Muitos talentos ficam ao léu da vida promissora por falta de oportunidades. As oportunidades chegam, mesmo que demore, mas chegam. Bom...

À sombra de Padre Zé

padre ze coutinho
Muitos talentos ficam ao léu da vida promissora por falta de oportunidades. As oportunidades chegam, mesmo que demore, mas chegam. Bom quando existe alguém para pegar pela mão e conduzir aos lugares onde brotam leite e mel, conforme a narrativa bíblica do Antigo Testamento.

Esses momentos demoram, mas chegam. Se preparar e saber esperar, pacientemente, é o caminho para as vitórias. Olhar ao horizonte com o pensamento voltado para o ponto luminoso, mesmo distante, faz parte da paisagem da vida. Por mais distante que esteja, nunca se deve perder de vista o ponto luminoso do infinito escuro.

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Firdaus Roslan
Quando trabalhava na roça no sítio Areial, em Arara, o suor descendo pelo rosto e as mãos ardendo ao atrito do cabo da enxada no cascalho, Nathanael Alves viu uma estrela brilhar à sua frente, sem saber onde ficava.

O jovem Nathanael brocava mato, preparava o roçado, sabia xaxar feijão com o caco de enxada fixado ao cabo de freijó, tratava da vaca que fornecia o leite que vendia na cidade, e era talentoso nos estudos, tinha pendor para as letras, o que chamou a atenção do Cônego Teodomiro de Queiroz, padre da Freguesia.

A enfermidade que ganhou em uma perna o fez habitar por um curto período na casa dos meus avôs. A queimadura no pé
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Nathanael Alves Acervo do autor
proveniente de uma traquinagem com o primo José Avelino, abriu a possibilidade de conhecer Padre José Coutinho, que dava guarida aos pobres.

Em carta ao Padre José Coutinho, atendendo solicitação do fazendeiro Marísio Moreno, este sacerdote apelou para que Nathanael Alves fosse acolhido na Casa do Padre, uma espécie de Pensão Camarada, onde viviam muitos arrimos de família.

Nathanael Alves foi um dos muitos jovens que encontraram rumo na vida a partir da acolhida do Padre Zé. Padre José Coutinho nunca deixou de reconhecer os talentos daqueles que estiveram sob sua proteção e amparo. Nathanael foi um destes.

Quando aprovado em concurso para o Tribunal Eleitoral da Paraíba, em 1954, não poupou elogios ao seu pupilo, ressaltando seu talento e demonstrou confiança de que este filho
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Instituto São José - Padre Zé
de Arara conquistaria espaços na atividade profissional, no Judiciário Eleitoral ou no Jornalismo, como realmente aconteceu.

Desde seu nascedouro, o Instituto Padre Zé, com sua Casa do Padre e o Hospital sempre tiveram suas goteiras e panelas vazias, uma pobreza semelhante aos lugares de onde chegavam seus hóspedes, porque não tinham onde cair morto. Centenas de degredados na própria terra foram acolhidos, comiam do mesmo pirão e, à sombra de suas paredes, armavam suas redes e encontraram agasalho para criaram seus próprios voos.

Ao tempo em que para manter sua obra era um-deus-nos-acuda, recorria aos abastados da sociedade e, quando não mais podia se deslocar, usava a cadeira de rodas para percorrer os pontos de maior aglomeração de pessoas para, com sua vareta de madeira, tocava na gente e pedia “a esmola para seus pobres”, no intervalo de cada pigarro.

Poucos ou quase nenhum dos seus filhos adotivos se perderam pelo caminho. Ele apontou os caminhos para muitos Augustos Matracas procedentes dessas brugéias paraibanas.

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Padre Zé, com chapéu e varinha na mão ▪ @hospitalpadreze
Pouco tempo depois de ordenado, Padre José da Silva Coutinho iniciava nos anos de 1930 a implantação de obra que logo ganhou dimensões. Com enorme repercussão junto à sociedade, ele acolheu e encaminhou à vida muitos que continuariam molambos não fosse sua mão estendida.

Da árvore que se tornou saíram jornalistas, desembargadores, médicos e profissionais que atuaram em diferentes atividades. Quem esteve à sua sombra, nunca sentiu calor, frio ou passou fome. Ele caminhava pelas ruas pedindo esmolas para o sustento de sua obra. Uma obra missionária de inigualável valor caritativo.

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Padre Zé ▪ 1897-1973
No mês missionário instituído pela Igreja, com forte apelo do Papa Francisco para essa iniciativa, é bom lembrar do Padre José Coutinho. Missionário que deu o peixe, mas também ensinou a pescar, como manda o Homem de Nazaré.

No dia de finados é oportuno lembrar deste missionário que, à porta do Cemitério Senhor da Boa Sentença, estendia a mão para recolher os donativos. Justamente em um dia quando se encontrava em sua cadeira de rodas mendigando em favor dos pobres sob sua proteção, que passou mal, levado ao hospital, faleceu dias depois.

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