O professor Hildeberto Barbosa Filho completou setenta anos revelando sua paixão pela poesia, pelos livros, pelos pássaros e pelos cavalos, tentando decifrar o mistério das pedras que formam a paisagem do lugar onde nasceu.
Nascemos no mesmo ano, tendo ele brotado nas terras esturricadas do Cariri das pedras, e eu germinado no Brejo das serras e dos ventos. Carregamos a mesma sina de perceber as vozes das pedras e das serras, sempre buscando as musas que inspiram e removem os pedregulhos das veredas por onde passamos.
Para falar dele, a partir da nova Primavera, não poderia esquecer de abordar a paisagem onde Hildeberto nasceu. Fonte de sua criação poética, ele sabe distinguir, com arrojo, o mundo visível e invisível porque cresceu ouvindo ao redor as pedras a repicarem os sons noturnos, com seu mistério silencioso a invadir os declives da terra até o rio Paraíba. Tudo alimentado pelo cio da vegetação que rompe os cascalhos entre as rochas, a mãe terra beijada pelo sol e pelo vento.
O mundo de Aroeiras está atado à alma desse poeta.
Quero lembrar os setenta anos do poeta escutando os ventos e as chuvas, os seixos, as macambiras, as juremas e os mandacarus de sua terra.
Professor em estado de repouso, estudioso das letras e poeta em tempo integral, Hildeberto tenta manifestar os mistérios da alma. Na sua poesia, afloram as imagens poéticas das pedras de Aroeiras, no amanhecer, ao meio dia ou no pôr do sol. Desde criança, ali encontra as matrizes de seus sonhos, usadas com sutilidade, às vezes de maneira imperceptível.
Sua poesia é um apelo às musas de Aroeiras que, com suas incansáveis vozes reveladas no eco do vento entre as pedras, buscam atingir os corações.
Para encantar as almas e iluminar os corações, regidas pelos ventos, as pedras, como flautas, soltam uma sinfonia de muitos instrumentos e muitas vozes que, de longe, se escuta. As malacachetas sinalizam ao longe a direção da pedra luminosa no meio das grutas.
O poeta Hildeberto verte para a poesia paisagens que se misturam no entardecer da vida para, pouco a pouco, fertilizando o ambiente humano, se fundir em um magnífico concerto.
Os poetas nos ajudam a descobrir os segredos guardados nas veredas da alma. Ele sempre fez isso com sabedoria.
As pedras acompanharam o menino que, ao redor da fazenda da família, imitava o uivo do vento que se estendia por todo o horizonte até descambar em Pirauá, seguindo um trecho do espinhaço da Serra da Borborema. Aroeiras é um pedaço da grande sinfonia das pedras que cortam a Paraíba.
É esse mundo magnífico, de pôr do sol revelador, motivo da poesia de Hildeberto, uma poesia carregada da solidez das pedras.
O somatório da harmonia da natureza existente em Serraria e Aroeiras, tentamos levar para a poesia. Aos setenta anos, somos dois personagens em busca da poesia.
Se pudéssemos contar as rochas do lugar, distinguiríamos a ação misteriosa, natural e teologicamente atuante do tempo que transforma o homem a cada renovação da paisagem. Mas o homem-poeta canta cada pedra em seus versos, como tributo de arquiteto amoroso.
Hildeberto é o poeta que escuta a voz das pedras e do vento. A poesia dele é uma imersão nas fronteiras sem margens na região das pedras e do Vale do Paraíba.
Recentemente, ele escreveu uma página que define sua nova idade na poesia, quando fala das múltiplas vidas que deveria viver. O seu encanto está no reino das palavras, com seus sortilégios e imperativos. O que vem se completar, acredito, nas paisagens de sua terra. Uma vida entrelaçada com nutrientes da imaginação libertária, mesmo que intangível e solitária.
Sendo um bom professor, Hildeberto se transformou em um bom crítico de literatura. Sempre venceu a batalha numa constante escolha da palavra, nessa luta comovente que emociona a todos escritores e poetas.
Se Aroeiras é uma paisagem na memória, a sua passárgada é a biblioteca de sua casa apipada de livros, onde encontra os caminhos que levam a compreensão da arte e o ambiente para a sua criação literária.