A angústia, conforme apresentada pelo filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788–1860), está relacionada à sua visão pessimista da existência humana e do mundo. Segundo ele, os seres humanos são escravos de seus próprios desejos. Ao satisfazer um desejo, imediatamente surge outro, de modo que se vive em um estado de insatisfação constante. Além disso, o pensador observa que o mundo está repleto de injustiças e violências,
tornando a existência uma fonte contínua de sofrimentos. Sua obra mais conhecida, O Mundo como Vontade e Representação, publicada em 1819, explora esses temas. O livro é dividido em quatro partes: o primeiro capítulo é dedicado à teoria do conhecimento, o segundo à filosofia da natureza, o terceiro à metafísica do belo e o quarto à ética.
A filosofia de Schopenhauer é fundamentada no que se conhece do mundo, que é apreendido pelos sentidos e organizado subjetivamente. A razão, segundo ele, apenas forma ideias abstratas com base nos dados empíricos. É a inteligência, presente em todos os seres vivos, que identifica uma causa externa para as impressões sensoriais, embora de forma inacessível. Desse modo, o ser humano só tem representações do mundo, impedindo que alguém o conheça em sua essência. Para Schopenhauer, esse mundo é uma ilusão, e o indivíduo não deve preocupar-se com ele, mas, ao contrário, deve repudiá-lo.
O pensador também propõe que não se deve negar a via aberta pelos atos voluntários. Ao utilizar seu corpo, o ser humano se torna simultaneamente um objeto representado e uma vontade que se manifesta nas ações, sem que estas estejam sujeitas às leis de causa e efeito. A Vontade manifesta-se de forma específica nos seres humanos, mas todos os fenômenos seriam expressões dessa mesma Vontade, um impulso irracional para a vida, desprovido de propósito. Essa força não permite que se conheça a realidade intrínseca das coisas ou qualquer sentido compreensível. Para Schopenhauer, a Vontade é insaciável e irracional, levando o ser humano a desejar constantemente. O desejo, por sua vez, é a fonte do sofrimento. Seu pessimismo moral reflete a crença de que o sofrimento é inerente à condição humana, e que a vida é uma luta constante entre o desejo insaciável e a inevitável insatisfação.
As características da angústia em Schopenhauer podem ser resumidas desta forma:
🍃 Insatisfação contínua: A vida é uma alternância constante entre o desejo e sua frustração. Quando se deseja algo, sofre-se pela sua ausência; e, ao alcançar o objeto do desejo, há o confronto com o tédio. Esse ciclo de desejo, frustração e tédio gera uma angústia contínua, uma vez que a satisfação plena é impossível.
🍃 Sofrimento como regra: O sofrimento é, para Schopenhauer, a norma da existência. A própria natureza da Vontade, que impele o ser humano a buscar sempre algo, leva inevitavelmente ao sofrimento. Assim, a vida é marcada por uma angústia permanente, sem resolução completa.
🍃 Ilusão do prazer: O prazer é visto por Schopenhauer apenas como uma pausa temporária no sofrimento, jamais como uma solução. Mesmo as experiências prazerosas são efêmeras, e logo que são alcançadas, a Vontade impulsiona o ser humano a desejar outra coisa, perpetuando o ciclo de angústia.
🍃 Negação da Vontade como solução: Schopenhauer sugere que a única forma de escapar de um ciclo de sofrimento e angústia é pela negação da Vontade. Esse estado seria alcançado ao abandonar o desejo, e o filósofo propõe que isso pode ocorrer através da contemplação estética, da compaixão ou do ascetismo, meios pelos quais o indivíduo se liberta da incessante busca por satisfazer seus desejos.
Schopenhauer encontra na arte, especialmente na música, uma possibilidade de transcendência. A música, ao seu ver, pode retirar o ser humano do tempo, do espaço e até do próprio corpo, proporcionando uma momentânea fuga do pessimismo da existência. Assim, ele propõe que, em sua essência, tudo e todos são um. Esse entendimento abre caminho para a identificação com o outro, a compaixão e o amor.
Finalizo com o poema “Caçador de Mim” composto pelo músico e poeta carioca Francisco Sérgio de Souza Medeiros (1950)
Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim
Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim
Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura
Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir o que me faz sentir
Eu, caçador de mim.