Martin Mordechai Buber (1878 – 1965) foi um filósofo, teólogo, escritor e pedagogo austríaco. Sua obra filosófica Eu e Tu, publicada em ...

Unidade na diversidade

Martin Mordechai Buber (1878 – 1965) foi um filósofo, teólogo, escritor e pedagogo austríaco. Sua obra filosófica Eu e Tu, publicada em 1923, versa sobre o diálogo e a relação humana. O pensador desenvolveu uma teoria centrada na ideia de que o sentido da existência humana está no honesto relacionamento dialogal, o qual prioriza o respeito para construir a dignidade entre os seres humanos, e que os objetos e o mundo necessitam de interações para existirem. As palavras-princípio, “Eu-Tu” (relação), “Eu-Isso” (experiência), demonstram as dimensões da filosofia do diálogo que, segundo Buber, dizem respeito à própria vida. O diálogo em Buber está relacionado ao conceito de encontro.

Martin Mordechai Buber Jewish Museum (NY)
Na relação “Eu-Tu” o "Eu" encontra o "Tu" de maneira honesta, a qual respeita a diferença do outro. Por meio do diálogo, o outro é visto como sujeito da própria dignidade, e não como um objeto a ser manipulado ou categorizado. Assim, cria-se um encontro de existências, que gera a reciprocidade e a compreensão mútua, sejam entre entidades, sejam elas pessoas, natureza, ou até o Divino. É uma forma de se relacionar em que o outro (o "Tu") é reconhecido em sua totalidade, singularidade e pertencimento.

As Características da relação "Eu-Tu" são:

Reciprocidade - ambos se reconhecem como sujeitos, e não como objetos. O "Tu" é o ser com quem se entra em concordância e comparticipação;
Presença harmoniosa - O "Tu" é encontrado de forma direta, sem intermediários. O "Eu" e o "Tu" estão presentes no momento do encontro, o que faz dessa relação algo verdadeira e transformador;
Transitoriedade - As relações "Eu-Tu" são passageiras. Não se pode permanecer continuamente nesse estado, pois a vida cotidiana exige aos seres humanos lidar com o mundo de maneira funcional, no modo "Eu-Isso". No entanto, os momentos "Eu-Tu" são essenciais para dar sentido à vida;
Alteridade - Na relação "Eu-Tu", o "Eu" respeita a diferença e a singularidade do "Tu". Não há a redução do outro a categorias predefinidas.

As aplicações do "Eu-Tu" estão: nas relações humanas, que existe na amizade, no amor ou em encontros espirituais; na relação respeitosa com o mundo, que pode se referir à natureza, à arte ou às pessoas; na relação com o Divino, o qual Buber propõe que o "Eu-Tu" com Deus é a forma mais elevada de encontro por meio da transcendência. Para ele, Deus é o "Eterno Tu", aquele com quem se pode ter a máxima realização humana e espiritual.

PxB
O conceito de "Eu-Isso" em Martin Buber se refere a um tipo de relação em que o outro (seja uma pessoa, objeto ou qualquer entidade) é tratado como algo a ser utilizado, manipulado ou conhecido, sem o reconhecimento da sua totalidade e singularidade. As características do "Eu-Isso" são:

Objetificação - Na relação "Eu-Isso", o outro é um "isso", ou seja, é um objeto que existe para servir a uma necessidade utilitária do "Eu";
Distanciamento - O "Eu" está distante do "Isso". Não há envolvimento emocional, e o "Isso" é utilizado sem uma verdadeira conexão;
Conhecimento categórico - Na relação "Eu-Isso", o "Eu" categoriza, analisa e classifica o "Isso". O outro é entendido de maneira pragmática, por meio de conceitos e definições, o que impede uma relação respeitosa;
Foco na utilidade - No "Eu-Isso" há a desumanização em usar o outro ou se apropriar de objetos materiais para satisfazer interesses egoístas;
Relação inevitável - Buber reconhece que a relação "Eu-Isso" faz parte da vida cotidiana, a qual conduz a perda de sentido à existência e dignidade humana.

As aplicações do "Eu-Isso" estão:

Relações humanas - "Eu-Isso" ocorre quando o outro é tratado como um meio para alcançar algo, geralmente é encontrado no ambiente de trabalho, nos negócios ou em interações superficiais;
Relação com o mundo - O "Isso" pode ser qualquer objeto, ser ou fenômeno que é considerado de maneira impessoal e de apropriação.

Martin Buber defendia que o diálogo respeitoso proporciona a unidade na diversidade, o qual torna um processo de crescimento mútuo, unindo pessoas, o mundo e Deus.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também