A política, por definição, é o espaço onde se articulam e se organizam os interesses de grupos e indivíduos em busca do bem comum. No entanto, quando a perversidade humana se infiltra no processo de construção do bem-estar social, os princípios básicos de justiça, igualdade e transparência são subvertidos por interesses egoístas, muitas vezes impulsionados por distúrbios psíquicos.
A ética política propõe que os governantes e representantes eleitos ajam com responsabilidade, sempre visando o bem coletivo e o respeito às normas e leis estabelecidas. Porém, quando a maldade se manifesta, o poder é utilizado para servir a interesses pessoais de maneira desonesta e cruel. Consequentemente, a perversidade se apresenta de várias formas, como corrupção, manipulação da verdade, uso da violência, exploração de divisões sociais e culturais, bem como na implementação de políticas excludentes ou opressoras. O político perverso age em benefício de grupos restritos que desprezam os impactos negativos de suas ações sobre a sociedade. A impunidade facilita o comportamento antiético. Nesse contexto, Zygmunt Bauman (1925-2017), sociólogo e filósofo polonês, em seu livro Em busca da política, publicado em 1999, estudou a burocracia moderna e a fragmentação de responsabilidades na administração pública. Para o pensador, o excesso de procedimentos e as falhas administrativas diluem a noção de culpa, criando um ambiente onde atos perversos, como injustiças, são praticados sem que ninguém se sinta diretamente responsável.
A perversidade política tem consequências devastadoras para o tecido social. Ela elimina a confiança nas instituições, destrói o senso de justiça e conduz ao colapso da ordem democrática. A corrupção sistêmica, o abuso de poder e a manipulação das regras para servir a poucos alienam os cidadãos da participação ativa na política, criando uma sociedade cínica e desmotivada com o processo democrático. Além disso, a perversidade acentua as desigualdades e viola a dignidade humana, como ocorre em regimes autoritários onde opositores são silenciados, minorias são perseguidas e a sociedade civil é reprimida. Em democracias mais frágeis, o ódio e a crueldade se manifestam na perpetuação de políticas que beneficiam elites econômicas, enquanto grande parte da população permanece alienada em seu senso crítico, crenças religiosas ou ideologias.
Algumas condições psíquicas podem agravar tendências de comportamento disfuncional. Por exemplo, o narcisismo patológico gera comportamentos destrutivos. Políticos com essa condição têm a compulsão de obter poder para satisfazer o engrandecimento pessoal, em vez do bem público. Outra característica é a dificuldade em aceitar críticas, resultando em reações violentas e vingativas contra opositores. Há também o Transtorno de Personalidade Antissocial (sociopatia), caracterizado por um padrão crônico de desprezo pelos direitos e sentimentos dos outros. Políticos com esse transtorno violam normas e leis com frequência, sem sentir remorso ou culpa, utilizando a manipulação e a mentira para alcançar seus objetivos, tornando-se indiferentes ao sofrimento humano. O Transtorno de Personalidade Paranoide, por sua vez, se manifesta por uma desconfiança excessiva e suspeitas infundadas sobre os outros, o que pode resultar em desconfiança extrema de aliados e oponentes. Isso dificulta o trabalho em equipe ou a formação de coalizões. Esse transtorno também pode levar à crença de que estão sendo perseguidos ou traídos, além do uso excessivo de medidas de segurança, de forma a restringir liberdades civis sob a justificativa de proteger o Estado.
A deterioração da saúde mental de políticos que ocupam cargos de poder tem aumentado em muitos países. Isso tem destruído o bem-estar social e a dignidade humana em diversas regiões. A perversidade política pode ser combatida por meio de movimentos sociais e pela participação cidadã através de um voto consciente e pela reconstrução do senso crítico. Para isso, é necessária a educação política; quanto mais as populações compreendem os mecanismos do poder e os efeitos de suas decisões eleitorais, menos suscetíveis se tornam a manipuladores ou líderes que agem de forma cruel. A formação de uma cultura cívica fundamentada na justiça e na solidariedade também ajuda a eliminar as tendências perversas na política, evitando o enfraquecimento das políticas públicas que visam o bem-estar social. É possível resistir e combater essas práticas de ódio por meio do fortalecimento da mobilização social para garantir a justiça social, e do estudo dos clássicos que tratam da ciência e filosofia política. Dessa forma, cria-se uma consciência pessoal e uma cultura coletiva para que a política cumpra sua função na construção do bem comum e de uma sociedade mais justa, solidária e feliz.