Tendo ficado para trás o tempo em que a mulher escrevia usando pseudônimo para poder publicar seus textos, quando se atrevia a fazê-l...

A Sinfonia de Ana

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Tendo ficado para trás o tempo em que a mulher escrevia usando pseudônimo para poder publicar seus textos, quando se atrevia a fazê-lo, percebemos a fartura de obras e expressões acerca de tantos temas que surgiram, aqui e em outras partes de nosso país.

Falo de nosso país para não adentrar na seara alheia, porque, em países como a França, por exemplo, a presença das mulheres foi marcante na sua história cultural e na luta com forte apelos políticos e sociais.

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Darius Bashar
Ao tempo em que a mulher se libertou da tutela e dos gritos, sua voz ressoou aos quatro cantos, mesmo lembrando um címbalo a ressoar distante, mas foi um avanço formidável nas últimas décadas.

Na Paraíba, no limiar do século passado, tivemos mulheres que impuseram bandeiras nas áreas de cultura ainda necessitadas de maiores debates acerca de seus trabalhos. Deixaram as prendas domésticas para se aventurar em mares somente navegados por homens, remando em seus barcos à vela, usando o rumo dos ventos, ondas intransponíveis se tornaram menores.

No ano de 1914 a jovem poetisa Eudésia Vieira, desafiando o tempo, assumiu a atividade de professora na distante cidade de Serraria. Deixou a casa paterna com pouco mais de 18 anos, foi e deu conta do recado. Retornando à Capital, assumiu a mesma atividade de professora, casou, teve filhos e, por volta de 1935, decidiu ser médica. Cursou Medicina, em Recife, para onde se deslocava toda semana. Criou filhos, foi uma boa profissional e escreveu muitos livros de poemas e sobre a História da Paraíba.

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Eudésia Vieira Biblioteca Nacional
Lembro destes acontecimentos depois de ter em mãos o livro “Mulheres – Escritos, Jardins e Uivos”, da escritora Ana Adelaide Peixoto, recentemente lançado. Após recebê-lo, logo comecei a leitura. Sabendo da força de expressão dos textos da professora Ana Adelaide, porque sou leitor contumaz de suas crônicas, que há anos são publicadas nos jornais impressos e nos sites de notícias, acariciei o livro e beijei suas folhas, como costumo fazer, repetindo gestos de Gonzaga Rodrigues. Gonzaga vai mais além, porque, conforme confidenciou, tem livros que são tão bem editados, de beleza estética, que “dá vontade de comer”.

Com relação ao novo livro de Ana Adelaide, logo tive vontade de degustar como alimento espiritual. Passei instantes acariciando, folheando, observando o desenho da capa do inigualável Flávio Tavares.

Quando Angélica entregou-me o livro dizendo: “Ana Adelaide mandou para o senhor, painho”. Larguei “O Amante”, de Marguerite, para contemplar o presente que Ana Adelaide nos ofereceu. Na mesma boca-de-noite, quando recebi o livro das mãos de
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Maria Vilani de Sousa@facebook
minha filha, iniciei a leitura, quase sem parar. Ao final, como costumo fazer, passo à apresentação da obra da professora Maria Vilani de Sousa, para descobrir o que não consegui observar durante a leitura.

Concordo com a professora Vilani, quando ressalta que nos textos de Ana, “há algo de ancestral, talvez atemporal”, porque “ecoa a voz de todas as mulheres”. Sempre de olhos abertos à realidade que nos cerca, Ana é uma escritora que escolhe os melhores temas, abordados com fina sensibilidade.

Mesmo quando recorre à memória, ela descreve as passagens de sua vida e da paisagem que a rodeiam, com profunda sensibilidade. Lemos seu livro, aliás, relemos, porque muitos dos textos saíram das páginas dos jornais para ganhar perenidade em livro, como ouvir uma sinfonia. Seria como a “Nona Sinfonia” de Beethoven, que causa rebuliço quando a escutamos. É arrebatadora a prosa de Ana Adelaide.


Quando se lançou autora de crônicas e artigos, abordando diferentes temas desde 1990, porque escritora sempre foi, Ana Peixoto penetra nas paisagens humanas e sociais com certo fervor, dando opiniões que ajudam nas conquistas de espaços por parte das mulheres.

O conjunto de seus textos dão a dimensão da cronista que se tornou, uma das mais atuantes. Lembra a jornalista Maria José Limeira, uma inquieta cronista e contista, que povoou as páginas dos jornais da Paraíba nos anos de 1960 e décadas seguintes.

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