Roma levou perto de quatro séculos para estender seus domínios por quase todo o mundo conhecido de então: de 241 a.C., com a conquista da Sicília, até o ano 107 da era cristã, com a colonização da Dácia.
Com a decadência de Roma e com a invasão dos bárbaros, no séc. V, o Império Romano do Ocidente se esfacelou. O do Oriente – chamado também de Império Bizantino – só caiu em meados do séc. XV (1453), com a tomada de Constantinopla pelos turcos, marcando o fim da Idade Média.
A região mais oriental da Europa, pertencente aos domínios romanos, era a equivalente à Romênia atual, cuja língua – o romeno –, embora latina, tem grande parte de seu léxico constituído de palavras eslavas.
A região mais ocidental do Império Romano era o que hoje se chama Portugal. Quando Olavo Bilac escreveu seu famoso soneto “Língua Portuguesa”, incluído no seu livro Tarde, de 1919, seu primeiro verso, mais famoso que o soneto todo – “Última flor do Lácio, inculta a bela” –, foi mal interpretado. Acreditaram, ingenuamente, que Bilac queria dizer que a língua portuguesa foi a última a sair do latim (o Lácio foi o berço do Império Romano). Ora, quando ocorre a dialetação de uma língua entregue às próprias derivas, sem o freio dos gramáticos a retardar-lhe a múltipla evolução, os dialetos se formam simultaneamente. Assim, quando o latim, depois do fim do Império Romano do Ocidente, ficou entregue às suas derivas, houve uma época em que, nas diversas regiões do ex-Império Romano, já não se falava o latim vulgar, e a língua que se falava, dele originada, não era ainda uma língua neolatina atual. Era o romanço ou romance, nome que designa a língua que, a partir do séc. V, já estava distante do latim vulgar imperial. O romanço português vai do séc. V ao séc. IX. Existem tantos romanços quantas são as línguas neolatinas atuais: francês, português, espanhol, provençal, italiano, galego, rético (reto-romano ou ladino, falado no cantão suíço dos Grisões e no Tirol), o dalmático, o romeno, o sardo e o catalão (das ilhas Baleares).
Ora, o verso de Bilac significa que a língua portuguesa é a última língua latina da Europa Ocidental, porque, depois de Portugal, não existem mais terras conquistadas pelos romanos, mas apenas o Oceano Atlântico. Supor que “última flor” signifique que é a última língua a sair do latim é supor, ingenuamente, que uma língua se comporte, na dialetação, como uma cadelinha parideira: um filhote após o outro! Se estendêssemos ao Leste Europeu o verso de Bilac, o romeno é que seria contemplado: é a ultima flor do Lácio da Europa Oriental.