* De José Nêumanne Pinto sobre seu amigo Vladimir Carvalho, em 24 de outubro de 2024, data de sua morte
Carlos Aranha me apresentou a Vladimir Carvalho no final dos anos 1960, quando dava com a ajuda de Manfredo Caldas cursos de cinema emprestados por João Córdula, diretor da Ancine em João Pessoa e tio do artista plástico Raul Córdula. Ele fazia parte da leva de cineastas paraibanos como Linduarte Noronha, cujo documentário, Aruanda, mereceu um capítulo inteiro da nossa bíblia cinéfila, Revisão Crítica do Cinema Brasileiro, de nosso ídolo-mor Glauber Rocha. Vladimir dizia que foi parceiro no filme, Linduarte negava. Sempre acreditei na versão de Vladimir. Sempre acreditei em Vladimir, conterrâneo do maestro Sivuca, de Itabaiana, sim, senhores.
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Quem também não se lembra daquele filme? Da geração de Ipojuca Pontes, do genial Os Homens do Caranguejo, Vladimir, irmão do fotógrafo Walter Carvalho, dirigiu, entre outros, Vestibular 70 e Incelência Para um Trem de Ferro. O selo da qualidade de sua direção estava no excepcional retrato de alguns entre os maiores paraibanos de todos os tempos, casos de José Américo de Almeida, em O Homem de Areia, e José Lins do Rego no filme à altura do personagem O Engenho de Zé Lins.
Mas ele nunca foi só um retratista de celebridades, comprova Conterrâneos Velhos de Guerra, sendo ele um deles, um de nós. Ou ao registrar de forma original temas populares, como foi o caso de Rock Brasília.
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O diretor caprichou na escolha dos parceiros: o maior poeta vivo da Paraíba, Jomar Moraes Souto, escreveu especialmente para o filme um poema magnífico; o maior teatrólogo de nosso Estado, Paulo Pontes, narrou o filme; e Manoel Clemente, o diretor de fotografia, trabalhou de graça, o que era comum à época.
O filme, iniciado sob o título O Sertão do Rio do Peixe, em 1966, era inicialmente um curta metragem, mas uma estação muito chuvosa forçou o adiamento das filmagens que foram retomadas em 1967, quando se incluíram novas cenas em 35 milímetros. E a terceira no final de 1970, ano de sua conclusão. A estréia, marcada para o Festival de Cinema de
Plínio Marcos
Biblioteca Municipal Thales C. Andrade
Biblioteca Municipal Thales C. Andrade
Em votação com dezenas de críticos e pesquisadores de cinema, organizada pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema, o filme foi eleito como um dos melhores documentários da história da sétima arte.
Para Isabel e para mim a consagração de Vladimir é justa, mas não ameniza a dor de sua ausência de homem reto, digno e talentoso de nosso convívio.
José Nêumanne, Maria Isabel Pinto e Vladimir de CarvalhoAcervo do autor