Os montes curvos, em suas cabeças de pedra talhadas pela sucessão dos séculos. Em suas solidões demarcam temporalidade de que ninguém tem conhecimento. Desafiadores em seus sepulcrais aspectos, mudos e surdos, quais esfinges esculturadas pela natureza. Em seus aspectos e formosuras não veem nem escutam, totalmente pétreos e paralisados, deitados para sempre, a descansarem dos tormentos da obra esculpida pelos transtornos da evolução, em desmoronamentos e reconstruções fenomenais.
Eles nos atormentam ousados em suas posições imutáveis, alguns coroados de verde ou revestidos de manto vegetal. Parecem aos iconoclastas sejam ídolos que se colocam à distância e se comprazem em absorver os uivos dos louvores dos ventos. Ou a serem iluminados pela tocha do sol, num ritual de cada dia, ao amanhecer e ao entardecer. Nas noites desnudas ou revestidas pelo piscar das estrelas ou da macia luminosidade da lua se aquietam ou se escondem, deixando apenas a silhueta que faz mexer na imaginação de quem ousa contemplá-los.
Seus recortes sombrios se imiscuem na densidade da escuridão noturna e os tornam fantasmagóricos a causar em quem os contempla a sensação de medo, de mistério, de mitológica sensação. Não é à toa que os montes figuram como fortes simbolismos dentro do contexto religioso dos povos. O Mistério se refugia nas alturas e deve ser inacessível aos pobres mortais. Moisés, a grande figura do Antigo ou Primeiro Testamento sobe o Monte Sinai para, naquela solidão e naquele gesto de fé, receber os ditames legais do Deus de Abraão, Isaac e Jacó: legado cultural que atravessou séculos e continua em plena vigência, dentro da visão do legalismo teocrático, código sagrado que conseguiu se alinhar no Povo Hebreu e tornar-se de um universalismo ímpar.
Hoje, os Dez Mandamentos continuam a conduzir as gerações de raízes judaico-cristãs. Foi num Monte, já nos alicerces do Cristianismo, os montes são figurativos e centralizadores da enunciação dos postulados da sabedoria de Jesus de Nazaré para proferir as suas mensagens: o Sermão da Montanha, onde a Palavra colhida pela tradição e consubstanciada no Novo ou Segundo Testamento é de uma riqueza e pluralidade inesgotável pela sabedoria superlativa, que demarca lição de amor espalhada qual bálsamo por todo o mundo. Os montes são tidos e havidos como colossos circunspectos, verdadeiros recantos, quando acessíveis, para que sejam postas em prática atividades as mais importantes, segundo cada contexto humano a ser demonstrado como catalisadores de atenção e convergência.
O desafio dos montes e montanhas leva aventureiros alpinistas a alçarem suas coragens em busca do desconhecido, procurando desvendar o segredo secular dos blocos de pedra que se fincam sem explicação na paisagem. Para sempre sisudos.