Dias atrás, comecei a receber convite dos meus filhos e amigos para encontro no Threads. Abri o tradutor do Google e grafei a palavra, vagarosamente, letra por letra, segundo a segundo, posto que somente consigo usar um dedo nesses tecladinhos milimétricos, difíceis, irritantes. Os da outra mão servem-me nessas ocasiões para segurar o telefone. Pois bem, depois de digitado o “a”, o aplicativo traduziu: “ameaça”. Mas, para meu sossego, ainda faltavam o “d” e o “s” por mim completados passado o susto.
E o tradutor me disse que threads, assim advindo do inglês, pode ser tópico, linha ou filamento, algo com o sentido da conexão.
Como isso em nada me ajudou, telefonei para o filho graduado em ciências da computação. “Pai, isso é uma nova rede social. É coisa criada pelo grupo Meta para competir com o finado twitter”, ouvi dele. “Topo, convite aceito”, respondi.
Percebo, desde então, que entrei num ambiente esquisitíssimo para os que, a meu exemplo, andem em marcha larga para a oitava década da existência. “Já lhe mandei quinze mensagens e você não respondeu. Agora, se quiser contato comigo, você que me procure”, reclamou uma menina bonita a quem não se pode dar mais de vinte anos. Acho que tenho sapatos mais velhos do que ela.
“Você quer ser meu amigo?”, perguntou-me outra na mesma faixa etária, dona de olhos, boca e pernas de atriz de cinema. E outras e outras mais a esta assemelhadas. Uma senhora de meia idade procurava a alma gêmea, alguém com quem pudesse dividir um vinho, um livro, um sofá. Quem não quer isso? Espero que a sorte lhe sorria, pensei comigo mesmo sem nada a ela dizer.
Logo me dei conta de que a fauna que habita a internet não é uma exclusividade do Threads. Bastou-me a lembrança de que eu já fui abordado por belíssimas oficiais da Marinha de Guerra dos Estados Unidos por meio do velho e confiável (por assim dizer) Facebook.
Também me vieram à memória o número e a cara de um Helder Moura felicíssimo, no Messenger, pelo prêmio de 300 mil dólares a ele conferido pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos, o DHHS dos americanos, via Agent Mark, um sujeito de olhos azuis, cuidadosamente penteado e elegantemente vestido. Nem deu tempo para as felicitações ao meu caro Helder, a quem telefonei, em busca de detalhes sobre o prêmio e o premiador. “Usaram minha foto e meu número. Fui raqueadooo”, lastimou-se meu amigo. Já contei essa história por aqui.
Internet é fogo, minhas e meus camaradas. As meninas do Threads que me perdoem, mas continuarei sem responder a todas elas, embora uns restinhos de boa fé me façam crer em que sejam relativamente poucos os perfis falsos nesta e noutras redes. A bem da verdade, minha recusa à mínima conversa com essas moças sempre estará, em termos matemáticos, na razão indireta das suas saias e biquinis: quanto mais diminutos forem, maior se fará a minha desconfiança.
Sobretudo, depois de ver matéria da BBC na qual um repórter londrino identifica uma rede criminosa por trás dessas abordagens. O moço aceitou uma amizade, deu trela à menina, fez e escutou confidências. Dias depois, ouviu dela sobre a maravilha do investimento em bitcoin, assim chamada a moeda digital, coisa sem existência física, sem controle bancário nem lastro em ouro em lugar nenhum do mundo.
Ele já havia descoberto que as fotos que então lhe chegavam eram, na realidade, de uma europeia sem vínculo nem semelhança com aquela com quem trocava suspiros e segredos. Identificou-se como repórter, contou que trabalhava na identificação do crime e dos criminosos e, de pronto, o golpe passou a ser outro. A interlocutora, aos prantos, dizia que fora obrigada a enganá-lo, que estava nas mãos de marginais e sofria estupros constantes. Ao demonstrar seu descrédito, a conexão foi interrompida. Não obteve mais respostas.
Eu, você e a torcida do Flamengo decerto sabemos de relacionamentos sérios iniciados pela internet e continuados por toda a vida com passagens pelo altar, ou pelo juiz de paz. Pessoalmente, mantenho amizade estreita com dois belos casais. Ambos se conheceram por meio dessas redes. Sei, então, da infinidade de coisas boas que nos propicia uma Internet indispensável ao mundo moderno.
Mas sei que o diabo agarra com firmeza a parte que lhe cabe nesse latifúndio. Nela, há rios de piranha com águas perigosas nas quais todos os jacarés devem nadar de costas, como prega a sabedoria popular. Portanto, previnamo-nos.
Chegou-lhe, meu dileto contemporâneo, uma garota interessada nos seus cabelos brancos e no seu reumatismo? Fuja dela. Não for por uma questão de decência, que seja por cautela justa, pronta e necessária. É conselho, aliás, que também vale para os mais jovens, se a oferta for daquelas que fazem o santo desconfiar. Se a areia for muita para seus caminhõezinhos, meus garotos, deem marcha à ré. Ah, os ditos do povo, como, muitas vezes, podem ser úteis.
Fala-se, frequentemente, da esperteza dos ladrões de dados pessoais e bancários, dos especialistas na clonagem de perfis, celulares e cartões. Mas, pensando bem, não é muito inteligente fazer uma menina fingir interesse por alguém com idade equivalente à de seus pais, ou avós. Eu desconfiaria delas mesmo se me chegassem para pedir a bênção. Não ajo bem?