As latas e as garrafas espalhadas pelo canto da varanda nas alturas de um endereço encantado são testemunhas e enumeram a lista de amores e anos juntos. Tudo amarrado em Recife, Parahyba, Campinas, Guarulhos e terras alhures, passagens em Minas e Paraíba. É hora de sorrir ao som das falas das vozes conhecidas até a madrugada chegar, à espera do primeiro sol do dia que desmergulha do Atlântico.
A música solta todas as amarras das memórias na cantoria. E toca Zé Ramalho, Alceu Valença, Roberto Carlos e outras tantas canções emaranhadas nas memórias. É a batida do bumbo das histórias antigas e novas, perdidas e achadas, no tempo, resgatadas nas faces, olhares e sorrisos, gestos e gestações, idas e vindas dos dias de feiras e cantigas pelas esquinas dos tempos.
E todos os frutos que surgem no reencontro recriam cenas e geram novos ramos e sentidos. Cidades, trilhas, cachoeiras e caminhadas pelas passagens secas e molhadas. Tudo é fartura na água da chuva acumulada num canto da passagem do caminho. Por ali, só as versões, impressões e imprecisões do íntimo de cada um.
E corre a noite líquida desde as suas primeiras horas até às horas mortas/vidas da noitada... E no recanto se acumulam velhas e novas latinhas, garrafas de vinho e aventuras, uma enciclopédia particular da própria vida. O alumínio e o vidro recostados esquentam o vazio dos anos espaçados, mas, seu conteúdo aquece cada presença em tantos brindes.
As palavras se balançam com os goles e ficam mais sóbrias diante das afinidades do reencontro marcado. O sono será o bálsamo das desconexões da noite que jamais findará, pois é arquivo vivo a se reproduzir em novas leituras. Até lá, a realidade embriagada comanda qualquer cronologia.
Da varanda, as luzes dos barquinhos afluem na água e balançam com o mundo enquanto os olhos marejam em lágrimas felizes ao divisar horizontes de sóis e luas. Brindes, beijos, brincadeiras, piadas, opiniões e alegrias suspendem o tempo astutamente paralisado.
O relógio é um controlador indesejado ali e as fotos se perdem nas memórias chipadas para reaparecem em outros verões. Tudo é feito trem que apenas segue a irredutível ordem dos trilhos a ordenar a marcha à frente. E dormentes ficam os joelhos que não conseguem mais caminhar, mas que já andaram por muitos mundos.
As latinhas recolhidas ao amanhecer serão recicladas como todas as experiências da noite anterior. E retornarão como novas embalagens para o precioso líquido humano e novos brindes. Pois, a vida é uma ótima festa. Saúde!