Iracema de Dona Ceiça foi, nos seus verdes anos e até lá para frente da adolescência, criatura de bons modos, obediente aos pais, ...

Ceminha de Pombal

Iracema de Dona Ceiça foi, nos seus verdes anos e até lá para frente da adolescência, criatura de bons modos, obediente aos pais, respeitosa com os mais velhos, educada com quem quer que fosse de sua convivência e, o que não podemos esquecer, temente a Deus. Na escola sempre esteve ali na média, jamais se destacou quanto ao aproveitamento, mas reprovada de jeito nenhum.
Nunca foi de exibir belezura, mas feia também não era. Podemos dizer que Ceminha era em tudo, mais ou menos.

Só que a vida não foi mais ou menos com Ceminha, durante um bom tempo foi madrasta mesmo. Contam que lá em Pombal, um mocetão, filho de uma autoridade local, desencaminhou a moça e depois não quis assumir o mal feito. Ceminha pegou bucho do rapaz e transcorridas as quarenta semanas de prenhes colocou no mundo um bacurizinho que, não legitimado nos cartórios, ficou aos cuidados de Dona Ceiça enquanto Ceminha pegou o beco para escapar do falatório das comadres locais. Ganhou o mundo. Estava então, beirando os vinte anos.

Isso para resumir a primeira parte da vida dessa nossa desafortunada sertaneja, porque a segunda também não foi lá essas coisas. Tentou um emprego aqui, uma colocação mais adiante e nada. A verdade é que desde que chegara à capital, passou, como dizem, o pão que o diabo amassou. Não fosse um dinheirinho que Dona Ceiça mandava semanalmente, nem sei o que seria de Ceminha.

Precisavam ver só a alegria dessa senhora quando recebeu uma carta da filha comunicando que arrumara emprego como secretária no escritório de um advogado. Nada disso. Desacorçoada em procurar em vão alguma oportunidade, Ceminha descoloriu os cabelos e foi ganhar a vida lá no Golden Horse, um cabaré às margens da estrada para Cabedelo. À época esse lupanar era dirigido por Dona Grace Kelly, que gerenciava a casa e a vida de mais de uma dezena de meninas, com Ceminha chegando para engordar o plantel.

Vamos a Jurandy, outro personagem dessa história. Metido a poeta, era o maior “um sete um”, que já se viu. Trambiqueiro, especialista em ludibriar quem estivesse ao seu alcance, passador de cheques sem fundos e outras malandragens desse jaez. Aqui um detalhe importante: gostava de frequentar cabarés. Então, já vimos que a vida dele e de Ceminha um dia iriam se cruzar. Foi o que aconteceu.

Uma noite, perfumado como filho de barbeiro, aparece no cabaré (estou falando do Golden Horse) e já chegou lá todo exigente, querendo saber quem era Ceminha de Pombal, pois era com ela que queria ficar. Ceminha se apresentou. Ocuparam uma mesa, beberam umas coisinhas, e foram loguinho para os finalmentes.

Na hora de pagar pelo serviço foi generoso.


Na semana seguinte, lá aparece Jurandy.


Tudo como na semana anterior. Na hora de pagar:


Assim foi na semana posterior, na seguinte e na subsequente também. Dona Grace Kelly ficou invocada. Na quinta vez, não suportou a curiosidade e chamou Jurandy para um particular. As meninas estavam querendo saber o que estava acontecendo e ela também. Ceminha não tinha nada de especial e qual a razão de tanta generosidade.


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