte alta da cidade e ainda se encontra de pé, hoje transformada numa unidade do SUS. Lembro ainda que não tínhamos autorização para entrar em seu gabinete quando ele não estivesse presente, temia que mexessem no que estava lendo, sem falar no ciúme e zelo que tinha pelos livros, de modo que o lugar adquiriu uma aura de fascínio e mistério de coisa intocada. Entretanto, sempre nos deixou livres para escolher o que ler e nos estimulava. Às vezes, quando nos via com determinado livro dizia que não entenderíamos e certamente não iríamos gostar. Essa era a sua maneira de nos orientar na leitura. Sim, foram os livros de meu pai e a sua paixão pelos livros, que deram início ao meu fervor pela leitura.
A iniciação à leitura está aliada também aos primeiros professores. Estudei meus primeiros anos num colégio católico fundado por uma matriarca do lugar que deu nome ao colégio, Francisca Mendes e era administrado por freiras alemãs que haviam fugido da guerra. Pelo menos é o que sempre ouvi dizer. Foi ali o despontar da primeira floração para o sensível, a primeira abertura para um universo cultural, quando aprendi as primeiras lições de piano e cheguei a me apresentar em público em festas do colégio tocando a quatro mãos, também nos foram dados rudimentos da arte teatral: encenei a lenda do Percival, os cavaleiros da Távola Redonda na corte do rei Arthur em busca do Santo Graal. Minhas primeiras leituras nasceram ali naquele improvável espaço de manifestação cultural, o Sertão Paraibano, Catolé do Rocha, um lugar remoto no umbral do tempo, interior do interior. Imagino que é assim que se transmite esse hábito: como um gesto imitado.
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Mais tarde nos mudamos para a capital. Estudei no Colégio das Lourdinas e o Clássico no Liceu Paraibano. Em João Pessoa eu já tinha uma inclinação formada para determinadas leituras, aqui eu mesma escolhia e comprava meus livros. Com o meu primeiro salário comprei os dez volumes encadernados de Dostoievski publicados pela José Olympio, que possuo até hoje. Quando o movimento estudantil se alastrou por todo país era em João Pessoa que me encontrava, foi no movimento que conheci o homem que viria a ser meu marido. As leituras daquela época eram sobre a guerra do Vietnam, os poetas Evtuchenko e Maiakosvky, Pablo Neruda,
Vinicius de Moraes; alguns liam O Capital de Marx, ou Engels: A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Meu namorado teve prisão preventiva decretada e decidiu sair do país. Escolheu Paris. Foi assim que fui morar em Paris.Em Paris fiquei seis anos sem voltar ao Brasil. O primeiro contato com outra cultura, sobretudo, quando não se domina a língua pode ser uma experiência dolorosa. Conheci o sentimento de exílio e solidão, ao mesmo tempo que descobria com assombro a beleza da cidade. Recém-casada, fui amparada pelo marido que ali já se encontrava há um ano com uma bolsa de estudos. Matriculada na Aliança Francesa do Bd. Raspail, comecei a me virar.
Éramos estudantes sem dinheiro, com dificuldades para sobreviver, ainda sem fluência na língua procurei trabalho e fui ser vendedora de perfumes em uma perfumaria no Opera. Mas tive sorte, logo consegui um trabalho mais compensador financeiramente. Eu o encontrei através de uma francesa casada com um pernambucano. Era uma empresa privada de engenharia Engeroute na Rue Rouelle no 15ème distrito. Ali consegui a carteira de trabalho, documento raro de se obter na época, saía assim da clandestinidade e obtinha um salário com sobras para financiar viagens de férias. Ocupava-me da correspondência com o Brasil via telex e arquivava documentos.
Entrar na vida da malha ativa do trabalho permitiu acelerar o desenvolvimento da língua e a compreender o estilo de vida do francês e da cidade. Interagir com o cotidiano deles me fez conhecer o uso dos registros da língua em situações diferenciadas, a decifrar os códigos do comportamento, seus ritos, normas, protocolos, usos e costumes. O primeiro contato com um francês sempre é feito através das impressões do tempo. O clima está no centro de suas preocupações, faz parte de sua gramática das relações com o outro comentar sobre o tempo, se está frio, se chove, ou se faz sol. O seu humor oscila conforme o clima. Só aos poucos vamos adquirindo essa epiderme, aderindo a essa forma de ser. Passei a traduzir melhor a cidade. De repente a descobrimos em sua autenticidade, suas tradições, seu povo, sua polidez convencional, suas manias, suas intolerâncias, seus enlevos, até nos tornarmos um pouco dessa mesma matéria: formais, impacientes, irritadiços, reivindicadores, e, bon-vivants. Adotamos seu hábito de frequentar cafés e bistrôs diariamente. Só então a cidade nos outorga um pertencimento, ao reconhecer suas características no outro. Os lugares nos imprimem jeitos e nós a eles.
Os livros e a visita a museus também nos ajudam a descobrir a cidade. Paris é uma das cidades mais representadas em livros e em pinturas através de movimentos artísticos que se sucedem. Comprava livros de bolso, belos e baratos, mas adquiri o hábito local de frequentar as bibliotecas municipais ou as bibliotecas da Cidade Universitária no Boulevard Jourdan. Dessas bibliotecas, ficou-me a lembrança do vasto silêncio, do tempo lento, da serenidade do lugar, da concentração daqueles rostos, gestos brandos, posturas, livros empilhados sobre as mesas, imagens de enlevo semelhantes ao interior de uma catedral.
Cité Internationale Universitaire de Paris ▪ Fonte: Wikimedia
Lia Flaubert, Maupassant, Balzac, Stendhal, Victor-Hugo, Claudel, Camus, Georges Sand, Cocteau, Radiguet. Com o passar do tempo, matriculei-me na Sorbonne, Paris V René Descartes, em sociologia, curso que frequentei sem nunca finalizar. Passei a ler Bourdieu, Durkheim, Georges Gurvitch, Lucaks, Todorov, Sartre, Roland Barthes, Julia Kristeva, Philippe Sollers. Ao descobrir o MLF, movimento de liberação da mulher, outra literatura passou a fazer parte das minhas leituras: Simone de Beauvoir, Gisèle Halimi e autoras americanas traduzidas para o francês.Alberto Manguel, autor argentino que escreve sobre leituras, diz que nossa biblioteca é nosso duplo, ela revela nossas fases da vida, reencontrar certos livros nos faz lembrar “um eu” por vezes esquecido no limbo de nossa história. O mesmo diz Roberto Calasso, um dos maiores intelectuais italianos, ensaísta e editor, morto em 2021, era um apaixonado por livros:
“Uma biblioteca individual é uma confissão involuntária do dono”.
Mais tarde pediria demissão da Engeroute pensava em retornar para o Brasil. Os colegas ficaram surpresos, fizeram uma festa de despedida e me presentearam com a obra completa de Chopin. Porém, minha vida sofreria uma reviravolta foi o momento da minha separação. Decidi então permanecer em Paris mais alguns anos. Voltei a procurar trabalho e o encontrei como secretária na revista Manchete, que tinha sua sucursal no prestigioso endereço da Place de la Concorde.
Paris sempre foi para mim o próprio solo da leitura. Em toda parte, víamos alguém com um livro na mão: nos transportes públicos, nos cafés, bibliotecas, universidades, nas lavanderias enquanto se esperava a roupa secar na máquina. A leitura parecia ser a própria essência do espírito desse povo. É uma cidade repleta de livrarias especializadas em todos os gêneros do conhecimento. Basta ver a capacidade que tem a televisão de apresentar até hoje programas de grande audiência nos quais só se fala de literatura. O crítico de arte Julian Barnes disse que “já houve uma época na qual os programas televisivos de arte comportavam discussão estética séria.” Muitos devem lembrar-se do programa Apostrophes de Bernard Pivot dos anos 1970 que convidava escritores, intelectuais, filósofos para discutir sobre livros, questões literárias e filosóficas.
Hoje existe às terças-feiras na TV5 o programa La grande librairie em que escritores falam sobre livros e questões atuais desse mundo em convulsão. Lembro de um programa, em que uma escritora turca vivendo em Istambul, Aslı Erdoğan, causou comoção no programa ao falar da descoberta de uma biblioteca secreta existente em meio aos escombros da guerra do Irã. Ao descobrirem os livros, tocaram fogo, mas o grupo voltou a criar a biblioteca em uma Kombi que ficava em movimento para levar os livros até àqueles que precisam da leitura como quem necessita de alimento. O livro pode ser instrumento de resistência. Preservar o livro é salvar uma parte essencial dos homens. Sua humanidade, sua memória, sua imaginação, seu saber.
No século XXI a tecnologia transforma o livro em telinhas luminosas, o livro digital, se lê no computador ou no e-book capaz de armazenar uma biblioteca. Na Antiguidade ele surgiu primeiro na Mesopotâmia em terracota, depois os principais suportes da escrita eram em papiros, rolos de pergaminho, até Gutenberg no século XV criar os caracteres em tipos móveis e com essa ferramenta transformar no livro impresso como o conhecemos hoje. Assim cada homem se forma para o seu século, depois ocorrem mudanças e seu mundo aos poucos desaparece, mas o extraordinário é que o livro se transfigura para garantir sua permanência, transforma-se em outro suporte, a exemplo de alguns animais que têm a capacidade de se camuflarem num ambiente selvagem, como um sistema de defesa de sobrevivência. O livro segue como a vida que segue.
Porém me parece inquietante o desaparecimento de livrarias. Livrarias não são as moradas do espírito?
Em 2007, em um dos meus retornos a Paris, descobri com perplexidade que já não existia a PUF. Eu pensava nessa livraria como uma instituição eterna. Ela era para mim o símbolo da cultura francesa. Ingenuamente pensava que Paris ainda estaria a salvo das transformações radicais que iriam passo a passo apagar certas tradições do seu longo processo civilizatório. A PUF (Presses Universitaires de France) era uma editora fundada por um colégio de professores universitários que chegara a um número da grandeza de três milhões de títulos. Não é pouco. A livraria era localizada no Boulevard Saint-Michel e fazia ângulo com a fachada da Sorbonne ao fundo. Os cafés ao lado estavam sempre repletos de estudantes e professores lendo ou discutindo um assunto.
A Joie de lire era a livraria de François Maspero, editor intelectual de esquerda, situada na rua St. Séverin. Dois grandes entrepostos um de frente para outro, o primeiro especializado em arte, possuía compridas mesas abarrotadas de obras sobre arte, as capas estampadas bastavam aos olhos numa profusão de cores e beleza; o outro especializado em ciência-política. Ali se encontravam muitos escritos sobre as ditaduras dos países latino-americanos. Era ponto de encontro de todos os exilados em Paris. Esta livraria foi a primeira a desaparecer. Outras tantas foram extintas.
No Boulevard St-Germain: La Hune e Hachette. A Gibert-Jeune no Boulevard St. Michel resistiu um pouco, mas já desapareceu. Hoje existe a Gibert-Joseph. Citei apenas algumas do Quartier Latin porque é o bairro das universidades, das grandes escolas universitárias como a École Normale Supérieure na Rue d’Ulm de onde saem os quadros políticos da burguesia francesa prontos para a administração pública. No Quartier Latin também se encontra o Collège de France na Rue des Écoles, instituição de grande prestígio por onde passaram intelectuais como Roland Barthes, Foulcaut, Levis Strauss, Bourdieu, Baudrillard, Raymond Aron, Paul Ricoeur, Merlau Ponty e tantos outros; o bairro acolhe também os tradicionais liceus que formam há séculos gerações e gerações de alunos. O Quartier Latin era o epicentro do acontecimento. Vigor, juventude e energia giravam em torno do livro.
Ainda assim Paris é uma cidade cuja abundância de livrarias faz parte de sua paisagem, como os bouquinistes ainda margeiam o Sena. A livraria L’Écume des pages no Boulevard Saint Germain é ponto obrigatório dos amantes do livro, assim como a livraria Compagnie na Rue des Écoles. A livraria Delamain existe desde o século XVIII e permanece em plena atividade abarrotada de livros, hoje pertence a Gallimard. Situada em frente à Comédie Française, próximo ao Palais Royale. Ali podemos encontrar originais de outros séculos. A Delamain me faz reverenciá-la por ter atravessado os séculos difundindo a literatura, assim como as grandes editoras a Gallimard e a Grasset atravessam os séculos indeléveis. Um livro se faz com muitos mundos.
Recentemente, em abril de 2024, voltei a Paris. Observei que, apesar da existência de muitas livrarias, as pessoas preferem seus tablets e smartphones ao livro em papel. O livro enquanto objeto, de fato, meio que desapareceu da paisagem dos bistrôs.
No Rio de Janeiro, os bairros de Ipanema e Copacabana perderam seu charme ao fecharem suas pequenas livrarias: Dazibao, Saraiva, Galileu, Francisco Alves, Entrelivros, Siciliano, Vozes; a única que resiste é a Travessa, além de desaparecerem da paisagem das ruas, galerias de arte, cinemas e cafés. Em seu lugar, espantosamente, surgiram farmácias uma ao lado da outra.
A mais antiga livraria do mundo se encontra em Lisboa, a Bertrand aberta em 1732 no bairro do Chiado. E a mais bela, dizem, está no Porto: a Lello. Alberto Manguel criou uma exposição virtual com a reprodução das bibliotecas mais antigas do mundo, A biblioteca à noite — eu a vi no SESC Copacabana em 2020. O espectador através de um óculos 3D faz um passeio virtual por vastos ambientes dessas belíssimas bibliotecas numa imersão total seguida por uma narração que apresentava cada uma delas.
Mas eu lia e ainda leio de forma hedonista. Só aprendi a ler de forma mais sistemática quando voltei para o Brasil e resolvi estudar Letras na Uerj. O curso abrangia as literaturas brasileira, francesa e a portuguesa. Tive excelentes professores: Renato Cordeiro Gomes de literatura brasileira, Luiz Costa Lima de teoria literária, Bechara de filologia românica, Serge Bourgea de literatura francesa, Júlio Carvalho e Basílio Rodrigues de literatura portuguesa, Eric Allier seminários sobre Deleuze. Assistíamos palestras de professores convidados como Antônio Cândido, Silviano Santiago, e professores franceses que a Maison de France fazia circular.
A Uerj é a minha pátria, ela me acolheu depois de um longo período na França. Trabalhava e estudava ali. Me envolvi com a sua vida política nas eleições para reitores. Na Editora trabalhei com Ítalo Moriconi, com quem organizava serões de leituras, com Lúcia Bastos iniciamos a publicação da Coleção Comenius na qual professores publicavam seus textos. Eu vinha da Extensão e trazia a experiência de editar as revistas acadêmicas.
Morar em Paris por anos nos molda jeitos, feito uma colagem cubista, mas a pedra de toque que diz quem eu sou está na minha origem, no Sertão da Paraíba, nos valores que meus pais nos transmitiram.
Tardia a minha formação em Letras, tardio meu contato com o Grande Sertão: Veredas, o grande romance da literatura brasileira. A nova linguagem me era familiar, sua dicção sertaneja me trazia de volta às minhas origens. A tensão da narrativa, a poesia, Riobaldo e o seu amor em suspenso por Diadorim faziam de Riobaldo poeta e filósofo ao integrar o sertanejo ao universal.
Mas, antiga a minha paixão pelos livros, esta remonta à infância.