À memória de meu filho Cauê, que amava João Pessoa.
Para iniciar esta conversa, a cidade em questão é essa nossa capital das acácias que já teve diversos nomes até chegar ao atual, João Pessoa. O assunto hoje é ela. Já de pronto, confesso que não aprecio muito cidade com nome de gente. Esclareço que não sou um liberal da velha estirpe e muito menos um perrepista juramentado. Portanto essa minha discordância quanto ao nome de registro (o de batismo foi outro)
de nossa urbe não tem qualquer viés político. Não habita em mim rescaldos da revolução de 30. Simplesmente não vejo criatividade nisso.
Meus leitores e leitoras, Imaginem fosse eu um prócere de nossa república tupiniquim e finda a minha passagem por essas dimensões, um desses políticos baba-ovo resolvesse batizar alguma localidade do nosso interior com o nome deste escrevinhador aqui. Já pensaram? Ficaria eu nos registros do IBGE com não sei quantos habitantes, clima assim e assado, distante um monte quilômetros da capital do estado, e outras informações relevantes para o censo e outras estatísticas. E quem nascesse em Luiz Augusto Paiva, seria o quê? Luizense? Augustense? Ou Paivense? Já viram que não daria certo.
Quando me referi à criatividade linhas atrás não posso deixar de registrar que há cidades com nomes interessantes, leves e que de um modo ou outro, sugerem boas energias endereçadas a quem lá habita. Vejam: Quem está precisando de dinheiro pode ir morar em Fartura (SP). Se está triste, que tal fixar residência em Alegria (RS)? Caso queira esbanjar bom humor vá para Sorriso (MT). Se a família precisa parar de arengar, pode-se mudar para Harmonia (RS). Mas se você anda fazendo bobagens na vida, é melhor residir em Bom Conselho (PE). Caso esteja preguiçoso, sem vontade de trabalhar é melhor encostar seu esqueleto em Descanso (SC). Pode ficar sem perspectiva na vida, aí nem precisa ir muito longe, aqui na Paraíba temos Esperança que está a 110 km da capital. E assim por diante...
Algumas almas menores poderiam estar pensando que tenho lá minhas diferenças com nossa cidade. Longe disso. Só acho que o nome poderia ser outro. Escolhi aqui para viver o outono de minha vida e essa escolha vem de uma paixão quase visceral desde um distante 31 de Janeiro de 1987 quando coloquei meus pés nesse nosso chão. Paixão à primeira vista. E que paixão! De agregado neste solo abençoado, fui alçado à qualidade de filho adotivo quando me foi concedido pela Câmara Municipal o título de cidadão pessoense em junho de 1992, “por relevantes serviços prestados à educação de nossa cidade”. Dos sete rebentos que coloquei neste mundão de Deus, três são pessoenses.
E assim de um jeito ou de outro, fui me apegando à cidade, à sua gente, ao seu modo de vida. Sempre que posso, estimo ir ver o Sol ir escapando do mar para fazer sua trajetória azul até lá bem depois do Sanhauá. É meu modo singelo de inaugurar meus dias. João Pessoa (estou me referindo à cidade e não ao falecido) me deu régua e compasso e é com eles que vou desenhando minha história, ou pelo menos o que ainda falta dela.
Não bastasse esse privilégio de viver aqui, tempinho atrás recebi uma honraria, uma lisonja, que me fez exercitar com denodo essa paixão por nossa Flilipeia. Vou contar:
Ricardo Pinheiro, lá da Livraria do Luiz, teve a iniciativa de editar a história de nossa cidade em quadrinhos. Ao historiador José Octávio de Arruda Mello coube a pesquisa e o texto, este modesto colunista encarregou-se da adaptação do escrito de José Octávio aos quadrinhos. Martinho Sampaio fez a diagramação e Ed França, as ilustrações. Breve ocorrerá o lançamento; e, colocando às favas, qualquer modéstia, “João Pessoa, uma cidade em quadrinhos” é obra consistente, relatando fatos curiosos, trazendo à luz heróis esquecidos, relembrando atos de bravura, a busca da liberdade e nossa importância na construção desse país. De fácil leitura, o encantamento das ilustrações, a obra certamente será um marco em nosso mercado editorial.
Mergulhar na pesquisa de José Octávio, viajar pelos traços de Ed França reacendeu essa minha benquerença por essa pontinha encantada das Américas.
Então, meus caros e caras, apesar de não concordar em batizar cidade com nome de gente, João Pessoa reúne tudo aquilo que disse linhas atrás acerca das possibilidades que o nome daquelas cidadezinhas sugerem. Tudo aquilo e muito mais numa cidade só: aqui.