Nas manhãs de sábado, quase sempre acontece, ao redor de mesas na Livraria do Luiz, na Galeria Poeta Augusto dos Anjos, conversa em torno da literatura, das artes, da poesia, da política e questões atinentes ao nosso País.
Há cinco décadas, no terraço da casa de Nathanael Alves um seleto grupo costumava se reunir; geralmente, aos sábados ou domingo à noite, para conversas sobre arte, cultura e outros temas relevantes, sem que o tino dos debates mudasse de rumo.
Lembrando desses encontros, do terraço de Nathan e da Livraria, vem à memória o debate acerca do sentido da arte, da criação literária, da criação poética. A poesia, como uma criação filosófica que exprime o universo da alma, sempre me chamou a atenção. No dizer de Aristóteles, a arte imita “as emoções e as ações” do espírito.
Foi a partir dos encontros na casa do querido mestre Nathanael que cada vez mais passei a gostar de poesia. Encontrando poesia em tudo, como na Superlua da Primavera deste ano.
Quando eu andava pelas veredas de Tapuio, o sítio onde nasci e vivi até os 15 anos, na escassez de livros, era na natureza que encontrava os ingredientes para transpor minhas lucubrações noturnas. Sem saber, vivia nessas vigílias, acordava com o sentimento de que nos passeios pelo campo compunha os versos que nunca coloquei no papel.
A criação do poema ou outra manifestação da arte chegam, mansamente, quando alguma coisa ao redor nos toca.
Na poesia, mais do que em outra forma de expressão artística, deve-se colocar somente o sopro do espírito, reto, para tentar expressar a energia da criação.
O homem que trabalha com a palavra ou com o pincel tem sua matéria-prima no que observa, nos sentimentos e nas falas que escuta. Nisso consiste o adágio de que a arte imita a vida. Para Taine, “a arte toda inteira consiste na exata e completa imitação”.
Estamos sempre em busca da poesia escondida. Quem entende isso, não estará longe de compreender o sentido da arte; a força que resiste aos nossos impulsos.
Na Natureza que nos rodeia, com todos os seus esplendores e encantos, e sob a Abóbada celeste com seu mistério, dando suporte aos astros e estrelas, temos a universalidade da poesia divina a alimentar nossa capacidade criadora e nossa vontade meditativa. Todo o conjunto do Universo, com o dia e a noite, com a chuva, o calor e a ventania, com tudo que nele se encontra, é a Poesia do Criador, sempre a conversar conosco, a seu modo.
Em um desses encontros na livraria, em calma manhã de sábado, quando a conversa reversou sobre Taine, o professor João Trindade assim se expressou: “A arte, sobretudo a literária, não nasce do acaso, mas sim, de uma junção de inspiração e trabalho ordenado”.
“No caso específico do escritor, ele fantasia, sim, a critério do gosto e do mundo dele”, comentou.
Concordo com Trindade de que “a literatura parte da realidade, e, embora contenha ficção, obedece a parâmetros mínimos de qualidade”. Naquela ocasião, ele acrescentou: “Para isso o autor, em prosa ou em verso, não pode prescindir da técnica e de uma ordem pré-estabelecida”.
Para Trindade, quanto ao público, quando este julga, “leva em conta (às vezes, até inconscientemente), critérios pessoais, que são, evidentemente, passageiros”.
Outro ponto com o qual o professor e eu concordamos se refere ao instante em que o autor escreve, porque, nesse momento, “este tem que ter consciência de que aquele texto não é mais dele e sim do mundo” e que “cada leitor interpreta a mensagem da maneira que entende. “E aí é que reside a grandeza do verdadeiro artista: ter plena consciência disso”.