Por onde tenho andado, a primavera não tem dado o ar da graça, pelo menos os indícios de que está às portas. O desequilíbrio acentuado e as mudanças no meio ambiente certamente devem ter modificado sensivelmente a vida do planeta e vivemos todos os reflexos desse cenário que acaba por transformar o comportamento da natureza.
No semiárido, por esses dias, já tínhamos um potente início das floradas. Pelo menos entre o alto da Borborema e a região do alto sertão parahybano não se tem sequer convivido com o
Samuel Simões de Melo
– Thomas, pergunte a qualquer sertanejo nativo quando é o tempo de gripe no sertão que lhe dirão que é quando a jurema está florando. Sábias palavras de quem tem extrema sensibilidade em observar o comportamento da natureza.
Me pergunto onde estão os flamboyants, os jasmins? Nem mesmo as chananas (branquinhas) e jitiranas (roxas) que dão cor aos matos que crescem vadios nos terrenos baldios estão por aí. No meu Cariri particular, meu pequeno jardim, a flor do deserto não desabrochou. O buquê de noiva também não.
Setembro chegou, já estamos em outubro e mais parece que agosto ainda não terminou. Vem-me à mente uma frase enigmática do amigo brejeiro José Nunes: “carrego a primavera comigo” em crônica (A Primavera e a Musa) escrita para o prestigioso jornal A União. Onde estão os ipês amarelos enfileirados na avenida Floriano Peixoto do contorno da Dinamérica até os limites do centro da cidade? Nos últimos dias, o que me resta é contemplar a trepadeira lenhosa Bougainvillea de Dona Rilene, minha vizinha bem defronte a minha casa. Sempre ao sair e ao chegar, eu saúdo essa planta colorida, mesmo sabendo que o que parecem flores rosas, são na verdade folhas modificadas com cores bem chamativas com a função de atrair os polinizadores, dando a ideia de que são pétalas. Sábia natureza...
PxH
Melancólico e sorumbático, peito apertado, recebo pelo correio o livro ‘Pontes, céus e miragens’ (Patriani, 2024), do amigo Paulo Atzingen. Por acaso paro na página 100 em que ele majestosamente escreve em visita que faz a Santiago, no outro lado dos Andes:
“Sobre elas [as cordilheiras] salpico várias pitadas de neve eterna e puxo o sol de primavera para iluminá-las à tardinha”. Ah Paulo, a primavera não chegou, mas chegaste em boa hora.