Praça foi feita para a gente sentar. Fiquei sozinho, numa noite dessas, num banco de praça que o prefeito montou no Retão de Manaíra...

Instante da vida toda

Praça foi feita para a gente sentar. Fiquei sozinho, numa noite dessas, num banco de praça que o prefeito montou no Retão de Manaíra. Filha e netos mandaram parar no acostamento enquanto postavam uma encomenda nos Correios do outro lado.

E comecei a me sentir sozinho, único a utilizar a benfeitoria municipal. Já passava do jantar e a pracinha inteiramente vazia, sem namorados, sem ao menos um outro velho que viesse arriar ali o seu cansaço.

Flávio Ribeiro Coutinho
Rodolfo Ribeiro Coutinho
Saí passeando, as mãos para trás, parando na erma erguida ao velho Flávio Ribeiro Coutinho. As esculturas de hoje já não se sentem obrigadas a guardar fidelidade aos traços originais. Esta lembra apenas o rosto do homenageado. Mas não parece tão viva quanto a do general Álvaro Machado na praça do bispo. Nem a de Augusto na Lagoa. Sobra apenas um certo ar de surpresa do governador quando o finado Egidio Madruga disse a ele quem eu era.

Egídio, sim. Foi quem me batizou de Neguin. O batismo viera da Casa do Estudante, das súcias estudantis, mas a vigência na Corte desse apêndice afetuoso a meu nome, por oposição ao “Negão” dado a Antônio Feitosa, da mesma turma de “A União”, teve a demão forte de Egidio.

Egidio trabalhava no gabinete do dr. Flávio Ribeiro, era o oficial de gabinete do usineiro mais importante da Paraíba alçado ao governo. Rico, mandão, dr. Flávio dissipava o mando
Egídio Madrugal
A União
da sua condição usineira pelo ar brincalhão, sempre curtindo o gosto por uma tirada de humor ou uma boa piada. O escultor deveria ter acentuado esse vinco, esse acento bem-humorado no canto dos lábios do velho usineiro.

Moço ainda, Egídio juntou a verve de nascença à do convívio com o primeiro grande chefe. E na hora que cheguei lá para a anotação rotineira das visitas e audiências concedidas pelo governador, a mandado do jornal, quem me introduziu, bem a seu modo, no gabinete vetusto, foi Egídio.

Dr. Flávio chamava todo mundo de “o senhor” e se viu sem jeito quando me apresentaram como “o neguinho”. “O senhor é de onde?” – foi perguntando. / “Não é senhor, não, doutor. É o nego Gonzaga, o Neguin”- apresentou-me.

E dr. Flávio, que costumava encabular, encabulou-se.

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