Eles e elas gostam de ser chamados de influencers, em inglês. Isto já diz muito sobre tais pessoas que pretendem influenciar muitas outras e com isso ganhar notoriedade – e dinheiro, muito dinheiro, of course. Atualmente são uma verdadeira praga nas redes sociais, virou uma profissão, um projeto de vida, um meio de vida e, não raro, a própria vida desses e dessas figuras, a maioria desconhecida fora do círculo de seus seguidores.
Esta palavra, seguidores, também diz muito sobre aqueles e aquelas que acompanham fielmente os tais influenciadores. Não sei por que, mas ela me traz logo à mente uma outra que me dá arrepio: fanatismo. E em seguida penso nos que, às centenas, seguiam cegamente, sempre cegamente, Antonio Conselheiro, de Canudos, o messiânico e rude personagem tão bem retratado por Euclides da Cunha, em Os Sertões. Os seguidores do Conselheiro, sabemos, eram fanáticos, ou se tornaram fanáticos. O próprio líder era fanático, talvez louco, ou enlouquecido, pois só isso explica sua sertaneja utopia, totalmente inviável, como costumam ser as utopias. Podemos até compreendê-los racionalmente, mas neles, no líder e nos liderados, o que não havia de jeito nenhum era racionalidade. Assim como em grupos semelhantes, aqui e no mundo todo. Agora recordo os “Borboletas Azuis”, de Campina Grande, também um movimento messiânico, que pregava, para um certo dia nublado de 1980, 13 de maio, mais precisamente, previsto pelo líder Roldão Mangueira, nada mais nada menos que o fim do mundo. Centenas o seguiram nesse delírio, para logo abandoná-lo quando o fatídico dia 13 foi de sol brilhante – e o mundo não se acabou. Vê-se assim que Antonio Conselheiro e Roldão Mangueira, entre muitos outros, foram influenciadores “avant la lettre”, como dizem os franceses.
Entre os influenciadores, tem de tudo. E entre os influenciados, também. Os que vivem longe desse mundo nem imaginam seus personagens e o que nele rola diariamente, 24 horas por dia. Cora Rónai, em sua coluna semanal de O Globo, informa que Jojo Todynho possui 30 milhões de seguidores. Trinta milhões, sim, caro leitor, você não leu errado. Três vezes a população de Portugal. Mais de dez por cento da população brasileira. E quem é e o que faz Jojo Todynho? Colhi que ela se chama Jordana Gleisi de Jesus Menezes, tem 25 anos, é cantora e tem uma vida, digamos, “movimentada”. E, sim, seu sucesso é devido, claro, à internet (podia ser diferente?). Pois esta moça, que cultiva um padrão de beleza heterodoxo e não sei mais que ideias, influencia – ou diz influenciar – trinta milhões de seguidores.
Já a também célebre Deolane Bezerra, por enquanto descansando numa prisão, tem 20 milhões de seguidores, segundo a citada jornalista carioca. Vinte milhões, parte dos quais saiu de casa para protestar, histericamente, na porta do presídio contra o compulsório recolhimento da moça. Sobre ela, colhi que é advogada e suspeita de ter ligações com o tráfico de drogas, além de esbanjar jóias e de ostentar outros hábitos de luxo. Muito bem. E vou logo para a pergunta que não quer calar: o que tem essa causídica de edificante a ensinar aos seus seguidores? Ensinará ela como se dar bem fora da lei? É possível. Se bem que, face ao seu status atual de prisioneira, sua credibilidade perdeu um pouco de força.
É muito provável que a maioria desses seguidores seja composta por jovens, uma gente influenciável por natureza, sem falar na pouca experiência de vida e no despreparo intelectual. Um público relativamente fácil de conquistar, verdadeiro presente para os tais influenciadores de carteirinha. Mas, sabe-se, tem muito marmanjo e muita marmanja de cabelos grisalhos mergulhados nessa onda. Tolice não tem idade.
Fiquei me perguntando se Luiz Felipe Pondé e Leandro Karnal, por exemplo, possuem tantos seguidores. Desconfio que não. Afinal, estes dois são pensadores, trabalham com temas culturais, história e filosofia, certamente assuntos muito enfadonhos e caretas para os que seguem Todynho e Deolane. Penso também em Carlos Drummond de Andrade, em Manuel Bandeira e Ferreira Gullar. Coitados, não teriam nem um por cento do número de seguidores das duas celebridades. Machado de Assis, nem se fala...
A cantora Annita também é uma exitosa influenciadora. Ídolo declarado de tantas mocinhas sonhadoras e dispostas a seguir o seu exemplo, não só o profissional, mas igualmente o comportamental, neste incluídas, óbvio, suas esdrúxulas e incríveis tatuagens. Imagino que até haja disputas entre os seguidores para ver quem tem o(a) influencer mais influente. Meu Deus.
Não tem nada a ver uma coisa com a outra (ou tem?), mas me veio à mente, sei lá por que, a degenerescência da política brasileira. O partido mais intelectual dos últimos anos, o PSDB, que começou, entre outros, com Franco Montoro, FHC, José Serra e Afonso Arinos de Melo Franco, termina agora melancolicamente com Datena, o da cadeirada.
Aonde isso tudo vai dar? Não posso e nem quero imaginar. Assumido dinossauro quase setentão, consola-me saber que não farei parte desse tenebroso futuro.