A última chuva abraça a primavera trazida por ventos que lembram agosto. Contudo, as pessoas continuam a seguir em frente alheias às passadas do tempo. Flores, carros e relógios são dispositivos da vida rumo a uma finitude desconhecida, por mais que se finjam certezas sobre o instante seguinte ao fechar os olhos.
Agora giram as estações e começou uma nova corrida. O tempo soa como batidas de pregos na parede, martelando que é preciso aproveitar. O sorriso será o último até que se possa cruzar um novo momento, uma nova oportunidade, caminho onde a certeza é o presente e o resto é só dos incertos e das incertezas.
Até lá, avance novas casas porque o precipício sempre estará atrás das passadas, esperando para engolir tudo que pare de se mover. A jornada é mesmo sem volta e os retornos e os contornos não devolvem qualquer tempo ao tempo.
A única fórmula da juventude é capturar o som da música, sentir a chegada das flores, o toque da ventania, o aroma do mar se debatendo em ondas, o gosto do café, o sorriso do cão amigo... Tudo pela última vez até uma nova chance que permita um reencontro. As presenças importam.
Sobre os tempos, não há sobra de tempo. O resto é o todo que se possui, onde cai por terra projeções não exibidas como se estivessem numa ampulheta que não se pode virar e reiniciar, onde cada grão só descerá pelo espaço uma única vez, pois... o tempo só conhece marcha à frente.
Agora, teste os botões da máquina voadora para aproveitar a força do furacão que sacode como uma montanha russa sem rota ou destino definidos, exceto a plataforma de partida. O tempo de duração é por toda a vida: relaxe anestesiadamente como se flutuasse nos braços de Afrodite, Netuno ou Morfeu e aproveite.
Que o amor, o mar e o sono sejam proveitosos para todos, como os corpos em uma tempestade que leva à calmaria, como os olhos em suave reflexo do balanço das ondas na tranquila estrada de luz nas águas do mar durante o anoitecer. Que sempre haja tempo para se reencontrar nos tempos.