As crenças religiosas oferecem conforto físico e mental, e frequentemente estruturam o comportamento e a sensação de propósito de salvação. Em pessoas com esquizofrenia, essas crenças podem ser intensificadas por meio de delírios e alucinações auditivas e/ou visuais. Um exemplo disso são indivíduos que acreditam receber mensagens de Deus, considerando-se profetas destinados a se purificarem de uma maldade ou a adquirir mérito pessoal. Para atingir esses objetivos, é comum que pratiquem atos como o jejum, buscando aliviar o mal-estar físico e mental e, de certa forma, transferir para os outros as causas de seus próprios conflitos existenciais e psíquicos.
A relação entre esquizofrenia e religião abrange aspectos culturais, psicológicos e neurológicos. Essa interação pode ocorrer de diversas maneiras:
▪️ Religião como contexto cultural – A religião é central na vida de muitas pessoas, moldando suas percepções sobre o mundo e sobre si mesmas. Em pessoas com esquizofrenia, os conteúdos dos delírios e alucinações refletem o ambiente cultural em que estão inseridas.
▪️ Delírios e alucinações de natureza religiosa – Nesses casos, há distorções da realidade por meio de delírios. Os esquizofrênicos podem acreditar que falam em nome de Deus ou que possuem missões espirituais extraordinárias. Esse fenômeno é mais comum em sociedades ou comunidades onde a religião tem um papel central na vida das pessoas, levando-as a não questionar tais crenças.
▪️ Religião como fator de proteção e risco – A religião pode desempenhar tanto uma funcionalidade positiva quanto negativa na vida de pessoas com esquizofrenia. Nesse contexto, podemos considerar dois aspectos: Fator de proteção – Para muitos indivíduos esquizofrênicos, a fé religiosa oferece um sistema de suporte emocional e social, ajudando-os a lidar com os desafios da vida, o que pode ser benéfico no enfrentamento da doença mental; Fator de risco - As crenças religiosas podem aumentar os sintomas da esquizofrenia, especialmente quando a pessoa interpreta suas alucinações e delírios como experiências espirituais válidas. Isso pode dificultar o tratamento, já que o paciente pode resistir às abordagens terapêuticas tradicionais, acreditando que suas experiências têm um significado espiritual. Além disso, certas práticas religiosas, como o isolamento ou o jejum prolongado, podem agravar os sintomas da esquizofrenia, aumentando o sofrimento psicológico.
A neurociência busca compreender como as experiências religiosas e espirituais se relacionam com o funcionamento cerebral. Algumas hipóteses sugerem que áreas específicas do cérebro, como o lobo temporal, estão envolvidas tanto nas experiências espirituais quanto nas alucinações e delírios. Diagnosticar a esquizofrenia em indivíduos religiosos exige uma distinção entre crenças religiosas culturalmente aceitáveis e delírios patológicos. No caso da esquizofrenia religiosa, o tratamento deve ser conduzido com respeito pelas crenças espirituais do paciente. Além do uso de medicamentos antipsicóticos e da psicoterapia. A psicoterapia pode auxiliar o paciente a explorar suas crenças de forma a distinguir entre fé e delírios patológicos. Desafiar as crenças do esquizofrênico pode gerar resistência e desconfiança em relação ao tratamento. Os profissionais de saúde mental, em alguns casos, podem ser necessários incluir símbolos religiosos de confiança do paciente no processo terapêutico, de modo a ajudá-lo a recuperar o senso de realidade, sem desrespeitar suas tradições.