Poucos paraibanos tiveram na infância contato com os livros mais do que José Américo de Almeida. Criança, residindo em Areia com o tio padre, de quem recebia esmerada educação, às suas mãos chegavam a melhor literatura e o fruto do pensamento greco-romano. O religioso apontava os caminhos pontilhados da sabedoria.
Foi alimentado pelos ensinamentos de Aristóteles e Platão. Saiu de Sêneca para chegar a Dante com muita desenvoltura. Recebeu a Patrística e desembocou nos conceitos da espiritualidade e na mística, antes de chegar a Santo Agostinho. A formação clássica povoou a adolescência de José Américo. O menino crescia no intuito de seguir o sacerdócio, baseado nas doutrinas evangélicas e paulinas.
Aristóteles / Platão / Sêneca / Dante CC0
Não recebeu a estola, mas carregou consigo o mais elevado gosto pelas artes. A literatura entrou na sua vida quando estava sob o teto do tio padre. Esse gosto o conduziu por toda a vida.
Governante, na paisagem das decisões, nunca se negou assinalar caminhos para reciclar o saber. Agiu nessa direção quando assumiu o governo da Paraíba, em 1951, tratando com denodo as coisas da cultura. Com o olhar franciscano, descobria as dores do povo. “Não há nada mais penoso do que morrer de fome na terra de Canaã”, frase lapidar constante n’A Bagaceira.
No seu governo, foi criada a comissão para tratar das comemorações dos 50 anos de nascimento do romancista José Lins do Rego, acontecidas em 1952. Com suas atividades realizadas em Pilar, terra natal do escritor, o evento teve participação de renomados jornalistas e escritores amigos de José Lins, vindos do Rio de Janeiro para a inauguração do seu busto.
Nessas homenagens, foram prestadas reverências ao autor de Menino de Engenho em João Pessoa, Campina Grande e Pitimbu, sempre rodeado de admiradores.
Depois dessas homenagens, José Américo avançou, ainda mais, com o olhar voltado para a literatura, a filosofia, a sociologia. Apoiou a criação do Centro de Estudos e Pesquisas Tropicais Gilberto Freyre, que visava aglutinar expressivas figuras da cultura paraibana, promover a análise dos problemas sociais e históricos da Paraíba. Essa ação se irradiou por todo o Estado.
Se, com A Paraíba e seus Problemas, José Américo de Almeida apontava para veredas indispensáveis ao conhecimento de nossas oportunidades econômicas e sociais, como governador, em diversas oportunidades, não afastou seu olhar dos caminhos que levariam a melhorar a condição de vida das populações mais necessitadas.
Com o livro Casa Grande e Senzala, e outros estudos, Gilberto Freyre abriu caminhos para o Brasil discutir sua identidade. Os estudos sociais passaram a despertar grande interesse, devido à mentalidade desse expoente do pensamento latino-americano que trouxe a reflexão sobre a realidade social, a história do povo. José Américo criou oportunidades para fazer a Paraíba conhecer a si mesma, com o surgimento de novos intérpretes da realidade da conjuntura econômica e social. Abriram-se novos horizontes ao pensamento construtivo.
A proposta abraçada era no sentido de se trabalhar em equipe, com pesquisas de caráter social e econômico, de modo a auxiliar o governo a administrar a Paraíba. Estendendo seu raio de ação a todo o Estado, o Centro de Estudos e Pesquisas Tropicais Gilberto Freyre tinha, na sua composição, escritores e homens de elevado saber como Juarez Batista, Geraldo Sobral, José Lopes de Andrade, Joaquim Ferreira e Juarez Macedo. Em Campina Grande, estava à frente dos seus trabalhos Dumerval Trigueiro e, em Patos, José Urquiza.
A proposta era publicar obras abordando os temas das conferências proferidas, os debates sobre sociologia, esclarecimentos acerca da realidade da Paraíba.
Homem ligado às artes e à literatura, mesmo que a política o tenha desviado para outras paisagens em diferentes fases de sua vida, José Américo sempre colocou o livro em primeiro plano. Os tempos eram outros.